O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Reencontros — Familiares diversos


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Homenageando Cornélio Pires

Um dos filhos mais ilustres de Tietê — cidade paulista localizada às margens do histórico rio que lhe empresta o nome — é, sem dúvida alguma, Cornélio Pires, um eterno namorado de sua terra.

Poeta, contista, jornalista, radialista, conferencista, cinegrafista, humorista, folclorista, considerado “o pai do folclore paulista” — ele foi, acima de tudo, humano e humanitário, vivendo em contato permanente com o povo, sua grande família, que tão bem soube analisar e compreender.

Dotado de um dinamismo invejável, gravou dezenas de discos com temas humorísticos e músicas sertanejas; realizou dois filmes documentários e escreveu 23 livros, atualmente todos esgotados, com exceção de Meu Samburá. Na sua obra literária destacaremos: Seleta Caipira, Conversas ao Pé do Fogo, Cenas e Paisagens de Minha Terra, Coisas d’Outro Mundo e Onde estás, ó Morte?, sendo estes dois últimos genuinamente espíritas. n


Cornélio foi espírita? Sim. Adepto consciente e devotado, muito divulgou o Espiritismo nas regiões por onde viajava. A propósito de sua conversão, escreveu Afonso Schmidt: “Um dia, começou a afastar-se dos grandes centros, a estudar, a riscar novos caminhos. Como Shakespeare passou a afirmar que, entre o Céu e a Terra, há coisas que ignora a vã filosofia. Mas ei-lo que volta à publicidade. Traz para o público um recado diferente. Diferente de sua obra e da quase totalidade dos livros que por aí se publicam. É espírita. É uma mensagem de esperança a todos os infelizes que, vivendo a existência atribulada de nossos dias, acabaram por perder a fé nos altos destinos do ser humano.” (Do artigo: “Lembranças… Cornélio Pires”, jornal O Democrata, Tietê, SP, 18/8/1974.)


Visitando Tietê


A caminho de Tietê, já identificamos o carinho com que Cornélio é lembrado pelo seu povo, observando o nome da Rodovia Estadual que liga essa cidade a Piracicaba: é o seu próprio!

Lá chegando, procuramos o historiador Benedicto Pires de Almeida, mais conhecido por Zico Pires, grande conhecedor da vida e da obra corneliana. Colhemos dele informes preciosos e com a sua orientação visitamos os seguintes pontos históricos, que recordam a memória de Cornélio, tão afetuosamente cultivada em sua terra natal:

1. Casa onde ele nasceu, há quase um século, a 13 de julho de 1884, no sítio de Nhá Bé, hoje da família Ghizzi. Distante poucos quilômetros da cidade, está localizada no Bairro do Garcia, a duzentos metros do rio Tietê.

2. Casa onde ele residiu durante muitos anos, no antigo Largo da Ponte, hoje Praça Cornélio Pires. O fundo do quintal desta casa fica à margem do rio Tietê.

3. Herma de Cornélio Pires, na Praça Dr. Elias Garcia, a principal da cidade. Numa das faces laterais da coluna de sustentação, há uma placa em bronze com a relação de seus principais livros, incluindo os dois espíritas.

4. Casa dos Meninos de Tietê, ex-Granja de Jesus, que assiste menores necessitados, geralmente órfãos. O Sr. Zico Pires contou-nos que “Cornélio, nos últimos anos de sua vida, acalentou a ideia de fundar, em Tietê, uma instituição destinada a abrigar meninos desamparados de sua cidade. Num bairro da cidade comprou uma chácara de 3,1/2 alqueires para tal finalidade. Alguns meses antes de falecer, conseguiu o apoio das autoridades da cidade para a fundação da sociedade que idealizara. Com a sua presença, em 14/8/1957, realizou-se uma assembleia no Fórum local, constituindo-se, então, a Granja de Jesus que teria sua sede na chácara doada pelo folclorista. Seis meses depois, Cornélio falecia, mas a diretoria deu andamento ao projeto, sendo inaugurada alguns anos após, estando em funcionamento até hoje.” Atualmente, ocupando uma área de 1000m2 de construção, abriga 24 órfãos. É mantida pela Prefeitura Municipal.

