O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Porto de alegria — Familiares diversos


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Em Jornada Homeopática, filho querido também se empenha no combate à AIDS

Com apenas 15 anos, Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça deixou o Plano Físico, na manhã de 22 de novembro de 1980, em Niterói, RJ, vítima de uma parada cardíaca em seu próprio leito. Embora sofresse de arritmia cardíaca importante, ele estava muito bem, sob controle médico e, assim, sua desencarnação provocou em seus entes queridos a dor pungente de uma separação totalmente inesperada.

Carlos Eduardo sempre foi uma criança alegre e meiga, angariando muita simpatia de seus colegas e familiares. “Dotado de inteligência invulgar, expunha com desassombro seus pontos de vista, chegando a corrigir os próprios professores em algumas ocasiões.”

Criado em ambiente espírita pelos seus pais — Dr. Aurílio Morais de Mendonça, engenheiro, e Dra. Edda Frankenfeld de Mendonça, médica, — no seu último ano de vida física passou a frequentar com entusiasmo o Grupo Espírita Regeneração, dedicando-se ao estudo da Doutrina e visitando, periodicamente, velhinhos e crianças abrigados em casas de caridade do Rio de Janeiro. E, na semana derradeira no Plano Material, vivendo uma fase premonitória de um próximo desenlace, revelou aos pais “que observava em si um total desligamento das coisas do mundo…”.

Em face da grande dor, a família do jovem não tardou a receber grande auxílio e consolo do Mais Além. Um mês após a desencarnação, o Dr. Alcides Neves Ribeiro de Castro, que dirigiu o G. E. Regeneração (de 1948 a 1964, quando desencarnou), comunicou-se pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, informando: “(…) o Carlos Eduardo está sob o patrocínio de nossa instituição e, muito valoroso como sempre, já visitou a própria família algumas vezes, em nossa companhia; entretanto, ainda se ressente quanto à estranheza inevitável da passagem para Cá e se emocionaria demasiado se tomasse o lápis a fim de escrever. Aguardemos mais tempo. (…).” (20/12/1980)

E, a 22 de outubro de 1981, Carlos Eduardo redigiu sua Primeira Carta, também pela mediunidade de Chico Xavier, rica em informações, proporcionando grande felicidade e conforto aos seus entes amados. Esta foi publicada no livro Adeus, Solidão (F. C. Xavier, Caio Ramacciotti, Espíritos Diversos, GEEM.).

Desta época para cá, esse abençoado correio mediúnico continua proporcionando renovadas alegrias aos seus familiares, com sucessivas cartas, treze até o momento, sendo a última psicografada em 30 de novembro de 1989.

Interessante é que desde a primeira mensagem, somente onze meses depois do desenlace, — já assenhoreando-se de sua cultura adquirida no passado, como médico (provavelmente homeopata) que deve ter sido em existência anterior — ele estimula sua mãe à prática da Homeopatia, campo em que poderão trabalhar juntos: “(…) se puder aceitar-me um pedido, queria vê-la operosa na Homeopatia em auxílio às crianças. O trabalho em semelhante seara de amor aos nossos irmãos pequeninos reconstituiria os nossos vínculos de presença constante. (…) anseio trabalhar ao seu lado na Pediatria exclusivamente homeopática (…) Não desejo estagnar meus estudos e justamente na Homeopatia é que reencontro campo mais propício ao desenvolvimento de minha nova fase de serviço.”

E, em todas as demais cartas, o jovem comenta com a progenitora a respeito de sua atuação nessa área médica, chegando a afirmar: “em companhia de mãezinha Edda, prossigo em minha jornada, que posso classificar por jornada homeopática.”

Outros temas palpitantes e atuais são abordados na série de cartas de Carlos Eduardo, destacando-se dentre eles a AIDS, a qual tem se dedicado, ingressando-se recentemente numa equipe de estudo e combate ao “mal do século”.

Em face do número elevado de cartas, publicamos a Segunda, na íntegra, com as respectivas Notas e Identificações, e, a seguir, os principais temas das demais, colocados em ordem alfabética:




MENSAGEM n


1 Querida mãezinha, querido papai n e querida Lívia, n com as nossas queridas irmãs presentes Leda e Rosina. n

2 Estas páginas breves se destinam a lhes endereçar o meu reconhecimento por haverem transformado as minhas modestas palavras numa bandeira de fé. 3 Graças a Deus, o trabalho agora é para mim mais intenso. Serviço gera serviço e o carinho que dedicaram às minhas notícias significa muitas oportunidades para mim, no acesso a corações que sofrem. 4 A certeza da sobrevivência além da morte é mensagem de esperança que não devemos sonegar aos que nos procuram.

