O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Viajaram mais cedo — Familiares diversos


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Nelly Ferreira

São Paulo (SP), 07 de abril de 1965 — São Paulo (SP), 02 de março de 1983

Filha do Prof. Dr. Celso Ferreira, titular da Cadeira de Cardiologia da Escola Paulista de Medicina, e de D. Elza Lo Ré Ferreira, Nelly faleceu aos 18 anos incompletos, quando cursava o último ano de Magistério, no Colégio Notre Dame, em São Paulo.

Alegre, muito voltada às crianças, conhecia piano, flauta e violão; completam-lhe o grupo familiar os irmãos Celso Ferreira Filho e Marcelo Ferreira.

“Pela magia da flauta e os acordes de seu violão, Nelly exibia personalidade voluntariosa, nada convencional, sempre certa do que fazer e dizer. Era, não obstante, uma menina-moça, meiga, doce, sensível e, sobretudo, muito bondosa e carinhosa, sempre com as cordas da sua sensibilidade à frente da razão e do convencional.” Assim, em síntese formidável, sua mãezinha Elza nos descreve Nelly.


DEPOIMENTO


Sem Nelly, sentimos que o nosso lar ficara totalmente destruído e temíamos não poder levar a vida adiante, apesar de nossos outros dois filhos.

Amigos nos levaram até a presença de Chico Xavier, de início no Rio de Janeiro e, posteriormente em Uberaba.

Na segunda viagem a Uberaba, pudemos reencontrar nossa filha Nelly. Somente assim, embora com a irreparável perda e com a alma dilacerada, pudemos ter os elementos, a esperança e a força para reconstruir nosso lar…


Elza Lo Ré Ferreira


MENSAGEM


1 Querida mãezinha Elza e querido papai Celso. Estamos num instante em que a minha alegria transborda do peito, de modo indefinível.

2 Admito que possam assimilar a essência do meu júbilo, porque trazer no coração a expectativa de um adeus interminável e, depois, reencontrar a felicidade do nosso abraço em família, sem que força alguma nos afaste uns dos outros, a meu ver, é tomar posse de uma felicidade que se imagina no mundo, sem o menor recurso para encontrar-lhe a beleza.

3 Sei que a grande barreira foi atravessada…

4 De começo, lutei contra a sugestão de me desligar do corpo cansado e enfermo. 5 O doente é um cliente do consultório da esperança em todos os momentos da vida, depois de se acomodar com a enfermidade. 6 E, nesse aspecto da minha situação, acreditei sempre que me livraria do peso incômodo daquele enfeite purgatorial que eu trazia.

7 Prefiro usar a presente conceituação porque chega o momento no qual descobrimos que a moléstia prolongada é um adorno para a alma, muito embora não queiramos exibi-la nessa condição, enquanto andamos por aí, suportando o fardo de nossas inibições orgânicas.

8 Não pensava em desligamento da vida terrestre e queria, a qualquer preço, continuar sendo a companheira ou a boneca mimada da mãezinha Elza.

9 Mãe, recordo-a, com a sua bondade, pisando devagarinho no quarto, supondo-me a dormir e temendo acordar-me de modo inconveniente. Ainda sinto as suas mãos de veludo a me tocarem de leve, para indagar depois se eu ainda sentia dores fortes.

10 Retorno à sua presença querida e revejo os seus olhos molhados de lágrimas, em me observando o abatimento gradativo. Lágrimas que você sabia disfarçar para que eu não me acreditasse em piora incessante…

11 De tudo me lembro e tudo agradeço… Que preciosidades existirão suscetíveis de significar o reconhecimento dos filhos pela dedicação dos pais? Creio que não existem.

12 Por isso, rogo a Jesus lhes conceda um pedaço de Céu em nossa casa com muitas felicidades junto a meus irmãos. A Divina Providência recompensá-los-á pelo muito amor com que me fortaleceram a certeza de que eu viveria para a nossa união indestrutível…

13 Se a doença era uma coleção de sintomas difíceis de suportar, o carinho que me doavam era um anestésico permanente, com o qual sonhei por muito tempo com uma cura física impossível.

14 Quando dormi o longo sono de que não despertei tão depressa, alguém estava comigo, à maneira da mãezinha Elza, velando e acariciando-me, qual se eu houvesse voltado a ser uma criança…

15 Demorei-me a identificar a diferença, mas acabei por reconhecer a vovó Nelly,  n que tem sido para mim outra mãe pelo coração.

16 É nessa disposição de quem se reencontra devagar na existência nova que fui chamada a viver, que estou aqui para lhes agradecer e lhes beijar as mãos queridas.

17 Peço à querida mãezinha Elza alegrar-se e viver. Não podemos esquecer que o papai Celso e os nossos queridos Celso e Marcelo, os irmãos inesquecíveis, contam com a sua dedicação.

18 Mãe querida, rogo-lhe fortaleza de ânimo e fé viva em Deus, que nos criou para a vida e não para a morte.

19 Estou muito sensibilizada em lhes apresentando minha alma reconhecida. Por isso, peço aos pais queridos me perdoarem a indigência das palavras que não me retratam os sentimentos.

20 E recebam os dois, com os nossos valorosos meninos, muito amor, todo este amor que me corre do íntimo ao encontro dos pais bem-amados, rogando à mãezinha Elza receber os beijos orvalhados do pranto de alegria e reconhecimento da sua filha, sempre a sua


Nelly

Nelly Ferreira

12.11.1983.    



[32] Nelly Ramos Lo Ré faleceu em 1964.


Caio Ramacciotti

Paulo de Tarso Ramacciotti


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