5. Cornélio faleceu a 17 de fevereiro de 1958, em São Paulo, após prolongada enfermidade. No mesmo dia, seu corpo foi trasladado para Tietê. No seu túmulo anotamos este interessante epitáfio gravado num livro aberto marmorizado:

“Cornélio Pires veio a este mundo de provações em 13-7-1884 e voltou à Pátria Espiritual em 17-2-1958. Cornélio Pires amou a sua terra e a sua gente. Aqui repousa o seu corpo, mas o seu Espírito vive agora a verdadeira vida entre os bons.”

Exato. Pela sua produção literária vinda do Além, deduzimos que o poeta tieteense vive, realmente, a verdadeira vida com aqueles que trabalham, incansavelmente, com amor e renúncia em benefício da Humanidade.

Se problemas impedem, no momento, a reedição de suas obras, elaboradas quando encarnado, ele continua escrevendo, agora por via mediúnica, dentro de seu estilo inconfundível, páginas e páginas poéticas de grande valor. Até hoje, Cornélio Espírito, transmitiu pela psicografia de Chico Xavier (o 1º em parceria com o médium Waldo Vieira) os seguintes livros: O Espírito de Cornélio Pires (Ed. FEB); Retratos da Vida e Conversa Firme (Ed. CEC); Baú de Casos (Ed. IDEAL); e Coisas deste Mundo (Ed. O CLARIM).

6. No edifício da Câmara Municipal, está bem instalado o Museu Histórico, Pedagógico e Folclórico “Cornélio Pires”, preservando a memória do ilustre folclorista e prestando real benefício aos estudiosos.


Cornélio em Itapira


O médium Francisco Cândido Xavier, visitando pela primeira vez a cidade de Itapira, SP, compareceu a uma reunião pública, no Cine-Teatro da Fundação Espírita “Américo Bairral”, na noite de 22 de agosto de 1973, quando psicografou o lindo poema Festa de Itapira, de autoria do Espírito de Cornélio Pires.

Meses depois, no mesmo local, na noite de 9 de janeiro de 1974, também em reunião pública, o médium Xavier recebeu do poeta tieteense outro poema, intitulado Encontro de Itapira.

E, recentemente, atendendo nosso pedido, o distinto e operoso confrade César Bianchi, residente naquela cidade, fez exaustivo e meticuloso trabalho de identificação dos personagens e demais citações das referidas poesias, do qual publicaremos uma síntese. No início deste trabalho ele colocou um oportuno Esclarecimento, assim redigido:


“Dos personagens citados pelo Cornélio Pires, Chico Xavier somente conhecia Onofre Batista. Pela primeira vez, o médium esteve em Itapira, de passagem rápida, em 22/8/1973, o mesmo acontecendo quando aqui veio em 9/1/1974, numa visita que fez a um internado. Desconhecia, portanto, por completo, os demais personagens e as citações feitas por Cornélio.

A identificação dos personagens exigiu demorada pesquisa e contamos com a colaboração eficiente do João do Norte (João Torrecillas Filho).

O contato de Cornélio com a população itapirense, a partir de 1916, graças aos seus atraentes espetáculos, à sua expansividade e facilidade de penetração no meio ambiente social, é o que o tornou conhecidíssimo e estimado por todos, mantendo um convívio que lhe permitiu conhecer as pessoas e a história de Itapira. Esses seus amigos tomando conhecimento de que Cornélio iria estar presente e transmitiria mensagens pelo médium Xavier, não só aproveitaram a oportunidade de cumprimentá-lo, como a de participar da Festa e do Encontro, como das homenagens ao Aniversário de Itapira, n muitos deles citados nestas mensagens poéticas. De fato, para os Espíritos, principalmente os itapirenses, foram três dias de grande festa espiritual.

