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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO I — CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
Módulo II — O Cristianismo

Roteiro 23


Igreja católica apostólica romana e a ortodoxa


Objetivos: Identificar fatos históricos relevantes relacionados à organização da igreja católica romana e da ortodoxa. — Analisar, à luz do entendimento espírita, o compromisso espiritual assumido por essas instituições.




IDEIAS PRINCIPAIS

  • Retirando-se para Salona, exausto da tarefa governista, ocorre a rebelião militar que aclama Augusto a Constantino […]. Junto dele, o Cristianismo ascende à tarefa do Estado, com o edito de Milão. Emmanuel: A Caminho da Luz, capítulo 15, item: Constantino.

  • Mas, por volta do ano 381, surge a figura de Teodósio, que declara o Cristianismo religião oficial do Estado, decretando, simultaneamente, a extinção dos derradeiros traços do politeísmo romano. Emmanuel: A Caminho da Luz, capítulo 16, item: Vitórias do Cristianismo.

  • A Igreja católica […], deturpando nos seus objetivos as lições do Evangelho, se tornou uma organização política em que preponderaram as características essencialmente mundanas. Emmanuel: Emmanuel, capítulo 3.

  • A Igreja Ortodoxa, uma das três grandes divisões do Cristianismo, […] também denominada Igreja do Oriente (ou Igreja Ortodoxa do Oriente), designa o grupo de igrejas que se consideram depositárias da doutrina e do ritual dos padres apostólicos [guardiões da moral cristã]. Enciclopédia Mirador, vol. 11, p. 5969.



 

SUBSÍDIOS


1. Igreja Católica Apostólica Romana


Os Anais de Tacitus nos informam que na noite de 18 para 19 de julho do ano de 64, três quartos da cidade de Roma foram devastados por um incêndio que só seria dominado seis dias depois. Acusado da autoria do incêndio, o imperador Nero não só nega como responsabiliza os cristãos pelo atentado. Assim, na noite de 15 de agosto de 64, vários cristãos são punidos no circo de Nero — situado no local onde hoje se ergue a basílica de São Pedro-, reduzidos a tochas vivas que serviram de iluminação à realização dos jogos e das diversões que se seguiram ao suplício.

A partir desse acontecimento, as perseguições se tornaram corriqueiras por mais de dois séculos consecutivos, nos governos de Domiciano (81-96) a Diocleciano (184-302). A despeito dos suplícios e toda a sorte de infelicidades, o número de cristãos aumentava, dia após dia, ao longo dos anos. Em meados do século III, mais de um funcionário do Império é convertido ao Cristianismo. “Nós enchemos os campos, as cidades, o Fórum, o Senado, o Palácio”, escrevia o orgulhoso Tertuliano.

É importante considerar que nessa época começou a surgir a palavra católico associada aos cristãos. O cognitivo católica (ou católico), significando universal, foi incorporado às ações e aos escritos das igrejas do Ocidente (romana) e do Oriente (ortodoxa).


O termo “católico” foi utilizado antes da era cristã por alguns escritores (Aristóteles, Zanão, Políbio), com o sentido de universal, oposto a particular Não aparece na Bíblia, nem no Antigo nem no Novo testamento, embora nela se encontre, como conceito fundamental, a ideia de universalidade da salvação […]. Aplicado à Igreja [romana e ortodoxa], o termo aparece, pela primeira vez, por volta do ano 105 d.C., na carta de Inácio, bispo de Antioquia, aos ermirnenses. (6)


Os escritores cristãos posteriores passaram a empregar o substantivo catholica como sinônimo de igreja cristã, associando a essa palavra as ideias de universalidade geográfica e de unidade de fé. Entretanto, somente com o concílio ecumênico de Constantinopla (no ano 381) foi, oficialmente, aplicada às igrejas romana e ortodoxa a designação “católica”. Este qualificativo, considerado como artigo de fé, assim deve ser expresso pelos fiéis: Creio na una, santa, católica e apostólica Igreja. Com a reforma protestante, e pela determinação do concílio de Trento (em 1571), restringiu-se o significado à expressão “católica”, que passou a designar, especialmente, a igreja de Roma. À denominação “igreja católica” acrescentou-se a palavra “romana”. (6)

As primeiras raízes do catolicismo surgem, provavelmente, no governo do imperador Valeriano (253-260), que promoveu impiedoso ataque contra as comunidades cristãs, buscando atingir, em especial, os seus líderes religiosos — bispos, padres e diáconos — , com o propósito de eliminar a fé cristã do império.


