O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

Índice | Página inicial | Continuar

EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE I
Módulo VI — Aprendendo com fatos extraordinários

Roteiro 3


A tempestade acalmada


Objetivo: Analisar o significado espírita da tempestade acalmada, registrada pelo evangelista Marcos (Mc 4.35-41)



IDEIAS PRINCIPAIS

  • A tempestade acalmada é uma passagem evangélica que tem dois enfoques fundamentais: ação de Jesus sobre os elementos da Natureza e o valor da fé.

    Os […] fatos que o Evangelho cita como operados por Jesus se acham hoje completamente demonstrados pelo Magnetismo e pelo Espiritismo, como fenômenos naturais. Allan Kardec: Obras póstumas. Primeira parte, p. 125-126.

  • A fé é um sentimento que pode ser desenvolvido, utilizando a força da vontade, do conhecimento e das virtudes. Sendo assim, a […] alma humana, neste vinte séculos de Cristianismo, é uma consciência esclarecida pela razão, em plena batalha pela conquista dos valores iluminativos. Emmanuel: Fonte viva. Capítulo 25.

  • No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam […]. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo 19, item 12.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • E, naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes: Passemos para a outra margem. E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; e havia também com ele outros barquinhos. E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia de água. E ele estava na popa dormindo sobre uma almofada; e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?

    E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar. Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança. E disse-lhes: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé? E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: Mas quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? Marcos, 4.35-41.

O texto evangélico apresenta duas ordens de ideias: a tempestade que foi controlada pelo Cristo e a importância da fé.

A tempestade acalmada é mais um dos prodígios existentes no Evangelho. Podemos interpretar o ocorrido de duas maneiras: ação direta de Jesus sobre o fenômeno atmosférico “repreendendo o vento” ou por intermédio dos Espíritos ligados à Natureza que, ouvindo-o, atenderam à sua solicitação.

De qualquer forma, porém, sabemos que não ocorreu um milagre, por mais insólito que o fato pareça.


Deixa […] de ser milagre um fato, desde que possa explicar-se e que se ache ligado a uma causa conhecida. Desse modo foi que as descobertas da Ciência colocaram no domínio do natural, muitos efeitos que eram qualificados de prodígios, enquanto se lhes desconheciam as causas. Mais tarde, o conhecimento do princípio espiritual, da ação dos fluidos sobre a economia geral, do mundo invisível dentro do qual vivemos, das faculdades da alma, da existência e das propriedades do perispírito, facultou a explicação dos fenômenos de ordem psíquica, provando que esses fenômenos não constituem, mais do que os outros, derrogações das leis da Natureza, que, ao contrário, decorrem quase sempre de aplicações destas leis. […]

A possibilidade da maioria dos fatos que o Evangelho cita como operados por Jesus se acha hoje completamente demonstrada pelo Magnetismo e pelo Espiritismo, como fenômenos naturais. Pois que eles se produzem às nossas vistas, quer espontaneamente, quer quando provocados, nada há de anormal em que Jesus possuísse faculdades idênticas As dos nossos magnetizadores, curadores, sonâmbulos, videntes, médiuns, etc. Do momento em que essas mesmas faculdades se encontram, em diferentes graus, numa multidão de indivíduos que nada têm de divino, até em heréticos e idólatras, elas não implicam, de maneira alguma, a existência de uma natureza sobre-humana. (7)


A intervenção de Espíritos nos fenômenos da natureza acontece de forma intencional ou executando ordens superiores, como consta em O Livro dos Espíritos. (5)


Falanges de Espíritos em evolução trabalham ativamente, zelando pela manutenção dos reinos da natureza: o mineral, o vegetal e o animal. Os fenômenos atmosféricos também são presididos por plêiades de Espíritos, sob orientação superior, encarregados de manterem o equilíbrio planetário. Nem sempre compreendemos o porquê dos fenômenos, que muitas vezes causam verdadeiras calamidades em determinadas regiões do mundo. Mas o Espiritismo nos ensina que não há efeito sem causa. Por conseguinte, os fenômenos tais como: tempestades, terremotos, maremotos, inundações, são orientados por entidades espirituais, em obediência a desígnios divinos, visando o apressamento da evolução não só do Planeta, como também nas populações atingidas. Jesus aqui não fez milagre ao apaziguar a tempestade. Usou apenas de seu conhecimento das forças que regem o Universo e de sua superioridade moral para ordenar aos orientadores invisíveis da atmosfera, que fizessem cessar a tempestade. (8)


2. Interpretação do texto evangélico

  • E, naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes: Passemos para a outra margem. E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; e havia também com ele outros barquinhos. E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia de água. E ele estava na popa dormindo sobre uma almofada; e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos? (Mc 4.35-38)

A pessoa que se engaja consciente no processo de melhoria atende ao chamamento de renovação espiritual dos Espíritos orientadores. Sabe também adequar-se com firmeza e perseverança às convocações do Plano Maior, pela correta utilização do livre-arbítrio.

