O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

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ESDE — Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita — Programa Fundamental

Módulo XVII — A Perfeição Moral

Roteiro 3


O homem de bem


Objetivo Geral: Favorecer o entendimento da perfeição moral e de como alcançá-la.

Objetivos Específicos: Dar o conceito espírita de homem de bem. — Enumerar as qualidades que distinguem o homem de bem.



CONTEÚDO BÁSICO


  • Verdadeiramente, homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem. Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça. É bondoso, humanitário e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todo os homens, sem distinção de raças, nem de crenças. Se Deus lhe outorgou o poder e a riqueza, considera essas coisas como um depósito, de que lhe cumpre usar para o bem. Delas não se envaidece, por saber que Deus, que lhas deu, também lhas pode retirar. Se sob a sua dependência a ordem social colocou outros homens, trata-os com bondade e complacência, porque são seus iguais perante Deus. Usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que também precisa da indulgência dos outros e se lembra destas palavras do Cristo: Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado. Não é vingativo. A exemplo de Jesus, perdoa as ofensas, para só se lembrar dos benefícios, pois não ignora que, como houver perdoado, assim perdoado lhe será. Respeita, enfim, em seus semelhantes, todos os direitos que as leis da Natureza lhes concedem, como quer que os mesmos direitos lhe sejam respeitados. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos: questão 918 - comentário.




SUGESTÕES DIDÁTICAS


Introdução:

  • A início da aula, entregar à turma uma cópia da questão 918, de O Livro dos Espíritos.

  • Pedir a um dos participantes que leia em voz alta o texto, enquanto os demais acompanham a leitura.


Desenvolvimento:

  • Em sequência, pedir-lhes que formem dois grupos, indicando-lhe as seguintes tarefas:

    a) Leitura atenta dos subsídios do roteiro;

    b) Rápida troca de ideias sobre o assunto;

    c) Elaboração de cartaz: o grupo 1 deve registrar os caracteres do homem de bem; o grupo 2 escreve que esforços ou meios a pessoa deve utilizar para se tornar homem de bem;

    d) Apresentação do cartaz pelo relator do grupo, previamente escolhido.

  • Ouvir os relatos dos grupos, esclarecendo possíveis dúvidas.


Conclusão:

  • Apresentar, em projeção, a parábola do Bom Samaritano (Lucas, 10.25-37), esclarecendo que o samaritano representa o paradigma do homem de bem.


Avaliação:

  • O estudo será considerado satisfatório se os participantes realizarem com interesse as tarefas propostas, apresentando: a) características do homem de bem; b) esforços ou meios para alcançar esta posição.


Técnica(s):

  • Leitura reflexiva; trabalho em grupo com elaboração de cartaz; exposição.


Recurso(s):

  • O Livro dos Espíritos; subsídios do roteiro; projeção.



 

SUBSÍDIOS


De acordo com os ensinamentos da Doutrina Espírita, o […] Espírito prova a sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus e quando antecipadamente compreende a vida espiritual. (7) Quando encarnado, o Espírito, nessas condições morais, constitui-se no protótipo do homem de bem.

Pode dizer-se que o […] verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.

Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.

Têm fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma, retribui o mal com bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça.

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si; é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.

O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.

Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado.”

Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.

Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.

Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.

Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por sabe que tudo o que lhe foi dado pode ser lhe tirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões.

Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram.

O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente.

Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.

Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz. (4)

Sintetizando todas as qualidades do homem de bem, encontramos, no Evangelho, a figura do bom samaritano, verdadeiro paradigma a ser seguido por todos os que almejam alcançar a perfeição moral. Ao responder ao doutor da lei que lhe pergunta quem é o seu próximo, ao qual deveria amar como a si mesmo, narra o Mestre Divino:

Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. — Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. — Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. — Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. — No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar.

Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? — O doutor respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. — Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (Lucas, 10.25-37) (1)

Qual o ensinamento que o Mestre aí nos dá? O de que para entrarmos na posse da vida eterna não basta memorizarmos textos da Sagrada Escritura. O que é preciso, o que é essencial, para a consecução desse objetivo, é pormos em prática, é vivermos a lei de amor e de fraternidade que ele nos veio revelar é exemplificar. (8) Ensina Jesus que […] ser próximo de alguém é assisti-lo em suas aflições, é socorrê-lo em suas necessidades, sem indagar de sua crença ou nacionalidade. (9) Mostra ainda o Mestre que todos nós temos condições de vivenciarmos o amor ao próximo, mesmo que não sejamos bem considerados pela sociedade, uma vez que toma […] um homem desprezível aos olhos dos judeus ortodoxos, tido e havido por eles como herege — um samaritano — e, incrível! aponta-o como modelo, como padrão, aos que desejem penetrar nos tabernáculos eternos! É que aquele renegado sabia praticar boas obras, sabia amaros seus semelhantes, e, para Jesus, o que importa, o que vale, o que pesa são […] os bons sentimentos, porque são eles que modelam ideias e dinamizam ações […]. (10)

Com efeito, conforme assinala Kardec, toda […] a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura. (2)

O homem de bem, portanto, é todo aquele que vivencia o sentimento de caridade em todos os atos da sua existência.

Ainda, nesse contexto, é oportuno ressaltar que as qualidades do homem de bem são as que todo espírita sincero deve buscar para si mesmo. Isso porque o […] Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam. (5) Por isso, afirma Kardec: Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. (6)

Finalmente, diremos, ainda com Kardec: Caridade e humildade, tal a senda única da salvação. Egoísmo e orgulho, tal a da perdição. (3) Todos […] os deveres do homem se resumem nesta máxima: Fora da caridade não há salvação. (3)



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 126. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 15, item 2, p. 275-276.

2. Idem - Item 3, p. 276-277.

3. Id. - Item 5, p. 278.

4. Idem - Capítulo 17, item 3, p. 307-309.

5. Id. - Item 4, p. 309.

6. Idem, ibidem - p. 311.

7. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 89. ed. FEB, 2007. Questão 918, p. 474-475.

8. CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas Evangélicas. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, p. 63.

9. Idem, ibidem - p. 65.

10. Idem, ibidem - p. 66.


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