O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Seção Temática

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Natureza do Cristo


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CRISTO. (Natureza do) — O Espiritismo não é contrário à crença dogmática relativa à natureza do Cristo e, neste caso, pode dizer-se o complemento do Evangelho se o contradiz?

A solução desta questão toca apenas de maneira acessória o Espiritismo, que não tem que se preocupar com dogmas particulares de tal ou qual religião. Simples doutrina filosófica, não se arvora em campeão, nem em adversário sistemático de nenhum culto e deixa a cada um a sua crença.

A questão da natureza do Cristo é capital do ponto de vista cristão. Não pode ser tratada levianamente, e não são as opiniões pessoais, nem dos homens, nem dos Espíritos, que a podem decidir. Em assunto semelhante, não basta afirmar ou negar: é preciso provar. Ora, de todas as razões alegadas pró ou contra, não há nenhuma que não seja mais ou menos hipotética, desde que todas são controvertidas. Os materialistas não viram a coisa senão com os olhos da incredulidade e a ideia preconcebida de negação; os teólogos, com os olhos da fé cega, e a ideia preconcebida da afirmação; nem uns, nem outros estavam em condições necessárias de imparcialidade; interessados em sustentar sua opinião, viram e procuram o que a ela poderia ser favorável e fecharam os olhos ao que lhe podia ser contrário. Se, desde que a questão é agitada, ainda não foi resolvida de maneira peremptória, é que faltaram os únicos elementos que lhe podiam dar a chave, absolutamente como falta aos sábios da Antiguidade o conhecimento das leis da luz, para explicar o fenômeno do arco-íris.

O Espiritismo é neutro na questão; não está mais interessado numa solução do que na outra: marchou sem isto e marchará ainda, seja qual for o resultado; colocado fora dos dogmas particulares, não é para ele questão de vida ou de morte. Quando a abordar, apoiando todas as suas teorias nos fatos, resolvê-la-á pelos fatos, e em tempo oportuno. Se tivesse urgência, ela já estaria resolvida. Os elementos de uma solução hoje estão completos, mas o terreno ainda não está preparado para receber a semente. Uma solução prematura, fosse qual fosse, encontraria muita oposição de parte a parte, e alienaria ao Espiritismo mais partidários do que os conquistaria. Eis por que a prudência nos impõe o dever de nos abstermos de toda polêmica sobre o assunto, até que estejamos certo de poder pôr o pé em terreno sólido. Enquanto se espera, deixamos que discutam pró e contra fora do Espiritismo, sem nisto tomar parte, deixando que os dois partidos esgotem os argumentos. Quando o momento for propício, levaremos para a balança, não a nossa opinião pessoal, que não tem nenhum peso, nem pode fazer lei, mas fatos até este momento inobservados, e então cada um poderá julgar com conhecimento de causa. Tudo quanto podemos dizer, sem prejulgar a questão, é que a solução, em qualquer sentido em que for dada, nem contradirá os atos, nem as palavras do Cristo, mas, ao contrário, os confirmará, elucidando-os.

Assim, aqueles que nos perguntam o que diz o Espiritismo sobre a natureza do Cristo, respondemos invariavelmente: “É uma questão de dogma, estranho ao objetivo da Doutrina.” O objetivo que todo espírita deve ter em mira, se quiser merecer esse título, é seu próprio melhoramento moral. Sou melhor do que o era? Corrigi-me de algum defeito? Fiz o bem ou o mal ao próximo? Eis o que todo espírita sincero e convicto deve perguntar. Que importa saber se o Cristo era Deus ou não? se se é sempre egoísta, orgulhoso, ciumento, invejoso, colérico, maldizente, caluniador? A melhor maneira de honrar o Cristo é imitá-lo em sua conduta. Quanto mais se o eleva no pensamento, menos se é digno dele e mais se o insulta e o profana fazendo o contrário do que ele diz. O Espiritismo diz aos seus adeptos: “Praticai as virtudes recomendadas pelo Cristo e sereis mais cristãos que muitos dos que tal se dizem.” Aos católicos, protestantes e outros, diz: “Se temeis que o Espiritismo perturbe a vossa consciência, não vos ocupeis dele.” Ele não se dirige senão aos que a ele vem livremente, e dele necessitam. Não se dirige aos que têm uma fé qualquer e que esta fé basta, mas aos que não a têm ou que duvidam, e lhes dá a crença que lhes falta, não particularmente a do Catolicismo, do Protestantismo, do Judaísmo ou do Islamismo, mas a crença fundamental, base indispensável de toda religião. Aí termina o seu papel. Estabelecida esta base, cada um fica livre de seguir a rota que melhor satisfaça à sua razão. — Nota de Allan Kardec, Codificador do Espiritismo, extraída da Revista Espírita de 1867.


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