Cornélio Pires tinha razões para demonstrar afeição a Itapira. No início de suas viagens pelo interior paulista, apresentando famosos espetáculos, nas praças e palcos teatrais, esta cidade o acolhia calorosamente, lotando o Cine Teatro Recreio. O humorista tieteense cultivava sólida amizade com o saudoso empresário Rodolfo Paladini, que vendia Permanentes Mensais, garantindo, assim, boa frequência aos espetáculos. Daí constantes vindas a Itapira. Cornélio sempre trazia novidades artísticas, duplas caipiras, realizando apresentações de agrado geral.”


FESTA E ENCONTRO DE ITAPIRA


FESTA DE ITAPIRA


  1 Meus irmãos, nesta cidade,

  Onde a bondade se asila,

  Peco a Deus conceda a todos

  A paz da vida tranquila.


  2 Vida tranquila, a meu ver,

  É aquela paz do trabalho:

  Malho amparando a bigorna,

  Bigorna amparando o malho.


  3 Aqui estou simplesmente

  No afeto que não se atrasa,

  Apresentando os amigos

  De visita à nossa casa.


  4 Anoto o primeiro deles,

  Começando a minha lista.

  Entendo. Todos já sabem:

  É o nosso Onofre Batista. n


  5 Encontramos junto dele

  Nosso Américo Bairral, n

  Que prossegue valoroso

  Na vitória sobre o mal.


  6 Duas irmãs me comovem…

  Que união ditosa e linda!

  Gracinda n abraçando Hortênsia, n

  Hortênsia abraça Gracinda.


  7 De amigos inesquecíveis,

  Dois deles tenho ao meu lado,

  São dois corações em festa:

  Carolino n e João Machado. n


  8 Abraço o Doutor Hortênsio, n

  Coluna forte do bem,

  Sempre o médico seguro

  E grande escritor no Além.


  9 Aparecem mais amigos…

  Martins, n Ângelo, n Roldão n

  Continuam sustentando

  Nossa bela Fundação.


  10 Muitos músicos vieram…

  Quem diz que não tocam mais?

  Revejo o Fidelis Trani n

  E Albertino de Morais… n


  11 Um deles deixa o conjunto,

  Em saudação vem a mim,

  É o nosso amigo Santato, n

  Armado de bandolim.


  12 Ouvem-se acordes suaves,

  Relembrando a Banda Lira, n

  Outros falam de saudades

  Das serestas de Itapira.


  13 Conduzindo ex-internados

  — Turma de paz e carinho,

  Alguém nos pede passagem,

  É o irmão Olegarinho. n


  14 O grande Amorim Correia, n

  Distinto renovador,

  Também veio à nossa festa,

  Trazendo bênçãos de amor!…


  15 — “Que noite maravilhosa

  Nesta linda quarta-feira!” —

  Bentico n exclama, falando

  Ao nosso Chico Vieira. n


  16 Diz Benedito Ferreira, n

  Zombando, risonho e sério:

  — “É isso aí… Ninguém fica

  Nas grotas do cemitério.”


  17 No entanto, devo afastar-me,

  De certo, sabem porque…

  Devo estar com nossa gente

  Nas preces em Tietê. n


  18 Assim sendo, meus irmãos,

  Deixo agora o nosso lar.

  O Cristo nos pede amor,

  Procuremos trabalhar.


Cornélio Pires


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Onofre Batista — Nasceu em Portugal, em 1886, vindo para o Brasil ainda criança. Foi empreiteiro de obras. Em 1907, fixou residência em Itapira, já casado com Gracinda Ferreira. Tornando-se espírita, imprimiu novas diretrizes à sua vida, norteando-a pelas virtudes da humildade e fraternidade. Assim é que, ao construir sua residência na rua da Penha, ergueu nos fundos do quintal sete casinhas para famílias pobres, cedendo umas de graça e outras por aluguel pequeno.