“Passemos para a outra banda” é uma expressão que, além de literalmente significar sair de um lado para outro, indica mudança de comportamento, sob o amparo do Cristo. Envolve a percepção de que soou a hora da necessária transformação espiritual. Independentemente dos desafios que a pessoa possa enfrentar, sente-se amparada por Jesus que lhe direciona a existência. A mudança de comportamento exige cuidados, assim como o processo de travessia implica riscos, ainda quando se navega em águas tranquilas.

A vontade imprime, neste sentido, papel relevante, permitindo que a criatura opere os mecanismos de progresso de forma consciente. Dessa forma, é necessário deixar a “multidão” de erros e equívocos para trás e levar junto a si, no “barco” da vida, o próprio Jesus. Medida que lhe será útil sobretudo quando a travessia de um estado evolutivo para outro se revele mais difícil.

O período atual por que passa a Humanidade terrestre é marcado por uma época de significativa transição moral. Sendo assim, é de fundamental importância trazermos o Cristo na mente e no coração, a fim de que não venhamos a sucumbir sob o peso dos temporais e das ventanias morais que nos assaltam a existência.


A alma humana, neste vinte séculos de Cristianismo, é uma consciência esclarecida pela razão, em plena batalha pela conquista dos valores iluminativos. O campo de luta permanece situado em nossa vida íntima. Animalidade versus espiritualidade. Milênios de sombras cristalizadas contra a luz nascente. E o homem, pouco a pouco, entre as alternativas de vida e morte, renascimento no corpo e retorno à atividade espiritual, vai plasmando em si mesmo as qualidades sublimes, indispensáveis à ascensão, e que, no fundo, constituem as virtudes do Cristo, progressivas em cada um de nós. Daí a razão de a graça divina ocupar a existência humana ou crescer dentro dela, à medida que os dons de Jesus, incipientes, reduzidos, regulares ou enormes nela se possam expressar. (10)


O registro de Marcos assevera que “havia também com ele outros barquinhos.” Quer dizer que a travessia espiritual de uma pessoa afeta, necessariamente, os que se encontram em sua órbita. Revela, igualmente, que todos os Espíritos são convocados a participar da grande transição, mesmo aqueles que possuem reduzidos recursos morais ou intelectuais.

A Humanidade inteira é convocada ao crescimento espiritual. O chamamento é destinado, indiscrimi­nadamente a todos os habitantes do Planeta, independentemente do plano de vida em que se situem, porque, esclarecem os Espíritos superiores, são “[…] chegados os tempos, dizem-nos de todas as partes, marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para a regeneração da Humanidade.” (1)

Registra também o evangelista que durante a travessia, Jesus e os apóstolos foram surpreendidos por um “grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia de água.” Todos os navegantes estão sujeitos a esse tipo de risco, exigindo dos condutores conhecimento especializado. Da mesma forma, diante das mudanças previstas para a melhoria da Humanidade, somos atingidos por convulsões sociais e por reações inferiores de muitos, provocadores de revoltas, vinganças, mágoas etc. São formas de resistência erguidas pelos Espíritos não sintonizados com a paz, por lhes serem escassos os conhecimentos espirituais.

As reações violentas dos indivíduos, somadas às situações de calamidades ocorridas na Natureza — simbolizadas na frase “e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia de água” — fazem parte do quadro de provações que assolam o nosso planeta. É importante compreender que a Humanidade passa, atualmente, por significativo processo de transição moral, caracterizado por provas coletivas e individuais.

O versículo 38 do texto em estudo, entretanto, informa que, a despeito do temporal e da forte ventania, Jesus dormia na popa do barco, sobre uma almofada. Para os desavisados, pode parecer desinteresse, ou alheamento total de Jesus às dificuldades vivenciadas pelos discípulos. Sendo inconcebível tal atitude no Cristo, o fato expressa algo de maior alcance. Na verdade, sendo o Senhor o Mestre por excelência, não retirou dos apóstolos a oportunidade educativa de ensinar com acerto. O sono de Jesus é um exemplo de como devemos agir perante as situações calamitosas da vida: com calma, “dormindo” na certeza da fé em Deus, que nos agasalha, protegendo-nos das intempéries. Dormir, no significado expresso no texto, não deve ter a conotação de invigilância ou de descuido.

A falta ou escassez de fé tem colocado muitos “barcos” humanos à deriva. Entretanto, ainda que pareça paradoxal, são muitas vezes as situações periclitantes que despertam as pessoas para as realidades do Evangelho, clamando por Jesus (“E, despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?”).