A doutrina cristã, todavia, encontrara nas perseguições os seus melhores recursos de propaganda e de expansão. Seus princípios generosos encontravam guarida em todos os corações, seduzindo a consciência de todos os estudiosos de alma livre e sincera. Observa-se-lhe a influência no segundo século, em quase todos os departamentos da atividade intelectual, com largos reflexos na legislação e nos costumes. Tertuliano apresenta a sua apologia do Cristianismo, provocando admiração e respeito gerais. Clemente de Alexandria e Orígenes surgem com a sua palavra autorizada; defendendo a filosofia cristã, e com eles levanta-se um verdadeiro exército de vozes que advogam a causa da verdade e da justiça, da redenção e do amor. (12)


O trauma resultante das perseguições impeliu os cristãos a desenvolverem estratégias que, de certa forma, pudessem neutralizar os constantes ataques de que eram vítimas. Delineia-se, então, a partir desse período, uma organização institucional que será conhecida, no futuro, como a monarquia papal. Importa considerar que a organização da Igreja Católica nos conduz, necessariamente, à organização da igreja cristã primitiva, em Roma, que, por sua vez, reflete a estrutura organizacional das sinagogas. Originalmente, a igreja cristã consistia de uma constelação de igrejas independentes cujos adeptos se […] reuniam nas casas dos membros abastados da comunidade. Cada uma dessas casas contava com seus próprios líderes, os anciãos ou “presbíteros”. (3)

Os membros da igreja eram, na maioria, imigrantes, escravos e pessoas livres. Essa diversidade cultural favorecia a existência de uma malha de rituais e de doutrinas confusas e conflitantes, ortodoxas e heréticas (pagãs). Diante desse panorama — perseguições de um lado, conflitos doutrinários de outro — , foi natural a aceitação, pelos cristãos de Roma, do “episcopado monárquico”.

Esse episcopado, que antecede a monarquia papal, determinou que a direção da igreja romana caberia a um bispo, sistema oposto ao existente de administração da igreja por um colégio de anciãos, comuns nas demais igrejas cristãs do Império. A administração por parte dos anciãos estava fundamentada nos preceitos da assembleia (ecklesia), herdados das tradições judaicas. (4)


2. O Cristianismo como religião do Estado


No século III, o império Romano estava dilacerado pela guerra civil, pela epidemia da peste e pela vertiginosa sucessão de imperadores, todos apoiados num exército esgotado pelos ataques inimigos. A instabilidade política chegou ao extremo de, em quarenta e sete anos, elevar ao poder vinte e cinco imperadores.


As forças espirituais que acompanham todos os movimentos do orbe, sob a égide de Jesus, procuram dispor os alicerces de novos acontecimentos, que devem preparar a sociedade romana para resgates e para a provação. A invasão dos povos considerados bárbaros é então entrevista. Uma forte anarquia militar dificulta a solução dos problemas de ordem coletiva, elevando e abatendo imperadores de um dia para outro. Sentindo a aproximação de grandes sucessos e antevendo a impossibilidade de manter a unidade imperial, Diocleciano organiza a Tetrarquia, ou governo de quatro soberanos, com quatro grandes capitais. Retirando-se para Salona, exausto da tarefa governativa, ocorre a rebelião militar que aclama Augusto a Constantino [285-337], filho de Constâncio Cloro, contrariando as disposições dos dois Césares, sucessores de Diocleciano e Maximiano. A luta se estabelece e Constantino vence Maxêncio às portas de Roma, penetrando a cidade, vitorioso, para ser recebido em triunfo. Junto dele, o Cristianismo ascende à tarefa do Estado, com o edito de Milão. (13)


A história registra que Constantino foi proclamado imperador na Bretanha, em 306, enquanto Maxêncio conspirava em Roma, e, logo depois, se fazia também proclamar imperador. Constantino prosseguiu com suas campanhas na Gália e entrou em Roma com seu exército em 312, derrotando Maxêncio às margens do rio Tibre. Em 324 fez-se imperador do Ocidente e do Oriente. Em 330 converteu a cidade grega de Bizâncio em capital do império, com o nome de Constantinopla (em 1453, sob o domínio turco, foi rebatizada de Istambul).


