O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vivendo sempre — Familiares diversos


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Carlos Gataz Stur

MENSAGEM


1 Querida mãezinha, meu querido papai, nossa querida Mira, a abençoada Mira de nossa amizade.

2 O pensamento em Deus me envolve no abraço que lhes trago, porque não posso começar estas notícias sem pedir a Deus que a todos nos abençoe.

3 Há quem diga que meninos não sabem orar, mas, se sofremos, a nossa primeira ideia se volta para a Bondade Suprema, rogando alívio e conformação.

4 Queridos pais, estou em companhia da tia Lili que me auxilia a escrever. Ainda não estou muito diferente da forma que assumi naqueles primeiros dias de fevereiro passado. O tratamento continua, embora com menos dor.

5 As pessoas no mundo, ao que hoje me parece, estão dormindo mesmo quando acordadas, pois não costumamos imaginar que possuímos um corpo que é o nosso próprio corpo depois da morte física.

6 Papai, agora, imagino que a forma verdadeira é a de cá, onde me vejo presentemente e que aí no mundo temos apenas um xerox da pessoa que realmente somos. Tudo aqui mudou e, ao mesmo tempo, preciso dizer que a mudança não é assim sensacional.

7 Estou muito bem tratado num hospital maior que o Sírio Libanês, e onde os aparelhos para as minhas melhoras não me castigam tanto o estômago e os intestinos.

8 Estou melhorando, pouco a pouco, mas melhorando sempre. Noto também que estou com os meus raciocínios amadurecidos. Não saberia hoje escrever na condição do rapazinho doente que eu fui.

9 Não sei explicar a ocorrência, nem sei dizer quanto tempo estive em regime de sonoterapia ou de anestesia mesmo, depois que me retiraram do corpo que não me aguentava mais.

10 Nos instantes de partida, quis conversar com a nossa querida Belmira (Mira) e agradecer por todas as bênçãos que recebi, mas um torpor invencível me invadiu a cabeça. Parecia a mim mesmo, alguém que não vencia a sede de dormir.

11 Quando acordei, supondo-me no hospital e no mesmo setor de gastroenterologia, chamei por mamãe e Belmira, mas em meio das enfermeiras desconhecidas, apareceu a nossa tia Maria, a quem mamãe me ensinou a tratar como sendo para ela um neto que ela não conseguia ver.

12 Uma alegria muito grande me tomou o coração. Julguei que a nossa doce e velha tia Maria se curara dos olhos e nem de longe entendi que estávamos em outro campo vibratório. Ela me disse: — Carlinhos, eu vim abraçar você por Esmeralda e pelo Karl e desejo que você esteja satisfeito.

13 Abracei-a, mas não sei se ela pensou em vocês ou por que motivo me veio ao coração os ecos do pranto que havia em casa. Via meu pai sério e magoado na tela de minha imaginação e vi mamãe a chorar…

14 Procurei por Belmira em mim e encontrei-a também. A nossa querida amiga estava em prece, a lembrar-se do nosso encontro final. Foi quando tia Maria me abriu as explicações.

15 Não poderia ter tantas notícias de separação, sem chorar muito, mas outros amigos apareceram — a tia Lili, a vovó Katharina que eu não ouvia muito bem, o irmão Louzada e o Paulo, um companheiro de escola que eu conhecia. Há sempre gente boa amparando alguém que sofre e naquele instante esse alguém era eu mesmo…

16 Não foi fácil habituar-me à nova situação, porque as dores voltavam e fui obrigado a tomar sedativos. Compreendi, pouco a pouco, que ninguém desencarna de uma vez, como também, na Terra ninguém nasce sem preparação.

17 Agora, tenho apenas alguns resquícios da dor muito raramente, quando me afundo de todo nas recordações do hospital da Terra.

18 Venho pedir-lhes paz e resignação. As doenças no mundo, pelo que observo, de modo geral, nascem conosco e eu trazia dívidas em mim próprio que só a moléstia superada conseguiria resgatar.

19 Mãezinha e meu pai, lembrem-me forte e sadio. Isso me auxiliará.

20 As imagens que chegam da Terra até nós são impressões vivas que se apegam a nós, criando-nos dificuldades quando se trata de lembranças que devemos esquecer.

