O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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O Consolador — Emmanuel — 2ª Parte.


V
EVOLUÇÃO

Virtude

(Sumário)

253.A virtude é concessão de Deus, ou é aquisição da criatura?

— A dor, a luta e a experiência constituem uma oportunidade sagrada concedida por Deus às suas criaturas, em todos os tempos; todavia, a virtude é sempre uma sublime e imorredoura aquisição do Espírito nas estradas da vida, incorporada eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio.


254.Que é a paciência e como adquiri-la?

— A verdadeira paciência é sempre uma exteriorização da alma que realizou muito amor em si própria, para dá-lo a outrem, na exemplificação.

Esse amor é a expressão fraternal que considera todas as criaturas como irmãs, em todas as circunstâncias, sem desdenhar a energia para esclarecer a incompreensão, quando isso se torne indispensável.

É com a iluminação espiritual do nosso íntimo que adquirimos esses valores sagrados da tolerância esclarecida. E, para que nos edifiquemos nessa claridade divina, faz-se mister educar a vontade, curando enfermidades psíquicas seculares que nos acompanham através das vidas sucessivas, quais sejam as de abandonarmos o esforço próprio, de adotarmos a indiferença e de nos queixarmos das forças exteriores, quando o mal reside em nós mesmos.

Para levarmos a efeito uma edificação tão sublime, necessitamos começar pela disciplina própria e pela continência dos nossos impulsos, considerando a liberdade do mundo interior, de onde o homem deve dominar as correntes da sua vida.

O adágio popular considera que “o hábito faz a segunda natureza” e nós devemos aprender que a disciplina antecede a espontaneidade, dentro da qual pode a alma atingir, mais facilmente, o desiderato da sua redenção.


255.Devemos nós, os espiritistas, praticar somente a caridade espiritual, ou também a material?

— A divisa fundamental da codificação kardequiana, formulada no “fora da caridade não há salvação”, é bastante expressiva para que nos percamos em minuciosas considerações.

Todo serviço da caridade desinteressada é um reforço divino na obra da fraternidade humana e da redenção universal.

Urge, contudo, que os espiritistas sinceros, esclarecidos no Evangelho, procurem compreender a feição educativa dos postulados doutrinários, reconhecendo que o trabalho imediato dos tempos modernos é o da iluminação interior do homem, melhorando-se-lhe os valores do coração e da consciência.

Dentro desses imperativos, é lícito encarecermos a excelência dos planos educativos da evangelização, de modo a formar uma mentalidade espírita-cristã, com vistas ao porvir.

Não podemos desprezar a caridade material que faz do Espiritismo evangélico um pouso de consolação para todos os infortunados da sorte; mas não podemos esquecer que as expressões religiosas sectárias também organizaram as edificações materiais para a caridade no mundo, sem olvidar os templos, asilos, orfanatos e monumentos. Todavia, quase todas as suas obras se desvirtuaram, em vista do esquecimento da iluminação dos Espíritos encarnados.

A Igreja Romana é um exemplo típico.

Senhora de uma fortuna considerável e havendo construído numerosas obras tangíveis, de assistência social, sente hoje que as suas edificações são apenas de pedra, porquanto, em seus estabelecimentos suntuosos, o homem contemporâneo experimenta os mais dolorosos desenganos.

As obras da caridade material somente alcançam a sua feição divina quando colimam a espiritualização do homem, renovando-lhe os valores íntimos, porque, reformada a criatura humana em Jesus Cristo, teremos na Terra uma sociedade transformada, onde o lar genuinamente cristão será naturalmente o asilo de todos os que sofrem.

Depreende-se, pois, que o serviço de cristianização sincera das consciências constitui a edificação definitiva, para a qual os espiritistas devem voltar os olhos, antes de tudo, entendendo a vastidão e a complexidade da obra educativa que lhes compete efetuar, junto de qualquer realização humana, nas lutas de cada dia, na tarefa do amor e da verdade.


256.Como interpretar a esmola material?

— No mecanismo de relações comuns, o pedido de uma providência material tem o seu sentido e a sua utilidade oportuna, como resultante da lei de equilíbrio que preside o movimento das trocas no organismo da vida.

A esmola material, porém, é índice da ausência de espiritualização nas características sociais que a fomentam.

Ninguém, decerto, poderá reprovar o ato de pedir e, muito menos, deixará de louvar a iniciativa de quem dá a esmola material; todavia, é oportuno considerar que, à medida que o homem se cristianiza, iluminando as suas energias interiores, mais se afasta da condição de pedinte para alcançar a condição elevada do mérito, pelas expressões sadias do seu trabalho.

Quem se esforça, nos bastidores da consciência retilínea, dignifica-se e enriquece o quadro de seus valores individuais.

E o cristão sincero, depois de conquistar os elementos da educação evangélica, não necessita materializar a ideia da rogativa da esmola material, compreendendo que, esperando ou sofrendo, agindo ou lutando, nos esforços da ação e do bem, há de receber, sempre, de acordo com as suas obras e de conformidade com a promessa do Cristo. ( † )


257.A Esperança e a Fé devem ser interpretadas como uma só virtude?

— A Esperança é a filha dileta da Fé. Ambas estão, uma para outra, como a luz reflexa dos planetas está para a luz central e positiva do Sol.

A Esperança é como o luar que se constitui dos bálsamos da crença. A Fé é a divina claridade da certeza.


258.No caminho da virtude, o pobre e o rico da Terra podem ser identificados como discípulos de Jesus?

— O título de discípulo é conferido pelo Divino Mestre a todos os homens de boa vontade, sem distinção de situações, de classes ou de qualquer expressão sectária.

Com responsabilidade dos bens materiais ou sem ela, o homem é sempre rico pela sua posição de usufrutuário das graças divinas e, além do mais, temos de ponderar que, em toda situação, a criatura encontrará responsabilidade na existência, razão pela qual os sinceros discípulos do Senhor são iguais aos seus olhos, sem preferência de qualquer natureza.


259.No que se refere à prática da caridade, como interpretar o ensinamento de Jesus: “Àquele que tem será concedido em abundância e àquele que não tem, até mesmo o que tiver, lhe será tirado.” ( † )

— A palavra de Jesus, em todas as circunstâncias, foi tocada de uma luz oculta, apresentando reflexos prismáticos, em todos os tempos, para a alma humana, na sua ascensão para a sabedoria e para o amor.

Antes de tudo, busquemos ajustar o conceito a nós próprios.

Se possuímos a verdadeira caridade espiritual, se trabalhamos pela nossa iluminação íntima, irradiando luz, espontaneamente, para o caminho dos nossos irmãos em luta e aprendizado, mais receberemos das fontes puras dos Planos espirituais mais elevados, porque, depois de valorizarmos a oportunidade recebida, horizontes infinitos se abrirão no campo ilimitado do Universo, para as nossas almas, o que não poderá acontecer aos que lançaram mão do sagrado ensejo de iluminação própria nas estradas da vida, com a mais evidente despreocupação de seus legítimos deveres, esquecendo o caminho melhor, trocado, então, pelas sensações efêmeras da existência terrestre, contraindo novas dívidas e afastando de si mesmo as oportunidades para o futuro, então mais difíceis e dolorosas.


Emmanuel


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