Embora não fosse cristão, pois só foi batizado em seu leito de morte, Constantino declarava-se protetor da Igreja. O Cristianismo foi declarado religião oficial do império. O Concílio de Niceia (o primeiro concílio ecumênico) foi convocado pelo imperador e realizou-se, em 325, numa sala do palácio imperial de veraneio. As conclusões do concílio, compendiadas no símbolo de fé, foram promulgadas como lei do império. (15)


Transformar o Cristianismo em religião foi um ato político do imperador, amparado por suas percepções psíquicas.


O imperador Constantino era pessoalmente dotado de faculdades mediúnicas e sujeito à influência dos Espíritos. Os principais sucessos de sua vida […] assinalam-se por intervenções ocultas. […] Quando planejava apoderar se de Roma, um impulso interior o induziu a se recomendar a algum poder sobrenatural e invocar a proteção divina, com apoio das forças humanas. […] Caiu, então, em absorta meditação das vicissitudes políticas de que fora testemunha. Reconhece que depositar confiança na “multidão dos deuses” traz infelicidade, ao passo que seu pai Constâncio, secreto adorador do Deus único, terminara seus dias em paz. Constantino decidiu-se a suplicar ao Deus de seu pai que prestasse mão forte à sua empresa. A resposta a essa prece foi uma visão maravilhosa, que ele próprio referia, muitos anos depois, ao historiador Eusébio, afirmando-a sob juramento e com as seguintes particularidades: Uma tarde, marchando à frente das tropas, divisou no céu, acima do sol que já declinava para o ocaso, uma cruz luminosa com esta inscrição: “Com este sinal vencerás”. Todo o exército e muitos espectadores, que o rodeavam viram com ele, estupefatos, esse prodígio. Logo foram chamados ourives e o imperador lhes deu instruções para que a cruz misteriosa fosse reproduzida em ouro e pedras preciosas. (2)


Foi assim que Constantino, em seu caminho de realizações, consegue proteger o Cristianismo e os cristãos das perseguições.


Consegue […] levar a efeito a nova organização administrativa do Império, começada no governo de Dioclesiano, dividindo-o em quatro Prefeituras, que foram as do Oriente, da Ilíria, da Itália e das Gálias, que, por sua vez, eram divididas em dioceses dirigidas respectivamente por prefeitos e vigários. […] Findo o reinado de Constantino, aparecem os seus filhos, que lhe não seguem as tradições. […] Mas, por volta do ano 381, surge a figura de Teodósio, que declara o Cristianismo religião oficial do Estado, decretando, simultaneamente, a extinção dos derradeiros traços do politeísmo romano. É então que todos os povos reconhecem a grande força moral da doutrina do Crucificado, pelo advento da qual milhares de homens haviam dado a própria vida no campo do martírio e do sacrifício. (16)


3. A monarquia papal


Durante o governo de Constantino os bispos de Roma alcançaram um prestigio jamais imaginado.


Eles […] se tornaram celebridades comparáveis aos Mais prestigiados senadores da cidade. Era de se esperar que os bispos de todo o mundo romano assumissem, agora, o papel de juízes, governadores, enfim, de grandes servidores do Estado. […] No caso do bispo de Roma, tais funções se tornavam ainda mais complexas, pois se tratava de liderar a Igreja numa capital pagã que era o centro simbólico do mundo, o foco do próprio sentido de identidade do povo romano. Constantino lavou as mãos com relação a Roma, em 324, e tratou de criar uma capital no Leste. Caberia aos papas criar uma Roma cristã. Eles deram início a tal empreendimento construindo igrejas, transformando os modestos “tituli” (centros eclesiásticos comunitários) em algo mais grandioso e criando edifícios novos e mais públicos, se bem que a princípio em nada rivalizassem com as grandes basílicas imperiais de Latrão e de São Pedro [esta mandada construir por Constantino]. Nos cem anos seguintes, as igrejas se espalharam pela cidade […]. (5)