21 Quero ter forças novas e aprender o que me ensinam. Preciso caminhar para a frente e as tristezas não auxiliam muito. Servem somente quando nos auxiliam a pensar naquilo que devemos ser, sem procurar parecer o que éramos. Não sei se me explico claramente, porque em minha condição nova sinto e vejo muitas cousas que não cabem nas palavras que usamos no mundo de uns para com os outros.

22 Sei apenas que o amor não sofre alteração alguma. E porque a saudade é filha do amor, a lembrança de vocês em nossa felicidade no lar bate em meu pensamento como se fosse um relógio.

23 Mamãe, perdoe seu filho, se falo assim. Preciso ser forte tal qual me ensinou o papai, com quem aprendi a não tremer de medo e nem a chorar.

24 Estou bem e venho até aqui para agradecer e falar, sobretudo, a meu pai que a outra vida existe mesmo. A vida que não existe, por ser transitória, é essa em que vivemos na Terra. Prometi a mim mesmo que daria a meu pai pelo menos algum estudo sobre isso.

25 Parentes nossos da família Stur são diversos a me visitarem e mais tarde, espero a possibilidade de viajar com eles para conhecer o que apenas via nas publicações e nos retratos.

26 Belmira, beijo as suas mãos. Sou muito agradecido pela força de fé em Deus que recebi de sua dedicação. Ainda escuto as suas palavras: — “Fique tranquilo, Carlinhos, esses fios e essas ampolas vão passar. Queremos o seu sorriso.” Não sei se conseguia sorrir, mas aquelas palavras vindas de você me revigoravam os pensamentos.

27 Mãezinha e meu pai, tudo esteve e está certo. Não creiam que outros médicos me teriam curado, que a Europa me ofereceria maiores recursos.

28 Mais tarde, vamos saber porque a doença me apanhou assim tão cedo. Há leis que vigoram sobre as que conhecemos e trazemos em nós próprios as sementes que se desenvolverão em nosso corpo da Terra, sejam as da alegria ou as do sofrimento. Por aí, no entanto, nada está definitivo. Tudo vai passando, passando…

29 Somos crianças, depois meninos grandes, mais tarde jovens robustos e bem depois disso a vida se nos apresenta em maneira diferente. Pai querido, pense nisso e não se entristeça. É preciso viver e trabalhar, viver para aperfeiçoar-nos e trabalhar para os outros a fim de servir a nós mesmos.

30 Agora, vou colocar o ponto final. Só em papel e lápis e continuaremos juntos conversando no coração.

31 Agradeço por tudo e peço receberem, com a nossa querida Mira, todo o coração do filho reconhecido, sempre mais reconhecido,


Carlinhos


COMENTÁRIOS


A vida espiritual continua, lógica, clara e sequencial à vida terrena. Prova cabal nos traz Carlos Gataz Stur.

“…Estou muito bem tratado num hospital mais amplo que o da Terra, onde estive, e onde os aparelhos para as minhas melhoras não me castigam tanto o estômago e os intestinos”.

Ante o pai se refere à forma verdadeira de nossa existência, na confirmação de que o corpo físico é apenas uma xerox do corpo espiritual. Expõe com humildade e reconhecimento o carinho recebido.

Nos momentos de despedida, anotava a presença da tia Lili e ofertava flores à mãezinha, dizendo tê-las recebido da tia, então, no Plano Espiritual.

A sua mensagem muito diz de tudo isso.


PESSOAS E FATOS


Carlos Gataz Stur.

Nascimento: 7.10.1962. Desencarnação: 7.2.1977.

Pais: Karl Stur e Esmeralda Gataz Stur. Rua Pernambuco, 108. São Paulo — SP.

Mira: (Dona Belmira), amiga da família, acompanhava o Carlinhos durante a doença.

Vovó: Katharina Stur, bisavó paterna.

Tia: Lili, desencarnada, irmã de Esmeralda, mãe de Carlinhos.

Maria, tia de Esmeralda, mãe de Carlinhos, a quem ele chamava de avó, desencarnou dois meses antes dele, com 103 anos de idade e estava cega há cerca de 30 anos.

Irmão Louzada, irmão de Belmira (Mira).

Paulo, colega de escola.


Rubens S. Germinhasi


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