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EPM — Estudo e Prática da Mediunidade

PROGRAMA II — MÓDULO DE ESTUDO Nº III
FUNDAMENTAÇÃO ESPÍRITA — MECANISMOS DA MEDIUNIDADE

Roteiro 1


O transe mediúnico


Objetivos específicos: Conceituar transe mediúnico. Explicar as etapas e os graus do transe mediúnico.



SUBSÍDIOS


Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons dispensadores da multiforme graça de Deus. Pedro (1 Pedro, 4.10)


1. CONCEITO DE TRANSE MEDIÚNICO


O transe, segundo a Psicologia, é um estado «afim do sono ou de alteração da consciência, marcado por reduzida sensibilidade a estímulos, perda ou alteração do conhecimento do que sucede à volta, substituição da atividade voluntária pela automática [involuntária], e do qual é por vezes difícil fazer sair o indivíduo.» (8)

Etimologicamente, traz o significado de crise, de momento crítico.

O transe mediúnico é considerado como «[…] um estado especial, entre a vigília e o sono, que de alguma sorte abre as portas da subconsciência […]. (3) É também considerado um «[…] estado de baixa tensão psíquica […], com estreitamento — do campo de consciência e dissociação.» (3)


Existem fatos psíquicos que ocorrem automaticamente, o espírito participa deles de modo passivo (baixo tensão psíquica), os instintos, os hábitos e as próprias emoções, são dessa ordem; outros exigem participação ativa (alta tensão), tais as operações intelectuais, a vontade e a atividade criadora. O decréscimo da atividade mental — a passividade — é o caminho do transe, o que equivale a dizer dos domínios do inconsciente. O homem de intelecto funciona em regime de alta tensão psíquica, o inspirado busca a passividade que lhe amplia a percepção anímica. […] Entendemos por dissociação ou automatismo o fato de uma área mais ou menos extensa do cérebro agir desvinculada da consciência “normal” [estado de vigília]. Nos casos mais elementares […] apenas alguns grupos de neurônios (células nervosas) adquirem independência e pode não haver alteração ostensiva do estado de consciência: a escrita e a palavra automática [pneumatografia e pneumotofonia, respectivamente], certas formas de alucinação, traduziriam a atividade dissociada respectivamente dos centros motores e sensoriais. (4)


Há quem confunda, incorretamente, o transe com o sono. O sono é um estado fisiológico « […] caracterizado por supressão da vigilância, desaceleração do metabolismo, relaxamento muscular, diminuição da atividade sensorial, suspensão das experiências conscientes […], pela aparição concomitante do sonho.» (7) Trata-se, portanto, de um estado muito diferente de que ocorre no transe mediúnico, a despeito de existirem pontos semelhantes entre os dois fenômenos.

No transe mediúnico não há supressão total da vigilância; esta pode estar bastante reduzida, tal como ocorre no estado de sonambulismo, mediúnico ou anímico; por ação da hipnose, magnética ou obsessiva; por efeito de certos medicamentos ou algumas enfermidades.

No transe mediúnico ocorre ativação ou redução de metabólitos, requisitando assistência de benfeitores espirituais, a fim de que o veículo somático do médium não sofra prejuízos. Nesta situação ocorrem mergulhos no inconsciente, ainda que breves, com consequente acesso às memórias ali arquivadas, se o médium permitir.


2. GRAUS DO TRANSE MEDIÚNICO


O transe pode ser superficial ou profundo e, entre um extremo e outro, há uma gradação infinita: são os transes parciais.

  • Transe superficial: não existe amnésia. O médium recorda todos os acontecimentos, colaborando na transmissão da mensagem do Espírito comunicante. No médium principiante costumam existir dúvidas se de fato ocorreu um transe mediúnico. (5)

Nos médiuns intuitivos, ostensivos ou não, o transe é superficial. Não se observa nenhuma alteração em sua fisionomia nem ocorre passividade acentuada. O médium «[…] recebe o pensamento do Espírito livre e o transmite.» (2)

  • Transe profundo: as recordações dos acontecimentos, decorrentes do transe profundo, raramente chegam à consciência do médium. No entanto, em decorrência da prática mediúnica, é possível não ocorrer amnésia total, de forma que alguma coisa ainda pode ser lembrada.

É importante insistir que, mesmo no estado de transe muito profundo, o médium não perde totalmente a ligação com a consciência. Há lembrança subliminar porque o Espírito do médium está ligado ao corpo. Esses são os argumentos para se denominar de transe profundo o sonambulismo. Nessa situação, o médium é suscetível de sugestibilidade, dificilmente se recordando da sugestão que lhe foi feita. (5)

Nos transes profundos, o médium entra em um estado de passividade maior. Isso é claramente observado nos médiuns sonambúlicos psicofônicos. Nesse caso, o «médium falante geralmente se exprime sem ter consciência do que diz e muitas vezes diz coisas completamente estranhas às suas ideias habituais, aos seus conhecimentos e, até, fora do alcance de sua inteligência. Embora se ache perfeitamente acordado e em estado normal [de transe], raramente guarda lembrança do que diz.» (1)

  • Transes parciais: representam gradações do estado de rebaixamento psíquico. Nos transes parciais, os médiuns recordam apenas alguns acontecimentos ou trechos da mensagem transmitida pelo comunicante espiritual.