Emmanuel, na obra A caminho da luz, nos esclarece o seguinte:


A […] indigência dos homens não compreendeu a dádiva do plano espiritual, porque, logo depois da vitória, os bispos romanos solicitavam prerrogativas injustas sobre os seus humildes companheiros de episcopado. O mesmo espírito de ambição e de imperialismo, que de longo tempo trabalhava o organismo Império, dominou igualmente a igreja de Roma, que se arvorou em suserana e censora de todas as demais do planeta. Cooperando com o Estado, faz sentir a força das suas determinações arbitrárias. Trezentos anos lutaram os mensageiros do Cristo, procurando ampará-la no caminho do amor e da humildade, até que a deixaram enveredar pelas estradas da sombra, para o esforço de salvação e experiência, e, tão logo a abandonaram ao penoso trabalho de aperfeiçoar se a si mesma, eis que o imperador Focas favorece a criação do Papado, no ano 607. A decisão imperial faculta aos bispos de Roma prerrogativas e direitos até então jamais justificados. Entronizam-se, mais uma vez, o orgulho e a ambição da cidade dos Césares. Em 610, Focas [imperador romano que viveu entre 602 e 610] é chamado ao mundo dos invisíveis, deixando no orbe a consolidação do Papado (15)


4. A tradução da Bíblia para o latim


Aproveitando-se das costumeiras disputas políticas existentes entre as igrejas do Ocidente e as do Oriente, e desejoso de estabelecer a hegemonia do Cristianismo, segundo as orientações da igreja de Roma, o papa Dâmaso determina ao seu secretário que traduza para o latim a Bíblia, pois, no seu entender, “era necessário que a Igreja do Ocidente se tornasse latina”.

O secretário de Dâmaso era Eusebius Hieronymus Sophronius, embora fosse mais conhecido na igreja por Jerônimo. Ele foi treinado nos clássicos em latim e grego e repreendia severamente a si mesmo por sua paixão pelos autores seculares. Jerônimo já havia se tornado um dos maiores estudiosos na época em que começou a trabalhar para Dâmaso. Desse modo, Dâmaso sugeriu que seu secretário produzisse uma tradução latina da Bíblia, que eliminasse as imprecisões das traduções mais antigas. (5)

Em 382 Jerônimo inicia a sua obra, terminando a tradução em 405, não sendo esta, porém, a única.


Durante aqueles 23 anos, ele também produziu comentários e outros escritos. […] Jerônimo começou sua tradução trabalhando a partir da “Septuaginta”, versão grega do Antigo Testamento. Porém, logo estabeleceu um precedente para todos os bons tradutores do Antigo Testamento: passou a trabalhar a partir dos originais em hebraico. Jerônimo consultou muitos rabinos e procurava com isso atingir um alto grau de perfeição. Jerônimo ficou surpreso com o fato de as Escrituras hebraicas não incluírem os livros que chamamos hoje apócrifos. Por terem sido incluídos na “Septuaginta”, Jerônimo foi compelido a incluí-los também em sua tradução, mas deixou sua opinião bastante clara: eles eram “liber ecclesiastici” (“livros da igreja”), e não “liber canonici” (“livros canônicos”). Embora os não-canônicos pudessem ser usados para a edificação, não poderiam ser utilizados para estabelecer doutrina alguma. […] (1)

A biblioteca divina, termo pelo qual Jerônimo se referia à Bíblia, foi finalmente disponibilizada em uma versão precisa e muito bem escrita, na linguagem usada comumente nas igrejas do Ocidente. Ficou conhecida por “Vulgata” (do latim vulgus, “comum”). […] Ironicamente, a tradução da Bíblia no idioma que toda a igreja ocidental pudesse usar, provavelmente, fez com que a igreja tivesse um culto de adoração e uma Bíblia que nenhum leigo podia entender […] (15)


5. As cruzadas


As Cruzadas, tradicionalmente, são conhecidas como expedições de caráter militar, mas que foram organizadas pela Igreja, com o objetivo de combaterem os inimigos do Cristianismo. Esse movimento teve início no final do século XI e se estendeu até meados do século XIII. Os Espíritos superiores relatam que esse processo começou, na verdade, em séculos anteriores onde a vaidade e o orgulho contaminaram os responsáveis pelo catolicismo.