No porão de sua casa, que era habitável, ele e sua abnegada esposa Gracinda davam assistência a enfermos pobres, quase sempre recolhidos das ruas, numa época em que na cidade de Itapira não havia um mínimo de assistência social.

Aceitou a tarefa de angariar assinantes para o jornal O Clarim e a Revista Internacional de Espiritismo, de Matão/SP. Desejava, também, difundir a Doutrina que o tornara um homem feliz. Assim é que, percorrendo cidades de diversos Estados do Brasil, não só angariava assinaturas para esses periódicos, como pregava o Espiritismo e prestava, inclusive, auxílio às Instituições assistenciais por onde passava. Onofre, no retorno de uma das suas longas viagens, trouxe a ideia de edificar um hospital para enfermos mentais. E, em 1936, adquire uma quadra de terra, lança a pedra fundamental e surge a instituição que se tornou, hoje, a Fundação Espírita “Américo Bairral”.

Grande golpe o atingiu no meio da caminhada, com a desencarnação de sua esposa, aquela que norteara os seus passos e que contribuíra para as vitórias alcançadas: Gracinda regressou ao Mundo Maior em setembro de 1946. Mas Deus deu-lhe outra companheira que veio incentivá-lo a prosseguir na árdua jornada escolhida. A 22 de novembro de 1948, casa-se com Hortênsia Lima Batista.

Após 17 anos de feliz companhia, essa também abnegada companheira deixou a vida terrena, desencarnando a 29 de março de 1965. E, três meses depois, a 19 de junho de 1965, Onofre partiu para a Espiritualidade. Seu nome está imortalizado numa das ruas da cidade.


2 — Américo Bairral — Com um grupo de confrades fundou, a 15 de outubro de 1915, o Centro Espírita “Luiz Gonzaga”, que presidiu até a sua desencarnação. Homem organizado e metódico, programou um trabalho intensivo de estudo e difusão espírita, com trabalhos mediúnicos, especialmente de desobsessão, de fluidoterapia, receituário mediúnico e fornecimento de medicamentos homeopáticos. Aos domingos, dava aula de moral cristã às crianças. Deu início à construção de um hospital para doentes mentais, chegando a erguer o primeiro pavilhão do Asilo “Luiz Gonzaga”, hoje Casa de Repouso “Allan Kardec”.

Desencarnou em 16 de outubro de 1931, com apenas 46 anos. Como preito de gratidão e em homenagem ao seu trabalho em prol dos necessitados e como idealizador de um hospital para enfermos mentais em Itapira, a instituição fundada pelo casal Onofre e Gracinda Batista foi denominada Fundação Espírita “Américo Bairral”.


3 — Gracinda — Gracinda Batista, de origem pobre, veio de Portugal ainda criança. Casou-se com Onofre Batista em 1905, constituindo em Itapira um lar de dez filhos.

Em setembro de 1936, com o esposo, fundara o Sanatório Espírita “Amério Bairral” (hoje Fundação). Concluídos os primeiros cômodos, em colaboração com sua filha Dalila, ia recolhendo os enfermos que vinham de toda a parte, num crescendo assustador, dando-lhes assistência com os poucos recursos da época. Quando a Terra não tem, o Céu supre, e foi o que aconteceu, através das excelentes mediunidades de mãe e filha, ali trabalhando como instrumentos de Deus, na prática do amor ao próximo. Enquanto isso, o esposo Onofre, percorrendo cidades e Estados, ia angariando donativos para a Instituição. Enferma, D. Gracinda viu-se obrigada a deixar o hospital em 1938, vindo a desencarnar em 28 de setembro de 1946. Seu nome está imortalizado na Creche Lar “Gracinda Batista”.


4 — Hortênsia — Hortênsia de Lima Batista, foi a segunda esposa de Onofre Batista. Mulher virtuosa, muito auxiliou Onofre no prosseguimento de sua espinhosa tarefa. Desencarnou em 29 de março de 1965.