É comum o médium recordar-se do ditado mediúnico, momentos após a sua transmissão, esquecendo-o, porém, com o passar do tempo.

Na verdade, não sabemos esclarecer com precisão por que certos detalhes — às vezes menos importantes — são lembrados, enquanto que outros, mais importantes, são esquecidos.


3. ETAPAS DO TRANSE MEDIÚNICO


As etapas do transe mediúnico podem ser resumidas em duas: indução ao transe e o transe, propriamente dito.


a) Indução ao transe mediúnico


No início do intercâmbio mediúnico, o Espírito comunicante envolve o médium em seus fluidos, produzindo-lhe um certo efeito entorpecedor. Em seguida, produz ação no córtex cerebral e nos lobos neurológicos frontais, favorável ao alheamento do médium relativamente do que ocorre ao seu redor. Essas duas ações, fluídica e mental, afastam o medianeiro do estado de vigília, sobretudo se há condições ambientais indutoras do transe.

As principais condições externas indutoras do transe são:

  • Ambiente físico: local da reunião tranquilo, silencioso, limpo, agradável, luminosidade indireta, música suave (não é obrigatória), conversação digna, entre outras;

  • Emanações fluídicas favoráveis: as energias irradiantes da prece, das mentalizações (irradiações mentais) associadas às energias oriundas do plano espiritual, produzidas pelos benfeitores espirituais, saturam o ambiente e afetam diretamente a mente do médium, induzindo-o ao transe.

Existem outras formas de indução ao transe mediúnico. A título de exemplo, lembramos que nos cultos afro-brasileiros prevalecem estímulos mais fortes — os atabaques, os “pontos” cantados — sempre ritmados e monótonos, que «[…] terminam por suscitar a onda inibitória cortical. Trata-se, evidentemente, de uma técnica menos requintada. A metodologia kardequiana vale-se de recursos verbais e psicológicos, dirige-se aos lobos frontais.» (6)


b) Transe propriamente dito

  • Concentração e inibição cortical no sistema nervoso.

Inicia-se pela concentração — que conduz ao rebaixamento da tensão psíquica (o médium fica como que “desligado”, envolvido pelas emanações espirituais) e se completa com a sintonia estabelecida com o Espírito comunicante.

Nesse estágio de sintonia, o médium fixa a sua atenção numa ideia ou imagem mental transmitida pelo Espírito comunicante. Capta, igualmente, as emoções e o estado psicológico da entidade. O médium sabe vagamente o que acontece ao seu redor e pode até responder algumas indagações das pessoas encarnadas.

  • Acesso aos arquivos espirituais com retirada de lembranças/experiências.

Esse acesso pode ser feito: 1) pelo Espírito comunicante, com anuência do médium: é o que ocorre nas manifestações de Espíritos esclarecidos; 2) pelo Espírito necessitado, em trabalho conjunto com as entidades esclarecidas e com a permissão do medianeiro. Para que os arquivos espirituais do médium sejam acessados, é necessário que ele esteja em estado de maior dissociação psíquica, ou seja, de transe.

  • A manifestação mediúnica.

Nessa etapa, o médium concorda com a comunicação do Espírito, permitindo a transmissão da mensagem por psicofonia, psicografia, vidência etc. Os médiuns conscientes agem mais como um intérprete do pensamento dos desencarnados. Os médiuns semiconscientes interpretam as ideias dos Espíritos, mas também permitem que expressões ou comportamentos dos comunicantes sejam expressos. Os médiuns inconscientes ficam mais à mercê do Espírito comunicante, assistindo-o ou seguindo a sua manifestação, a distância. A interferência no teor da mensagem é mínima.

Retomando a orientação do apóstolo Pedro, inserida na introdução deste Roteiro, percebemos que a prática mediúnica representa oficina de trabalho que merece dedicação e cuidados. A propósito, esclarece Emmanuel:


A vida é máquina divina da qual todos os seres são peças importantes, e a cooperação é o fator essencial na produção da harmonia e do bem para todos. Nada existe sem significação. Ninguém é inútil. Cada criatura recebeu determinado talento da Providência Divina para servir no mundo e para receber do mundo o salário da elevação. […] Quem cumpre o dever que lhe é próprio, age naturalmente a benefício do equilíbrio geral. Muitas vezes, acreditando fazer mais corretamente que os outros o serviço que lhes compete, não somos senão agentes de desarmonia e perturbação. Onde estivermos, atendamos com diligência e nobreza à missão que a vida nos oferece. (9)



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 77. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 14, item 166, p. 218.

2. Idem - Capítulo 15, item 180, p. 231.

3. CERVIÑO, Jayme. Além do inconsciente. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 1, item: O Transe, p. 17.

4. Idem, ibidem - Item: Transe e sono, p. 18-19.

5. Idem, ibidem - Item: Fases do transe, p. 20-22.

6. Idem - Capítulo 3 (Transe mediúnico), p. 92.

7. HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 2608.

8. Idem, ibidem - p. 2750

9. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 130 (Na esfera íntima), p. 323-324.


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