Em todo o século VI, de acordo com as deliberações efetuadas no plano invisível, aparecem grandes vultos de sabedoria, contratando a vaidade orgulhosa dos bispos católicos, que em vez de herdarem os tesouros da humildade e amor do Crucificado, reclamam para si a vida suntuosa, as honrarias e prerrogativas dos imperadores. Os chefes eclesiásticos, guindados à mais alta preponderância política, não se lembravam da pobreza e da simplicidade apostólica, nem das palavras do Messias, que afirmara não ser o seu reino ainda deste mundo. (18)


O movimento cristão passa então a contar com uma série de modificações, fundamentadas nas interpretações pessoais dos padres que procuravam adequar a religião cristã aos seus interesses.


O Cristianismo […] não aparecia com aquela mesma humildade de outros tempos. Suas cruzes e cálices deixavam entrever a cooperação do ouro e das pedrarias, mal lembrando a madeira tosca, da época gloriosa das virtudes apostólicas. Seus concílios, como os de Niceia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia, não eram assembleias que imitassem as reuniões plácidas e humildes da Galileia. A união com o Estado era motivo para grandes espetáculos de riqueza e de vaidade orgulhosa, em contraposição com os ensinos d’Aquele que não possuía uma pedra para repousar a cabeça dolorida. As autoridades eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o povo, impondo-lhe suas ideias e suas concepções, e, longe de educarem a alma das massas na sublime lição do Nazareno, entram em acordo com a sua preferência pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil do mundo externo, tão do gosto dos antigos romanos pouco inclinados às indagações transcendentes. (17)


Dessa forma, com a expansão muçulmana, entre 622-1089, iniciam-se as cruzadas, guerra religiosa estabelecida para combater, inicialmente, os seguidores do Islã, mas que atingiu todos os povos não-cristãos, cognominados infiéis. As cruzadas foram em número de oito.

A primeira, decidida no concílio de Clemont, sob a direção do papa Urano II, em abril de 1096, foi comandada por Pedro, o Eremita, e Gautier Sans Avoir, produzindo o massacre dos judeus na Renânia. A segunda, realizada em 14 de dezembro de 1145, por ordem do papa Eugênio III, é coordenada pelo rei da França Luis VII e pelo imperador alemão Conrado III. Surge a figura muçulmana de Saladino, que muito trabalho deu aos cruzados. A terceira cruzada foi organizada em 1188, por Frederico Barba-Roxa, imperador alemão, Filipe Augusto, rei de França, e Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra, a pedido do papa Gregório VIII. A quarta cruzada, proclamada em 1198 pelo papa Inocêncio III, é dirigida por Bonifácio I de Montferrat e Balduíno IX de Flandres. A quinta cruzada inicia-se em 1215, após apelo do papa Inocêncio III, no quarto concílio de Latrão. Foi dirigida por João de Brienne, rei de Jerusalém e André II, rei da Hungria. A sexta cruzada, sob o domínio do papa Gregório IX, começa em novembro de 1225, tendo como comandante o imperador Frederico II, de Hohenstaufen. A sétima cruzada é decidida no concílio de Lyon, em 1248, e tem o comando do rei francês Luis IX (São Luis). A última cruzada, iniciada em março de 1270, também é comandada por Luís IX, mas o exército cruzado, em três meses, é arrasado pela peste, e, o que sobrou, foi dizimado por uma tempestade. (19)


A igreja de Roma, […] herdando os costumes romanos e suas disposições multisseculares, procurou um acordo com as doutrinas consideradas pagãs, pela posteridade, modificando as tradições puramente cristãs, adaptando textos, improvisando novidades injustificáveis e organizando, finalmente, o Catolicismo sobre os escombros da doutrina deturpada. […] É assim que aparecem novos dogmas, novas modalidades doutrinárias, o culto dos ídolos nas igrejas, as espetaculosas festas do culto externo, copiados quase todos os costumes da Roma anticristã. (15)