5 — Carolino — Carolino Rodrigues de Oliveira, comerciante e administrador de Fazendas. Faleceu com 59 anos de idade, em 7 de maio de 1944.


6 — João Machado — João Pereira Machado Sobrinho, farmacêutico. Como músico, tocando violino, foi regente da Orquestra e do Coro da Igreja Matriz, no tempo do Padre Bento, cujo paroquiato estendeu-se de 1893 a 1909.


7 — Doutor Hortênsio — Dr. Hortênsio Pereira da Silva, nasceu em 21 de junho de 1889 e passou para a vida espiritual em 4 de fevereiro de 1954. Como médico, foi um padrão de nobreza e filantropia. Casou-se com D. Josefina Galdi, que lhe deu 3 filhos. Relevantes trabalhos prestou à população durante os devastadores surtos de varíola, escarlatina e da célebre gripe espanhola. Como político, ocupou com real brilhantismo os cargos de Vereador, Presidente da Câmara Municipal e Prefeito Municipal. Exerceu a direção clínica da Fundação Espírita “Américo Bairral”. A Praça com o seu nome e o seu Busto na Vila Pereira, são homenagens justas de Itapira ao saudoso Dr. Hortênsio. Do Espaço, ele vem prestando constante assistência espiritual, e é de sua lavra a poesia Saudando Itapira, ditada a Chico Xavier, quando da visita do médium ao “Bairral”, em 22 de agosto de 1973.


8 — Martins — Chefe de numerosa família, foi angariador de donativos na zona rural, para o Sanatório “Bairral”, recebendo-os em cereais, aves e ovos. Trabalhou, nesse mister, entre 1937 e 1938.


9 — Ângelo — Angariava donativos, da mesma forma, na zona rural, serviço realizado a partir de 1939 e durante poucos anos, em virtude do seu falecimento.


10 — Roldão — Foi o primeiro angariador de donativos na zona rural, apenas no ano de 1937, e o fazia a cavalo, época em que a Instituição ainda não possuía carrocinha.


11 — Fidelis Trani — Benquisto na cidade, exercia a profissão de funileiro e encanador. Foi músico da Banda Lyra, tocando pratos, e faleceu em 1961, com 64 anos.


12 — Albertino de Morais — Foi marcineiro e lustrador, e fazia parte da Banda Lyra, tocando caixa. Faleceu em 1964, com 68 anos.


13 — Santato — Armando Santato foi marcineiro. Como espírita militante, colaborou nos trabalhos de desobsessão do Sanatório “Bairral” e fazia parte de um dos conjuntos musicais da Instituição, tocando violão e bandolim. Deixou a vida material com 53 anos, em 1963.


14 — Banda Lyra — Fundada em 10 de abril de 1909, por músicos idealistas, essa corporação musical está atuante até hoje. Cornélio não podia esquecer desta Banda, que no seu tempo abrilhantava os seus espetáculos, reconhecendo entre os personagens presentes ex-músicos da Banda Lyra.


15 — Olegarinho — Olegário Alvarenga Ferreira, farmacêutico prático, como ex-internado do “Bairral” deu excelente colaboração à Instituição, especialmente nos seus primeiros tempos de funcionamento. Com Saturnino França, em 1907, fundou a Farmácia da Fé. Deixou a vida material aos 63 anos de idade.


16 — Amorim Correia — Cônego Manoel Carlos de Amorim Correia nasceu em Portugal em 30 de julho de 1873, e veio para o Brasil ainda menino. Após exercer o seu ministério de sacerdote em diversas paróquias, chegou a Itapira em 1909. Em 1912, entrou em atritos com D. Nery, Bispo de Campinas, e, em 1.o de janeiro de 1913, cessou sua jurisdição em Itapira, entregando a direção da paróquia a outro sacerdote. Em “Carta Pastoral” enviada aos fiéis da cidade, datada de 31 de janeiro, resolveu fundar a Igreja Católica Apostólica Brasileira, aceitando todos os ensinamentos dos Santos Evangelhos e do Antigo Testamento, negando várias determinações da Igreja Romana. De saúde constantemente abalada, Amorim Correia faleceu a 30 de agosto de 1913, apenas sete meses após ter fundado a sua nova Igreja.


