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Livro dos Cânticos


TEMAS CORRELATOS: Antigo Testamento. | Salomão.

Canção das canções ou Cantares de Salomão. — O último dos cinco livros poéticos do A. T., em nossa presente Bíblia. Este disposição é derivada da Septuaginta. Nas Escrituras hebreias a Canção permanece entre Job e Ruth, na terceira seção do cânon, e é um dos cinco rolos pequenos que formavam um grupo sem destaque porque eles deveriam ser lidos nos cinco grandes aniversários. Os Cânticos eram lidos no oitavo dia do festival de Páscoa, o livro era alegoricamente interpretado como referência à história do êxodo. Os Cânticos de Salomão são hiperbolamente chamados Canção de Canções de Salomão. A reduplicação da palavra canção não foi planejada para denotar que é uma coleção de muitas canções, nem que seja a principal das muitas canções de Salomão, mas tem força superlativa, como empregado de empregados, santo dos santos, Senhor dos senhores, céu dos céus, vaidade das vaidades (Gn 9.25; Ex 26.33; Dt 10.17; 1 Rs 8.27; Ec 1.2), e designa que a produção é uma canção de caráter elevado. Na Vulgata o título é Canticum Canticorum literalmente traduzido, de que o nome Cântico é derivado.


Vários locutores tomam parte no diálogo. A distinção entre eles é bastante clara no original hebreu, porque as formas gramaticais indicam o gênero. A Versão Revisada marca a mudança de locutor pelo espaço entre os versos ou seções, quantos personagens proeminentes existem no poema? existem dois, além das filhas de Jerusalém, que se assemelham ao coro num teatro grego; ou existem três realmente falando com a introdução de Sulamitis nas conversas? de acordo com a visão posterior de forma geral, os três locutores principais são uma trabalhadora do campo, seu amante rústico, e Salomão. Ela é noiva do campesino; mas é notada por Salomão e seus companheiros durante uma pequena jornada para o norte (6.10-13), trouxeram-na para Jerusalém e lá, cercada das mulheres do palácio, é galanteada pelo rei na esperança de ganhar-lhe seus afetos. Mas a campesina resiste a todas as tentações. Quando Salomão a louva, ela responde louvando seu amante rústico. Ela o anseia de dia, e sonha com ele de noite. Ela sustenta sua devoção por ele recordando suas falas. Ela é fiel a ele e mantém seus votos. Extensivamente os amantes separados são reunidos (8.5-7), e ela é louvada por seus irmãos por ter resistido a todos argumentos. Ao longo da história Salomão aparece levemente desfavorável. Ele tenta persuadir a campesina a abandonar sua submissão (7.1-9), de forma que comete pecado maior. O poema, de acordo com esta visão, celebra um afeto puro, que resiste contra as tentações de uma corte, e é forte o suficiente para resistir às artes sedutoras de um rei.


Esta interpretação, que é conhecida como a hipótese do pastor, busca suporte em expressões de Sulamitis, que são citadas como exclamações apaixonadas para seu amante distante (1.4,7; 2.16). Mas tudo é muito mais simples nestas passagens e ao longo do poema, se as declarações de amor de Sulamitis estão em todos os casos referidos pelo próprio rei Salomão. Uma simples empregada rural não tem nenhuma concepção adequada da vida real e suas ocupações. Ela pensa sobre o rei, como pastor das pessoas (cp. Jr 33.4), com a imagem de um pastor rústico em suas colinas nativas, e ela trata-o no idioma empregado pelo pastor numa vida a qual está familiarizada. E em todos os lugares ela naturalmente desenha a imagem da vida de montanha pastoril e hortícola com que ela estava acostumada. Em vez Sulamitis parecer como uma menina rural, alguns intérpretes, especialmente na Inglaterra, veem-na como a filha do Faraó com quem Salomão se casou. Ela é estrangeira, de aparência escura, e filha de príncipe (1.5; 7.1). A negridão da pele, porém, era devido a queimadura de sol (v. 6), e o título de filha do príncipe provavelmente não indica seu nascimento, que era aparentemente humilde (ibid. 2.9), mas seu estado presentemente alto em relação ao em que foi criada (cap. 6.12; 1 Sm 2.8), filha querendo dizer fêmea ou mulher em geral (cp. Ct 6.9; 1 Sm 1.16), e a frase significando “mulher nobre.”