6. Igreja Católica Apostólica Ortodoxa


Nos começos do cristianismo havia cinco Patriarcas. Cada um deles era o cabeça de um centro de expansão da nova fé, e cada um deles tinha como função expandir o cristianismo numa certa direção geográfica. Primeiro o Patriarca de Jerusalém, no Centro, onde Jesus morreu e ressuscitou. Ao norte, o Patriarca de Constantinopla. Ao sul, o Patriarca de Alexandria, no Egito. Ao Oriente, o Patriarca de Antioquia. E a Ocidente, o Patriarca de Roma. (20)


O Patriarca de Roma, nos séculos posteriores, passou a ser chamado de Papa. A Igreja Ortodoxa, uma das três grandes divisões do Cristianismo, “[…] também denominada Igreja do Oriente (ou Igreja Ortodoxa do Oriente), designa o grupo de igrejas que se consideram depositárias da doutrina e do ritual dos padres apostólicos [guardiões da moral cristã].” (9) Foram eles: Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmima, Hermes de Roma e Barnabé de Alexandria.


Representando a fé histórica da cristandade oriental Igreja Ortodoxa é mais limitativo do que Igrejas orientais, não somente por excluir os cristãos orientais que se reuniram à Igreja Católica Apostólica Romana (uniatas), como também por não compreender as Igrejas que se separaram no século V por motivos doutrinários (nestorianísmo, monofisísmo). Oficialmente chamada Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, ou Igreja grega, em oposição à Igreja latina, católica e romana. A Igreja Ortodoxa abrange os grupos que se originaram do grande cisma de 1054 e que dependem historicamente de Bizâncio (Constantinopla). (9)


As igrejas orientais se subdividem, por sua vez, em três grupos: a Ortodoxa do Oriente, as igrejas nestorianas e as dos monofisistas. As igrejas orientais, embora se aglutinem em torno da igreja Romana, apresentam diferenças quanto aos ritos e às normas disciplinares.

As igrejas orientais nestorianas têm como base as interpretações de Nestor (ou Nestório), patriarca de Constantinopla no ano de 428. Nestor afirmava que em Jesus havia dois “Eu” ou duas pessoas: uma divina, com a sua natureza divina, e outra, humana, com a sua natureza humana.


Ele rejeitava a utilização do termo Theotokos, uma palavra muito usada para referir se a Maria e que significa literalmente Mãe de Deus. Nestor se opôs ao termo não porque exaltasse a pessoa da Virgem Maria, mas porque abordava a divindade de Cristo de tal maneira que poderia ofuscar sua natureza humana. Para solucionar o problema Nestor sugeriu um novo termo — Cristotokos (Mãe de Cristo), querendo com isso afirmar que Maria não era progenitora da divindade mas apenas da humanidade de Cristo. A discussão promoveu intrigas e manobras políticas que terminaram na convocação do terceiro concílio ecumênico, que ocorreu em Éfeso no dia 7 de junho de 431. A polemica ficou mais uma vez em torno dos alexandrinos e antiocanos, estes apoiavam Nestor enquanto os primeiros se opuseram fortemente. O concílio terminou em 433 com parecer favorável a Alexandria, quando o patriarca de Constantinopla foi exilado e posteriormente transferido para um oásis no deserto do Líbano onde ficou até o fim de sua vida. O termo Theotokos, designado a Virgem Maria, se tornou dogma da igreja, como sinal de ortodoxia, tanto para a igreja do oriente quanto à do ocidente. (21)


Os monofisistas representavam uma corrente — ainda relativamente numerosa nos dias atuais — de teólogos cristãos, dirigida por Dióscoro de Alexandria, que propôs (século quinto) uma doutrina contrária à de Nestor: em Jesus haveria um só Eu divino e uma só natureza divina. A sua tese foi rejeitada, em 451, pelo Concílio de Calcedônia, que decretou: em Jesus há uma só Pessoa Divina, ou um só Eu, mas duas naturezas (a divina e a humana). (22)

Historicamente, essas igrejas têm origem nas comunidades cristãs de Antioquia, Alexandria, Corinto e Tessalônica. A cisão, ocorrida definitivamente no século XI, se deu pelo fato de os cristãos orientais não aceitarem a supremacia dos bispos de Roma, quando a sede do Império romano foi transferida para Constantinopla, no ano 330. As divergências se acentuam doutrinária e politicamente, sobretudo nos séculos V e VI. Após o segundo concílio de Niceia (em 787), os orientais não aceitam mais o ecumenismo dos concílios, o celibato dos padres nem a santíssima trindade. (10)