17 — Bentico — Bento Pereira da Silva, negociante, mais conhecido pelo apelido Bentico, nasceu e faleceu em Itapira, respectivamente em 10 de setembro de 1872 e 13 de outubro de 1949.


18 — Chico Vieira — Francisco Vieira formou-se farmacêutico em 1903, montando farmácia própria no centro da cidade. Como político militante, exerceu os cargos de Vereador, Prefeito Municipal e Deputado Estadual, conseguindo impor-se à consideração e estima de seus conterrâneos, mercê das mais elevadas provas de amor à sua terra. Faleceu em 3 de maio de 1946, aos 63 anos.


19 — Benedito Ferreira — Apelidado Rolinha, foi ex-internado do “Bairral”. Recuperando-se, fez o Curso Preparatório de Enfermagem existente no Hospital e passou a enfermeiro, revelando-se eficiente e bondoso. Faleceu em 14 de junho de 1965.


20 — Devo estar com nossa gente/Nas preces em Tietê — Em Tietê, SP, terra natal do Autor, desenvolvia-se a XIV Semana Cornélio Pires, no período de 19 a 25 de agosto de 1973. O poema em estudo foi psicografado em 22 daquele mês.


SEGUNDO POEMA


ENCONTRO DE ITAPIRA


  1 Meu irmãos, eis-me de volta…

  Minha fala caipira

  Muito mais que de outras vezes

  É gratidão de Itapira.


  2 Itapira!… O céu azul,

  A colina em luz e prece,

  Um refúgio de esperança

  Que o coração não esquece.


  3 Desejava outros amigos

  Expressando em meu lugar,

  Neste instante de alegria,

  A honra de vos saudar.


  4 Mas muitos deles exclamam,

  Retornando de outra vida:

  — Cornélio, diga que estamos

  Em nossa terra querida.


  5 Transmitir doces recados

  Em qualquer parte, é dever,

  E quando o credor é amigo

  Obediência é prazer.


  6 Saúdo, à frente de todos,

  João Cintra, o Comendador, n

  Que se fez para Itapira

  Um gênio de luz e amor.


  7 Cintra abraça um companheiro:

  É o nobre Joaquim Firmino n

  Que exaltou a liberdade

  Em luminoso destino.


  8 Junto deles aparece

  Por mensageiro de paz

  Nosso antigo reverendo

  Padre Araújo Ferraz. n


  9 Luiz Roque n aponta fatos,

  Firmino diz que no Além

  Somente vale a lembrança

  Do que se fez para o bem.


  10 Afonso Celso Vieira, n

  O grande memorialista

  Aperta as mãos generosas

  Do nosso Onofre Batista. n


  11 Fala-se em Chico Vieira

  Fala-se em Guerra Leal, n

  Dos Clubes que mais se lembra

  O recorde é do Ideal… n


  12 Nosso Cônego Amorim n

  Pergunta por Ludovino, n

  Doutor Mário n com Bentico n

  Refere-se ao João Delfino.


  13 Nhô Melo n lembra contente

  As músicas da Matriz n

  E João Pereira Machado

  Aprova calmo e feliz.


  14 Alguém chega devagar…

  Conheço… É o “seu” Alfredinho, n

  Veio atender aos doentes

  Fala em Jesus com carinho.