  • E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar. Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança. E disse-lhes: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé? E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: Mas quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? (Mc 4.39-41)

A trama existente no texto evangélico nos faz supor que Jesus conduziu os apóstolos para uma situação desafiante, tendo em vista a necessidade de conhecer-lhes a capacidade de resolução de problemas, numa situação difícil, e aferir-lhes a dimensão da fé que possuíam.


No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade. […] A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendores que se não chegue a vencer. (4)


Destaca-se, nesta mensagem, existente em O Evangelho segundo o Espiritismo, que a fé, tendo como instrumento a vontade, pode ser aperfeiçoada pela aquisição de conhecimentos e pelo desenvolvimento de valores morais. A pessoa fortalecida pela fé imprime postura positiva no comportamento, servindo de exemplo a todos que lhe compartilham a existência.


A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado. A fé vacilante sente a sua própria fraqueza; quando a estimula o interesse, torna-se furibunda e julga suprir, com a violência, a força que lhe falece. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo. (2)


A fé não deve, porém, ser entendida fora do seu verdadeiro sentido, alerta-nos, em boa hora, Allan Kardec.


Cumpre não confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus. Por essa razão é que os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. A presunção é menos fé do que orgulho, e o orgulho é sempre castigado, cedo ou tarde, pela decepção e pelos malogros que lhe são infligidos. (3)


Relata-nos o texto de Marcos que Jesus foi despertado pelos apóstolos e que o Mestre “repreendeu o vento e disse ao mar: cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou e houve grande bonança.” O primeiro ponto que se destaca nessa citação evangélica é a poderosa personalidade de Jesus que, agindo diretamente sobre os elementos da Natureza, ou por intermédio dos Espíritos que os presidem, fez cessar a tempestade e a forte ventania. Subjetivamente, há outro ensinamento. Trata-se de buscar Jesus, em todas as ocasiões, sobretudo nos momentos mais desafiantes da vida, por ser ele o guia e modelo da Humanidade. (6)

É comum que o “barco” da nossa existência seja, em diferentes instantes, açoitado pelas provações, simbolizadas pelos ventos e tempestades que nos relata o evangelista. Em tais momentos é importante estejamos preparados, armando-nos da couraça da fé, cientes da proteção do Senhor, a fim de que possamos responder às indagações de Jesus: “Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?”

Perante as provações previstas no nosso quadro existencial, devemos nos manter firmes na fé, alimentando as forças morais e intelectuais que possuímos, erguendo barreiras morais que concedam segurança à existência.


Pela fé, o aprendiz do Evangelho é chamado, como Abraão, à sublime herança que lhe é destinada. A conscrição atinge a todos. O grande patriarca hebreu saiu sem saber para onde ia… E nós, por nossa vez, devemos erguer o coração e partir igualmente. Ignoramos as estações de contacto na romagem enorme, mas estamos informados de que o nosso objetivo é Cristo Jesus. Quantas vezes seremos constrangidos a pisar sobre espinheiros da calúnia? Quantas vezes transitaremos pelo trilho escabroso da incompreensão? Quantos aguaceiros de lágrimas nos alcançarão o espírito? Quantas nuvens estarão interpostas, entre o nosso pensamento e o Céu, em largos trechos da senda?

Insolúvel a resposta.

Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria redenção, sem esmorecimento. Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade; depois, é o sofrimento e, em seguida, é a solidão…

Ainda assim, é indispensável seguir sem desânimo. Quando não seja possível avançar dois passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo menos, alguns milímetros. Abre-se a vanguarda em horizontes novos de entendimento e bondade, iluminação espiritual e progresso na virtude. (9)



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Analisar a ação de Jesus sobre os elementos da Natureza e o valor da fé na condução da nossa vida.



Referências:

1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo18, item 1, p. 401.

2. Idem - O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 19, item 3, p. 300.

3. Idem - Item 4, p. 300.

4.  Idem - Item 12 (Mensagem de um Espírito protetor), p. 306-307.

5. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 85. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, questão 538, p. 273.

6. Idem - Questão 625, p. 308.

7. Idem - Obras póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 38. ed. Rio de janeiro: FEB, 2005. Primeira parte, Item: Estudos sobre a natureza do Cristo. Capítulo 2 (Os milagres provam a divindade do Cristo?), p. 125-126.

8. RIGONATTI, Eliseu. O Evangelho dos humildes. 16. ed. São Paulo: Pensamento, 2004. Capítulo 8. Item: Jesus apazigua a tempestade, p. 69-70.

9. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 3 (Na grande romagem), p. 19-20.

10. Idem - Capítulo 25 (Nos dons do Cristo), p. 67-68.


Abrir