Reunião pública de 2 de Novembro de 1959
Questão n.° 823 de “O Livro dos Espíritos”
1 Senhor Jesus!
Enquanto nossos irmãos na Terra se consagram hoje à lembrança dos mortos-vivos que se desenfaixaram da carne, oramos também pelos vivos-mortos que ainda se ajustam à teia física…
2 Pelos que jazem sepultados em palácios silenciosos, fugindo ao trabalho, como quem se cadaveriza, pouco a pouco, para o sepulcro;
3 pelos que se enrijeceram gradativamente na autoridade convencional, adornando a própria inutilidade com títulos preciosos, à feição de belos epitáfios inúteis;
4 pelos que anestesiaram a consciência no vício, transformando as alegrias desvairadas do mundo em portões escancarados para a longa descida às trevas;
5 pelos que enterraram a própria mente nos cofres da sovinice, enclausurando a existência numa cova de ouro;
6 pelos que paralisaram a circulação do próprio sangue, nos excessos da mesa;
7 pelos que se mumificaram no féretro da preguiça, receando as cruzes redentoras e as calúnias honrosas; pelos que se imobilizaram no paraíso doméstico, enquistando-se no egoísmo entorpecente, como desmemoriados, descansando no espaço estreito do esquife…
8 E rogamos-te ainda, Senhor, pelos mortos das penitenciárias que ouviram as sugestões do crime e clamam agora na dor do arrependimento;
9 pelos mortos dos hospitais e dos manicômios, que gemem, relegados à solidão, na noite da enfermidade; pelos mortos de desânimo, que se renderam, na luta, às punhaladas da ingratidão;
10 pelos mortos de desespero, que caíram em suicídio moral, por desertores da renúncia e da paciência;
11 pelos mortos de saudade, que lamentam a falta dos seres pelos quais dariam a própria vida;
12 e por esses outros mortos, desconhecidos e pequeninos, que são as crianças entregues à via pública, exterminadas na vala do esquecimento…
13 Por todos esses nossos irmãos, não ignoramos que choras também como choraste sobre Lázaro morto…
14 E trazendo igualmente hoje a cada um deles a flor da esperança e o lume da oração, sabemos que o teu amor infinito clarear-nos-á o vale da morte, ensinando-nos o caminho da eterna ressurreição.
Emmanuel