  15 Sinhô Chagas n noutra roda,

  Lembra a luta a que se dava,

  Queimando miolo e vida

  No tempo da imprensa brava…


  16 Jácomo Stávale, n o grande

  Professor inesquecível,

  Escuta Souza Ferreira n

  Sobre assuntos de alto nível…


  17 Eis que um rapaz se aproxima

  Em luz semelhante ao sol…

  Percebo agora… Já sei…

  É o poeta Ferraiol. n


  18 Este grupo de Itapira,

  Que entre os homens não se vê,

  Parece com minha gente

  Nas salas de Tietê…


  19 Batista Júnior n comigo

  E tanto amor e vibrar!

  Diz ele: “Saudade é dor

  Que fere em qualquer lugar!…”


  20 Diz ele ainda: “Saudade?!…

  Não sei onde é mais sofrida,

  Se no mundo ao pé da morte

  Se no Além, perante a vida!”


  21 Nosso caro “João Fiaca” n

  Começa a me enternecer,

  A memória já me falha,

  Não mais consigo escrever…


  22 “Itapira, Deus te guarde!”

  Termino com emoção,

  Terra irmã de minha terra,

  Terras do meu coração!…


Cornélio Pires


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


21 — João Cintra, o Comendador — Atibaiano, veio para a então Vila Nossa Senhora da Penha em 1840. Possuidor de grande fortuna, construiu com recursos próprios, na principal praça da Vila, um prédio assobradado, utilizado para cadeia, escola e Câmara Municipal. Demoliu a Igrejinha que havia sido construída em 1820, e em 1842, no mesmo local, ergueu a bela Igreja Matriz, templo que, posteriormente, foi reformado e dotado de uma torre. Ainda em colaboração com a administração municipal e a população local, construiu a Estrada de Ferro de Itapira a Mogi Mirim, encampada, anos depois, pela Companhia Mogiana de Estrada de Ferro. Pelos seus grandes méritos, o seu nome está imortalizado numa rua central da cidade.


22 — Joaquim Firmino — Joaquim Firmino de Araújo Cunha, nascido a 29 de agosto de 1855, exercia, em 1888, o cargo de Delegado de Polícia. Ele acompanhava de perto as torturas por que passavam os negros escravos. Dispôs-se a lutar pela sagrada emancipação dos escravos e, destemidamente, passou a proteger os negros fugitivos, recolhendo-os ao porão de sua casa, a princípio, sigilosamente e a seguir, abertamente, discutindo e incentivando a mais nobre campanha da época. As fugas das fazendas aumentavam dia a dia. Os fazendeiros foram-se irritando com o prejuízo crescente. Por outro lado, as notícias vindas da Corte eram as mais favoráveis à abolição, e com isso Firmino mais se entusiasmava. Os fazendeiros deliberaram uma vingança impressionante aos abolicionistas. Capangas de confiança foram sendo reunidos. Marcaram a madrugada de 11 de fevereiro de 1888 para a tremenda vingança. Um bando de trezentas pessoas armadas se dirigiu à residência do Delegado e o linchou.

O nome de Joaquim Firmino deveria figurar nos livros escolares como o Mártir da Abolição, para ser justamente reverenciado, pois foi o único brasileiro que perdeu a vida pela sublime causa, cujo epílogo se deu no glorioso 13 de maio de 1888, três meses, portanto, após sua trágica morte!


23 — Padre Araújo Ferraz — O Padre Antônio de Araújo Ferraz foi quem celebrou a primeira missa nesta terra, em março de 1821 ; daí ser considerado o Evangelizador. Seu nome está imortalizado numa placa de rua da cidade.


24 — Luiz Roque — Agente do Correio em 1887.


25 — Afonso Celso Vieira — Cronista na imprensa local, seus artigos eram apreciados. Faleceu em 1945.


26 — Guerra Leal — Cônego Dr. Artur Augusto Teixeira Barbosa de Guerra Leal. Substituiu o Padre João Calazans em 1915 e ficou até 1923. Reformou a Igreja Matriz. Faleceu em Monte Alto, em 1938. Seu nome está imortalizado numa placa de rua da cidade de Itapira.