5 Estou muito contente com os serviços decorrentes do nosso Culto do Evangelho no Lar, onde temos recebido a presença de numerosos irmãos encarcerados no cubículo sem grades das próprias consciências, embora desencarnados, nos quais o ensinamento do Cristo desempenha o trabalho de uma punção benéfica, permitindo que os beneficiários voltem ao cotidiano, sempre mais convencidos quanto à renovação que lhes cabe abraçar.

6 Continuo sendo o mesmo filho reconhecido e particularmente procuro prestar a assistência máxima à mãezinha em suas novas empreitadas de estudo para a aquisição da homeopatia, qual deve ser um medicamento que, atingindo a alma, se espalhe por todos os campos energéticos do corpo, regenerando-lhes a vida e a alegria de trabalhar e de viver.

7 Graças ao Senhor, a mamãe tem sabido superar o clima de saudade que nos ameaçou estacionar no tempo. As queridas irmãs me comovem, oferecendo o suporte necessário à recuperação da saúde e da paz em auxílio à mãezinha e, na presença da nossa querida Livinha, agradeço a ela; à Scheilla e à Liliane n o que estão fazendo por nós, reconfortando-nos a todos com a compreensão e a diligência no estudo e no trabalho de que nos proporcionam testemunhos sempre mais amplos.

8 Acompanhei-os na excursão à terra da Boa Esperança n e rejubilei-me com os fraternos reencontros e com as alegrias que ali colhemos no jardim da amizade. 9 O nosso irmão Waldemar Barbosa n aqui se encontra em minha companhia, expressando o nosso reconhecimento a todos os irmãos queridos da cidade referida, especialmente à querida irmã Eulália. n 10 Alegrei-me ao ver que o vovô Silvério e a vovó Maria n estiveram conosco por todo o tempo e a vovó Júlia com o avô João, n que nos partilharam dos júbilos a que me reporto, aguardam a nossa prometida visita aos irmãos de Vitória.

11 A equipe de amigos é grande e com a bênção de Jesus, crescerá cada vez mais, para que nos reunamos numa só família consagrada ao bem, dentro da qual todos trabalhem por um e um se esforce por todos. 12 Sabemos que todas as realizações chegam no tempo adequado, bastando, de nossa parte, que lhes preparemos as bases das quais apareçam para a nossa edificação.

13 Muito gratos a todos, comunicamos à querida irmã Leda que estamos firmes na desincumbência dos compromissos para com o nosso “Regeneração” n e, quanto a mim mesmo, faço o possível por ser útil às nossas crianças.

14 Estão conosco os amigos Tio Henrique n e o irmão vovô Karl n que se nos associam à realização dos projetos de paz e amor.

15 Pai amigo, muito grato pela benevolência com que me atende aos desejos, quando preciso falar, n de vez que sinto necessidade, vez por outra, de levantar as energias da mãezinha e das irmãs queridas, a fim de que estejamos no Caminho sem vacilar.

16 Nossos agradecimentos a todos. Flores para Lívia, Scheilla e Liliane, com um abraço às queridas irmãs Leda e Rosina.

17 E, reunindo os pais queridos no meu amor orvalhado de saudades e preces por nossa paz e felicidade, beija-lhes as mãos queridas o filho muito grato de sempre, sempre o filho que lhes pertence pelo coração,


Carlos

Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça.


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Psicografada em 04/03/1982.


2 — Mãezinha e papai — Seus pais residem no Rio de Janeiro, à Rua Alexandre de Gusmão, 28 — apto. 701. CEP 20520 — Tijuca.


3 — Lívia — Irmã.


4 — Irmãs Leda e Rosina — Confreiras do Grupo Espírita Regeneração.


5 — Scheilla e Liliane — Irmãs.


6 — Excursão à terra da Boa Esperança — Boa Esperança, sul de Minas, é a terra natal do Dr. Aurílio.


7 — Waldemar Barbosa — Pioneiro do Espiritismo em Boa Esperança, onde desencarnou em 1975.


8 — Irmã Eulália — Atual presidente do Centro Espírita Amigos na Dor, de Boa Esperança.


9 — Vovô Silvério e vovó Maria — Maria e Silvério de O. Mendonça, avós paternos.


10 — Vovó Júlia com o avô João — Júlia e João Frankenfeld, avós maternos.


11 — O nosso “Regeneração” — Grupo Espírita Regeneração, tradicional instituição do Rio de Janeiro, fundada pelo Dr. Bezerra de Menezes, em 1891.


12 — Tio Henrique — Henrique Frankenfeld, tio-avô materno, nascido na Alemanha e desencarnado no Brasil, em 1971.


13 — Vovô Karl — Karl Lauff, nascido na Tchecoslováquia e desencarnado no Brasil, em 1945.