A hierarquia sacerdotal é composta de diáconos, padres, bispos, arcebispos, metropolitas e patriarcas. O celibato é obrigatório apenas para os bispos, não para os padres, embora o casamento deva ocorrer antes da ordenação. A Igreja Ortodoxa tem claustros e monges. Costuma ser chamada de Igreja da Ressurreição, porque dá ênfase à ressurreição do Cristo, em suas prédicas. Tem sete sacramentos e acredita no Dia do Juízo Final. Os serviços religiosos atraem a curiosidades popular pela beleza que oferecem. As igrejas são construídas como o Templo de Salomão, em Jerusalém: há um vestíbulo com a pia batismal; a nave, onde a congregação permanece durante o ofício religioso; o santuário, oculto atrás de um biombo, e que corresponde ao “Santo dos santos” do templo judaico. Apenas o padre tem permissão de entrar no santuário. Durante o serviço religioso a congregação pode ver, a distância, o santuário. O biombo que oculta o santuário se chama iconostas (parede de imagens), porque é coberto de pinturas religiosas, ou ícones, típicos da Igreja Ortodoxa. (11)



 

ANEXO


A Igreja Católica Romana


A igreja católica é, entre as organizações cristãs, a que possui a mais rígida e organizada hierarquia administrativa, formada pelo papa, pelos bispos e padres. Papa é uma palavra latina, de afeto e respeito, que significa “papai”. O papa é também denominado “sumo pontífice”, título latino pagão (pontifix = construtor de pontes). A Igreja católica destaca a posição do papa porque, segundo a sua teologia, ele é o sucessor de Pedro, o apóstolo. Em 1870, foi proclamado o dogma da infabilidade papal em questões de fé.

O vocábulo bispo, do grego episcopos, quer dizer “supervisor”. O bispo, na hierarquia católica, é considerado o principal pastor e centro da igreja cristã. O território sobre o qual governa um bispo é chamado de “diocese”. O papa é o bispo de Roma. Assim como o papa é sucessor de Pedro, os bispos seguem as pegadas dos apóstolos. Uma das funções mais importantes de um bispo é ordenar padres em sua diocese.

Pontífice é sinônimo de sacerdote ou padre. Foi um termo amplamente empregado na igreja cristã primitiva para designar os bispos. A principal tarefa de um padre é dirigir sua paróquia ou comunidade pela pregação e pelo serviço divino, sobretudo pela administração dos sacramentos (considerados as manifestações materiais da graça de Deus). Os padres devem dedicar sua vida a Deus, à Igreja e à humanidade, razão porque permanecem no celibato e não podem constituir família.

A Igreja católica se considera uma expressão visível do reino de Deus no plano físico. A teologia católica ensina que a Igreja tem as quatro características que distinguiram a primeira igreja cristã: é única (existe apenas uma Igreja fiel à palavra de Jesus); santa (é santa porque ensina uma doutrina santa e oferece todos os meios para a santidade: os sacramentos); católica (quer dizer universal, mundial, para todos) e apostólica (a Igreja é dirigida por pessoas que são sucessoras dos apóstolos).

A Igreja católica possui sete sacramentos, a saber: batismo da criança (por meio dele a criança na Igreja); confirmação (sacramento administrado por um bispo quando a criança tem, mais ou menos, doze anos de idade. A criança é untada com óleo e, assim, confirma sua fé católica. Trata-se de uma cerimônia realizada perto da festa de Pentecostes); eucaristia (parte do serviço divino do sacerdote que entrega ao crente o pão consagrado ou hóstia. A hóstia representa o corpo do Cristo. A eucaristia é também chamada comunhão); penitência (consiste na confissão, absolvição e atos de contrição); unção de enfermos (o padre unge a pessoa enferma na testa e nas mãos, para curá-lo); ordem ( é a ordenação sacerdotal, realizada por um bispo, utilizando orações e imposição de mãos); matrimônio (aqui o elemento crucial não é a bênção do sacerdote, mas os votos mútuos que os noivos fazem na presença do sacerdote e das testemunhas).