27 — Clube Ideal — Fundado em 10 de marco de 1917, por um grupo de senhoras e senhoritas da sociedade, destinava-se exclusivamente a mulheres. Tornou-se famoso na época.


28 — Ludovino — Ludovino Andrade foi figura popular no município. Exerceu o cargo de fiscal da Prefeitura durante muitos anos. Diretor do jornal Comércio de Itapira, entre 1912 e 1913, que a seguir passou a ser o Jornal Oficial da Igreja Brasileira, com essa denominação, ainda sob sua direção. Foi sacristão da Igreja Romana no tempo do Padre Bento; professor primário; membro destacado do movimento renovador de Amorim Correia, na fundação da Igreja Católica Apostólica Brasileira, chegando a ordenar-se bispo dessa nova seita; chefe de numerosa família. Faleceu em 5 de novembro de 1934, com apenas 56 anos de idade.


29 — Doutor Mário — Dr. Mário Pereira da Fonseca, nasceu em 1874 e faleceu em 17 de novembro de 1932. Advogado operoso, foi um dos fundadores da Santa Casa, do Asilo “São Vicente” e do Clube XV de Novembro.


30 — Nhô Melo — Fiscal da Prefeitura Municipal nas primeiras décadas deste século.


31 — As músicas da Matriz — Orquestra sacra criada ao tempo do padre Bento e regida pelo farmacêutico e músico João Pereira Machado, violinista. Senhoras e senhoritas da sociedade, exímias cantoras, constituíam o coro da orquestra. Esta era formada por notáveis músicos.


32 — “Seu” Alfredinho — Alfredo Bueno nasceu em 9 de dezembro de 1888 e faleceu em 16 de maio de 1949. Boníssimo, tornou-se famoso como farmacêutico, com uma grande clientela, que o procurava como a um médico. Seu nome está imortalizado numa rua da cidade.


33 — Sinhô Chagas — Antônio Carlos Gonçalves Chagas foi solicitador e ferrenho político da oposição. Nas colunas do seu jornal O Grito, ao lado do poeta e escritor Menotti Del Picchia, de Ludovino Andrade e de outros, era tenaz combatente. Nasceu em Mogi Mirim, SP, a 19 de abril de 1880 e faleceu em Serra Negra, SP, a 6 de agosto de 1927. Seu nome está imortalizado numa das ruas do Bairro do Cubatão.


34 — Jácomo Stávale — Educador emérito e grande esportista, foi trazido para Itapira em 1901.


35 — Souza Ferreira — Cel. José de Souza Ferreira, nasceu a 17 de janeiro de 1867. Fazendeiro e banqueiro. Como chefe político, impunha respeito pela sua conduta retilínea. Desencarnou em 14 de julho de 1929.


36 — Poeta Ferraiol — Francisco de Paula Ferraiol, faleceu com apenas 24 anos de idade, em São Paulo. Sua poesia Hora Extrema, psicografada por Chico Xavier, em 9 de janeiro de 1974, mostra a sua sensibilidade poética.


37 — Batista Júnior — Itapirense, apelidado de João Fiaca, foi um artista nato. Ator e cantor, partiu para a glória quando se firmou na ventriloquia. Ele não podia faltar a esse encontro, provocado pelo seu grande amigo Cornélio Pires.


Hércio Arantes


[2] Consultamos: Cornélio Pires: Criação e Riso, de Macedo Dantas, 1ª ed., 1976, Ed. Livraria Duas Cidades e Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia, São Paulo/SP.


[3] O poema Aniversário de Itapira, também de Cornélio, foi recebido pela vidência de Chico Xavier, no final da sessão solene, realizada na Fundação Espírita “Américo Bairral”, em 24110/1974, dentro da programação das comemorações do 154º aniversário da cidade, quando foi outorgado ao médium o título de “Cidadão Itapirense”. Esse poema está no livro Marcas do Caminho. (Ed. IDEAL, São Paulo, SP.)


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