O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Poetas redivivos — Autores diversos


115 n


Novo conto de Natal

  1 Natal! À beira da estrada,

  Na touceira de capim,

  Maria Joana, cansada,

  Treme, chora e chega ao fim.


  2 Tem sede com febre alta,

  Dói-lhe o peito exposto ao vento

  Oitenta anos já somaram

  Seus dias de sofrimento.


  3 Os grupos passam cantando,

  Do mais rico ao mais plebeu:

  — “Glória ao Senhor nas Alturas!

  Hosanas!… Jesus nasceu!…”


  4 Ninguém para, a fim de vê-la,

  Todos anseiam chegar,

  Quanto mais cedo possível,

  À mesa do próprio lar!…


  5 A pobrezinha relembra

  A época da saúde,

  As alegrias do campo,

  Os sonhos da juventude…


  6 Viúva na mocidade,

  Vivera escrava ao dever!…

  Onde os filhos que tivera?

  Quem poderia saber?…


  7 A quantos patrões servira,

  De atenção cativa e alerta?

  A quanta gente ajudara?

  Só Deus tinha a conta certa…


  8 Recorda o arado, a peneira,

  As plantações da fazenda,

  O milho para o paiol,

  A cana para a moenda…


  9 Crianças a tiracolo,

  Serviço de casa cheia,

  Cozinha laboriosa,

  Previsão da fome alheia!…


  10 A roupa suja no rio,

  A enxada que não descansa!…

  Trabalho!… apenas trabalho

  O que lhe vai na lembrança!…


  11 Agora que mais precisa

  Colher na leira do bem,

  Ninguém lhe estende um lençol,

  Não aparece ninguém!…


  12 A pobre desamparada

  Às vascas da provação,

  Morre, sozinha e humilhada,

  Sem lume, sem lar, sem pão…


  13 Nisso, um jovem surge à vista,

  Qual um filho que a buscasse,

  Afaga-lhe a fronte humilde,

  Acaricia-lhe a face.


  14 Joana vê-se melhorada,

  Está contente, mais forte,

  A fala volta de novo,

  Não mais reflete na morte.


  15 — Maria Joana! — Esclarece

  O moço atraente e amigo

  Venho buscar-te e saber

  Se queres servir comigo!…


  16 Ela responde: — Ah! meu filho,

  Já não sei como viver,

  Estou velha, desprezada,

  Que posso agora fazer?…


  17 Ele pondera: — Serás

  Na minha estrada, que é tua,

  Mãe das crianças jogadas

  Aos sofrimentos da rua.


  18 Serás a irmã dos que choram,

  Nas pedras da trilha escura,

  Aos sopros do desengano,

  Aos golpes da desventura!…


  19 Serás tutora bendita

  Dos pobrezinhos ao léu,

  Obreira da caridade,

  Na Terra como no Céu!…


  20 “Quem és?” — Ela indaga aflita,

  Ao ver-lhe o manto de luz!

  Ele diz: — Não me conheces?

  Sou teu amigo: Jesus!


  21 Joana agarra-se-lhe aos braços,

  Peito opresso, olhos no Além.

  Ele se inclina, bondoso,

  E abraça Joana também.


  22 O leito andrajoso e triste,

  De tanta luz que irradia,

  Lembra a furna de Belém

  E a palha da estrebaria!…


  23 Os dois partem sempre juntos

  Para as estrelas serenas,

  Num carro todo enfeitado

  De rosas e de açucenas!…


  24 Milhões de vozes no Espaço

  — Regozijos no apogeu —

  Proclamam de canto a canto:

  — “Hosanas!… Jesus nasceu!…”


  25 No outro dia, um caminhante

  Procura acordá-la em vão,

  Joana morta parecia

  Dormir tranquila no chão…


  26 O corpo frio, mostrando

  A paz que o verbo não diz,

  Era um retrato de Joana

  Sorrindo calma e feliz!…


Francisca Clotilde


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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