Os católicos acreditam que o “povo de Deus” é formado pela comunidade de crentes, que formam a “comunhão dos santos”, fazendo parte desta comunidade os vivos, os mortos que se encontram no purgatório e os bem-aventurados do céu. Os católicos oram a Jesus, a Maria Santíssima e aos santos. Os santos são pessoas que dedicaram a vida a honrar a Deus de maneira excepcional, por exemplo, morrendo como mártires ou fazendo milagres. Até o ano 1172 os bispos podiam dizem quem podia ser canonizado; a partir de então somente o papa tem autoridade para isso.

Desde 1960 a Igreja católica vem passando uma série de renovações, iniciadas pelo papa João XXIII, quando realizou um encontro geral dos bispos (concílio) no Vaticano. Algumas dessas mudanças são significativas: campanha de leitura da Bíblia, formando grupos de estudo; relacionamento com outras igrejas cristãs; participação em atividades ecumênicas, não necessariamente cristãs; participação do Conselho Mundial de Igrejas, como observadora.

A Igreja católica possui vários dogmas de natureza teológica. Dogma (do latim “dogma”, e do grego “dogma”), significa ato ou decisão. Trata-se de um ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa, e, por extensão, de qualquer doutrina ou sistema. O dogma da santíssima trindade afirma que há um só Deus em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O dogma do pecado original ensina que os males da humanidade terrestre se reportam a Adão e Eva que comeram o fruto proibido da árvore da vida, razão porque foram expulsos do Paraíso. O homem pecador foi resgatado do erro pela imolação ou crucificação do Cristo. O dogma das penas eternas liberta o homem do sofrimento eterno, em razão dos erros cometido, se este aceitar as instruções do catolicismo que determina : “Fora da igreja não há salvação”. n



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Dividir a turma em dois grupos, cabendo a cada um o estudo, a troca de ideias e resumo dos dois assuntos constantes deste Roteiro (Igreja Católica Romana e Igreja Católica Ortodoxa). Após a apresentação dos relatos do trabalho em grupo, fazer considerações espíritas sobre o assunto.



Referências:

1. CURTIS. A. Kenneth, J. Stephen Lang, Randy Petersen. Os 100 acontecimentos mais Importantes da História do Cristianismo. Tradução de Emirson Justino. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2003. Ano 405 p. 51-52.

2. DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. Tradução de Leopoldo Cirne. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 5 ( Relação com os espíritos dos mortos), p. 63-64.

3. DUFY Eamon. Santos e Pecadores; História dos Papas. Tradução de Luiz Antônio Araújo. São Paulo: Cosac e Naify, 1998. Capítulo 1 (“Sobre esta pedra”), item I; de Jerusalém a Roma, p. 6.

4. Idem - Item 2. os bispos de Roma, p. 9.

5. Idem - Item 4. o nascimento da Roma papal, p. 28-29.

6. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo, 1995. Vol. 5. Itens 1 e 2, p. 2176.

7. [Obs. Nos originais esse número está faltando, da referência 6 pula para a 8]

8. Idem - Item 11, p. 2178.

9. Idem - Vol. 11, p. 5969.

10. Idem, ibidem - p. 5969-5970.

11. HELLEN, V., NOTAKER, H. E GAARDER, J. O Livro das Religiões. Tradução de Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letra, 2000, item: A igreja ortodoxa, p. 191-194.

12. XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz. 32 ed. Rio de Janeiro: FEB,  2005. Capítulo 15, (Evolução do Cristianismo), item: Constantino, p.  137.

13. Idem - Item: Constantino, p. 137

14. Idem - Item: O papado, p. 138.

15. Idem - Capítulo 16 (A Igreja e a invasão dos bárbaros), item: vitórias do Cristianismo, p. 139-140.

16. Idem - Item: primórdios do catolicismo, p. 140-141.

17. Idem - Item: a igreja de Roma, p. 141-142.

18. Idem - Capítulo 17 (A idade Medieval), item: os mensageiros de Jesus, p. 147

19. http://www.arqnet.pt/portal/universal/cruzadas/indice.html

20. http://www.eduquenet.net/ritoscristianismo.htm

21. https://pt.wikipedia.org/wiki/Nestório

22. http://www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=1670

Nota:

[1] [Falta indicar a fonte de referência do texto em anexo]


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