O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Tesouro de alegria — Autores diversos


10


Ausência e fé

1 Alma fraterna, um dia meditando
Na imensidão do amor, assim qual é,
Interroguei, no mundo, as vidas simples
De que modo aliar distância e fé.


2 Por que meios guardar a confiança
Quando o amargo da ausência nos invade?
Quando a falta dos entes mais queridos
É suplício com o nome de saudade?


3 Ouvi uma andorinha
Que se encontrava anônima e sozinha,
Sob antigo telhado:
— “Veja, irmã, o meu ninho desprezado!…”


4 Disse-me sem revolta e sem tristeza.
— “Tive filhos que amei com desvelo e ternura,
Entretanto, segundo a Natureza,
Quando se viram emplumados,
Procuraram altura,
Desenvoltos, felizes, fascinados
Ante o Infinito Azul que os atraía…


5 A princípio, sofri terrível agonia…
Depois, vim a saber
Que Deus, de quem vieram para mim,
O Pai de Imenso Amor e Compaixão sem fim,
Que pode avaliar a minha longa espera,
É quem me fará vê-los,
Para cercá-los com meus zelos
No brilho de futura primavera!…”


6 Entrevistei robusta laranjeira;
Ela clamou serena e conformada:
— “Irmã, tenho lutado a vida inteira
E estou sempre ferida ou despojada…
Sabe o Céu com que amor gero os meus frutos,
No entanto, a todos vejo arrebatados,
Sob torções cruéis e, a gestos brutos,
Para serem vendidos nos mercados.
Mas sei que Deus, nosso Pai, que nos ama e nos fez,
Quem conserva o pomar por troféu da lavoura,
Devolverá meus frutos, outra vez,
Na colheita vindoura…”


7 Busquei ouvir formoso jasmineiro.
Ele falou-me apenas: — “Minhas flores
São taladas sem meu consentimento
Por criaturas de instintos inferiores
Que nada sabem de meu sofrimento…
Uma certeza única, no entanto,
Resguarda as forças de que me levanto:
Deus, o Criador das Matas e Jardins
Dar-me-á novamente outros jasmins…”


8 Fui ver um manancial, a fim de ouvi-lo…
Ele aclarou tranquilo:
— “As fontes que me trocam pelo chão
São filhas de meu próprio coração!…
Dói-me notar que correm sobre a lama,
Auxiliando ao solo que as reclama…
A fé, porém, me anima e me acalenta…


9 Em abordando o Mar, o belo e imenso Mar que Deus sustenta,
Tornarão a voltar,
Primeiramente em forma de vapor,
Subindo ao firmamento…
No Alto, serão nuvens, contemplando
As minhas grandes mágoas
E voltarão a mim, entre chuvas em bando,
De novo enriquecendo as minhas próprias águas!…”


10 Reconheci, então, alma querida,
Que a saudade é esperança em nova vida,
Para o reencontro daqueles que nos são
Tesouros de alegria e de afeição,
A esperarem por nós no Mais Além…
Porque Deus que de amor nos fez o coração
Nunca nos deixa em solidão
Nem separa ninguém.

Maria Dolores


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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