O livro dos Cânticos foi considerado como um drama. Poucos, porém, imaginam que era assinalado para apresentação no palco. Foi pensado consistir em quatro atos (Ewald e Friedrich), ou de cinco atos que contêm de treze a quinze cenas (Ewald, Böttcher, e outros), ou de seis atos com duas cenas cada (Delitzsch, Hahn). Bossuet descobriu sete atos, cada um por dia, concluindo com o sábado sagrado, considerando que o noivo neste dia, como sempre,  não vai para seu emprego rural. Seus vários dias são : I. de 1.1 até 2.6; II.  2.7-17; III. 3.1 até 5.1; IV. 5.2, até cap. 6.9; V. de 6.10 a cap. 7.11; VI. de 7.12 até cap. 8.3; VII. 8.4-14. O esquema de Delitzsch é como segue : Ato 1. paixão mútua dos amantes (1.2 até 2.7), concluindo, “eu adjuro vocês, ó filhas de Jerusalém.” A cena é provida no palácio de Salomão. Cena 1. Diálogo entre a campesina Sulamitis e as damas da corte, filhas de Jerusalém, em uma refeição (1.2-8). Cena 2. Entrada de Salomão: diálogo entre ele e as donzelas solteiras (1.9 até cap. 2.7). Ato 2. Os dois amantes mutuamente se buscando e encontrando (2.8 até 3.5), concluindo com “eu vos conjuro filhas de Jerusalém”. A cena é no país e na casa de Sulamitis. Cena 1. Ela relaciona uma reunião arrebatada com Salomão (2.8-17). Cena 2. Ela relaciona um sonho, em que ela pensou ter perdido seu amado, mas novamente o achou (3.1-5). Ato 3. Trazendo o noivo para a capital e para o casamento (3.6 até cap. 5.1), Com a introdução, “Que é isto?” e a conclusão, “Comei, amigos, bebei; e bebei abundantemente, ó amado.” Cena 1. Procissão para o palácio (3.6-11). Cena 2. Diálogo entre Salomão e sua noiva na câmara nupcial (4.1-16). O casamento supostamente deve ter ocorrido (5.1) e então a saudação de Salomão para sua noiva, e depois sua exortação para os convidados. Ato 4. Amor desprezado, mas recuperado (5.2 até 6.9). Cena 1. Sombras caindo sobre a vida conjugal. A Sulamitis sonha que busca seu amado, mas não o acha (5.2 até 6.3). Cena 2. Ela achou seu amado novamente (6.4-9). Ato 5. A Sulamitis é bonita, mas princesa humilde (6.10 até 8.4), com a introdução, “Que é ela?” e a conclusão. “ Eu adjuro você.” Cena 1. No jardim real: diálogo entre Sulamitis e as filhas de Jerusalém (6.10 até 7. 6). Cena 2. No palácio: Salomão e Sulamitis a sós (7.7 até 8.4). Ato 6. A confirmação do laço de amor na velha casa de Sulamitis (8.5-14), começando “Quem é esta?” A cena 1. Salomão e sua noiva aparece na presença de seus parentes (5-7) Cena 2. A Sulamitis  em diálogo na casa paterna entre ela, seus irmãos e o rei (8-14).


Mas a opinião de que os Cânticos é um drama, embora extensamente entretida nos tempos modernos e praticamente irrepreensível, não deixou de encontrar uma decidida e bem fundada oposição. A Canção não se ajusta naturalmente com as regras de unidade dramática. Um enredo regular não é propriamente apresentado pelo poema. Uma narrativa sucessiva só pode ser urdida pelo escritor conectando vínculos do qual o poema ignora. Realmente, as várias partes foram feitas para dizer aos leitores continuamente coisas muito diferentes, de acordo como intérpretes forneceram esta ou aquela ligação. A Canção como está escrito é uma composição contínua, tendo por tema o amor de Salomão e sua noiva; mas as várias cenas são agrupadas em lugar de ligadas, e as transições são abruptas. O arranjo não agrada aos ocidentais que se importam com a ordem e as sequências  literárias lógicas, mas a estrutura do poema está em inteira harmonia com os métodos orientais de composição literária.