14 — Pai amigo, muito grato pela benevolência com que me atende aos desejos, quando preciso falar — Refere-se às comunicações pela mediunidade psicofônica de seu pai. A primeira foi três dias após a sua desencarnação.


15 — Vovó Maria Lauff — (citada na 1ª Carta e em outras) — Bisavó materna, nascida na Tchecoslováquia e desencarnada no Brasil, em 1970.


16 — Amigo Murtinho (citado na 5ª Carta) — Dr. Aurílio acredita que seu filho refere-se ao Dr. Manoel Murtinho Nobre ou ao Dr. Antônio Murtinho de Souza Nobre (1878-1945), ambos renomados médicos homeopatas. Dr. Manoel, um dos mais notáveis pesquisadores da Matéria Médica Homeopática, deixou a obra Homeoterapia, em sucessivas edições há mais de 50 anos, escrita em parceria com o Dr. Antônio Murtinho de S. Nobre. Este, nascido em Corumbá, MS, para continuar seus estudos, quando garoto foi levado ao Rio de Janeiro pelo seu tio Dr. Joaquim Duarte Murtinho (1848-1911),  n ilustre médico homeopata e Ministro de Estado, fundador do Instituto Hahnemanniano do Brasil (com sua Faculdade de Medicina Hahnemanniana) e da empresa Homeopatia Murtinho Nobre. Em 1906, com o objetivo de fundar a filial dessa empresa, Dr. Antônio transferiu-se para São Paulo, onde tornou-se um vulto notável da medicina homeopática, sendo o primeiro presidente da Associação Paulista de Homeopatia. (Fonte: Enciclopédia Mirador e Vida e Obra do Dr. Murtinho Nobre, pesquisa biográfica de Neide Shimabukuro, divulgada pelo Museu de Homeopatia Abrahão Brickmann, de Ribeirão Preto, SP.)


17 — Amigo Dias da Cruz (citado na 1ª e 5ª Cartas) — Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz, ilustre médico homeopata, foi presidente da Federação Espírita Brasileira de 1889 a 1895. Desencarnado no Rio de Janeiro, em 1937.


18 — Vovô João Antônio Frankenfeld (citado na 8ª, 10ª e 11ª Cartas) — Tetravô materno, nascido e desencarnado na Alemanha.


19 — Amigo Napoleão Laureano (citado na 10ª Carta) — Dr. Napoleão Rodrigues Laureano, nasceu em Umbuzeiro, Paraíba, em 1915. Desde que foi acometido de câncer, iniciou uma intensa campanha a nível nacional, criando a Fundação Laureano, destinada à pesquisa e ao tratamento dessa moléstia. O seu apelo emocionou o país e ele foi considerado médico-mártir. Desencarnado no Rio de Janeiro, aos 36 anos. (Galeria — O Livro das Biografias, Maria Leonor Alvarez Silva, Canton, S. Paulo, 2ª ed., 1979.)


20 — Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça — Nasceu em Volta Redonda, RJ, a 18/9/1965. Tendo desencarnado na adolescência, só a reencarnação pode explicar a cultura que ele revela em suas cartas, desde a Primeira. E dentre os seus conhecimentos, destaca-se a cultura médica que se evidencia em sua linguagem. Observemos, por exemplo, algumas frases da Primeira Carta, psicografada onze meses após o seu desenlace, com grifos nossos: “Compreendo mãezinha, a lesão que sofremos. A desencarnação é uma espécie de cirurgia, especialmente em nossas forças psicológicas.” “(…) perplexo, vi meu corpo repousando, à maneira de uma escultura de células que estivesse me esperando.” “(…) venceremos as nossas dificuldades, cicatrizando as feridas da separação (…).” “Nós ambos temos vivido, nestes onze meses, na clínica das orações (…).” “(…) o serviço ao próximo é a receita mais eficiente para a restauração definitiva de nossas forças.” O seu reencontro com o Dr. Dias da Cruz (médico homeopata, desencarnado no Rio, em 1937, do qual o jovem Carlos Eduardo nunca recebeu qualquer informação) é também muito significativo: “(…) um impulso natural me arrastou para o abraço ao Dr. Dias da Cruz que reconheci, de imediato, guiado por uma inclinação irresistível.” Na Sexta Carta ele ainda esclarece: “Estou feliz, tendo readquirido os mesmos amigos que se dispunham a orientar-nos com grandeza de alma; não posso queixar-me, de vez que recebo o amparo do campo de ação em que me movimentava antes da volta à experiência física.”


Hércio Arantes



[2] Do Mais Além, Dr. Joaquim D. Murtinho enviou duas belas páginas: “Saúde”, publicada em Falando à Terra (F. C. Xavier) e “Solução Ideal”, em Seareiros de Volta (W. Vieira), edições FEB.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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