O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Presença de luz — Augusto Cezar


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Viver em paz

1 Prezada irmã.
Recebi a carta em que a sua generosidade me pergunta como viver em paz, sem aversões e sem inimigos.

2 Creia que despendi muito tempo procurando um caminho para a resposta.

3 Meditei, meditei, até que um professor iluminado por muitas experiências, falou-me, bem-humorado:
— Augusto, sobre tranquilidade e inimigos, tenho uma pequena história que vale a pena ser contada.

E prosseguiu:
4 Nos tempos medievais, grande parte da Europa era recortada por numerosos domínios. Foi assim que existiu um reino na Itália, cujos habitantes se caracterizavam pelo gênio criativo e trabalhador. Tudo corria, por lá, às mil maravilhas, quando certa parte do território entrou em dificuldade para o relacionamento harmonioso dos cidadãos entre si.

5 Tudo começou com tricas domésticas que rapidamente degeneraram em conflitos sociais que se comunicaram à vida produtiva do País.

6 Desorganizara-se o trabalho, o ódio estabelecia a delinquência, a luta de classes oferecia péssimos exemplos à comunidade e, quando o desequilíbrio atingiu o auge, reuniram-se os soberanos com os juízes e conselheiros nos quais se inspiravam e resolveu-se que o filho único do casal fosse em missão punitiva ao encontro dos dissidentes, de modo a restaurar os princípios da segurança.

7 O jovem prometeu liquidar todos os inimigos do reino e, dias depois, cavalgando soberbo corcel, o rapaz, acompanhado de assessores, partiu em busca da recuada província que a rebeldia infestava.

8 Atingida a meta, os colaboradores do príncipe, com grande espanto, viram-no convidar as autoridades responsáveis pelos negócios do Estado para um entendimento em praça pública.

9 Marcado o dia para o diálogo aberto, notou-se que o rapaz iniciou a reunião, pedindo a Deus abençoasse a todos os que ali compareciam de boa vontade.

10 Finda a prece, requisitou o debate e, com admiração para todos os moradores do rebelado recanto, passou a perdoar todas as injúrias, assacadas contra a sua família; acatou as petições da justiça; mandou pagar as indenizações que lhe foram apresentadas com documentos justos e reorganizou o serviço das classes diversas e, em todas as manifestações, se comportou com tal bondade que, em poucos dias, a comissão vitoriosa retornava à capital com inúmeros protestos de paz e amizade, assinados por aqueles mesmos compatriotas dantes considerados subversivos.

11 Recebido pelos pais que já haviam colhido informações tendenciosas, com relação ao seu comportamento que, para muitos, expressava fraqueza e covardia, entregou os resultados da missão que executara sem ameaças e sem lágrimas, sem perseguição e sem morte.

12 Após o relatório a que se via compelido pela força das responsabilidades de que fora revestido, o pai levantou-se e indagou asperamente:
— Então, que fez você das ordens que lhe confiamos? Onde a sua promessa de nos destruir os inimigos?

13 O rapaz, surpreendido, respondeu com humildade:
— Pai, o mandato com que fui honrado foi honestamente cumprido. Anulei todos os nossos adversários, deles fazendo cooperadores e amigos. Não restou um só dos inimigos do reino, porquanto, foi possível transfigurar todos os nossos opositores em companheiros que passaram a trabalhar e a produzir para a comunidade com sinceridade e sensatez.

14 O genitor, confundido pela informação, permaneceu em silêncio, ignorando como reformular o assunto, mas a soberana, de coração compreensivo e justo, adiantou-se para o moço e concluiu o episódio, falando-lhe com o manifesto carinho maternal:
— Deus o abençoe, meu filho! Todas as suas providências foram louváveis. Muitos ganham a guerra, mas você ganhou a paz que nos beneficia a todos e precisamos reconhecer que sem paz é impossível sustentar o trabalho do bem.


15 Esta é a ligeira história que, de minha parte, igualmente lhe ofereço por modelo da vida em paz. Não sei se consegui satisfazê-la, mas acredite que fiz aqui o melhor que se me fez possível.
Se não pude, porém, responder aos seus argumentos com clareza, terei muita satisfação em dialogar consigo outra vez.


Augusto Cezar


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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