Três métodos principais de interpretação foram adotados, e todos ainda acham defensores: o alegórico, o literal, e o método típico. Os judeus, que sempre estimaram muito a Canção das Canções, geralmente consideram-no como uma alegoria espiritual. Sua intenção exclusiva era ensinar o antigo amor de Deus a Israel. Ele é o Amante, e Israel o ser amado. A interpretação alegórica foi introduzida na igreja cristã por Orígenes, um grande alegorista, já no terceiro século, mas ela sofreu uma modificação. Cristo se tornou o Amante, e sua igreja era a alma individual da amada. Os detalhes deste esquema podem ser aprendidos dos cabeçalhos de vários capítulos na Versão Autorizada. Na interpretação literal o poema é um conto histórico, uma história verdadeira de amor de Salomão pela Sulamitis. A interpretação típica, até certo ponto, harmoniza-se com as outras duas. O amor puro, espontâneo, mútuo de um grande rei e uma humilde campesina, era visto para exemplificar o afeto mútuo entre Jeová e seu povo, e a história foi contada, não apenas porque era bonita, mas principalmente porque era típica desta grande verdade religiosa. A Canção das Canções é deste modo análoga aos salmos messiânicos, que são baseados nas experiências pessoais, ou nas posições oficiais de David ou Salomão, e exibe verdades relativamente ao grande rei. A comparação do amor mútuo entre a igreja e seu divino chefe com aquela de uma noiva e um noivo frequentemente acontece no N. T. (Ef 5.25-33; Ap 19.7-9; 21.9, etc.).


Relativamente à data e autoria dos Cânticos, está visto de vez que a teoria do pastor põe fim à possibilidade de que o poema provenha da caneta de Salomão. O rei teve suas culpas, mas não existe nenhuma razão para crer que ele era um monstro de iniquidade como o poema apresenta, quando interpretado na hipótese do pastor. A hipótese do pastor exige a suposição de outro autor e mais velho que Salomão. Olhando novamente para as marcas de autoria e datas achadas no poema, o título primeiramente nos chama atenção: “A canção das canções, que é de Salomão”. As palavras são ambíguas, de acordo com a linguagem hebreia; elas podem significar que Salomão era o autor da Canção (cp. Hc 3.1, no hebreu), ou que a Canção fala de Salomão (cp. Is 5.1, no hebreu). A ambiguidade é admitida, mas as probabilidades indiscutivelmente favorecem a convicção de que o título atribui o poema a Salomão. A mente do autor como revelado na Canção admiravelmente comporta com tudo que é conhecido de Salomão. O idioma figurativo nas falas do rei não reflete meramente a natureza, mas reflete os jardins exóticos do qual Salomão era aficionado, e o conhecimento extenso de todos os reinos da natureza, que ele possuiu, ao falar de árvores, do cedro ao hissopo, de animais, aves, répteis, e peixes, tudo é exibido ao longo do poema. E um retrato minucioso e preciso do tempo de Salomão é apresentado. Aramaicaismos aparecem como indicando uma data mais antiga que Salomão. Mas a ortografia, exceto três palavras, não é aramaico; e a peculiaridade sintática do poema é limitada pelo uso de um pronome relativo que acontece entre outros lugares na canção de Débora e a história de Eliseu, ambas são confessamente composições hebreias antigas,  antedatando o reinado de Salomão por vários séculos. Ewald e Hitzig creram que o poema foi produzido no melhor período do idioma hebreu, e numa época de grande prosperidade nacional. Eles o atribuíram a um poeta que viveu na geração posterior a Salomão. As três formas aramaicas, netar, manter (1.6; 8.11,12), beroth, abeto (1.16), e sethav, inverno (2.11), são considerados por estes críticos como uma linguagem no dialeto da Palestina do norte, e eles consequentemente atribuem a canção a um poeta do reino do norte. Mas, assumindo que estas palavras eram características do norte, Salomão dirigindo-se à campesina Sulamitis, que era provavelmente de Suném, e em citando suas falas, pode ter adotado estas palavras a fim de dar a seu poema o sabor do norte. É afirmado que pardes, pomar, parque (4.13), e appiryon, palanquim (3.9) em sânscrito, paryana, e em grego phoreion, são de origem ariana, e consequentemente trai a data pós-exílio do poema. Mas ainda que elas sejam de origem ariana, por que devia ser visto estranhamente que um rei que enviou seus navios para a distante Ofir, que negociou com a Índia, e trouxe bens da Palestina indiana, e objetos com nomes arianos, como macacos, pavões, e algumas madeiras, importar-se também  em manter seus nomes nativos, e dar designação oriental aos jardins que ele encheu com plantas orientais? — (Dicionário da Bíblia de John D. Davis©  † 


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