O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Mecanismos da mediunidade — André Luiz — F. C. Xavier / Waldo Vieira


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Reflexo condicionado específico

(Sumário)

1. PRÓDROMOS DA HIPNOSE. — Após observarmos o fenômeno do hipnotismo num espetáculo público, imaginemos que o magnetizador seja um homem digno de respeito, capaz de nutrir a confiança popular.

2 Suponhamos seja ele procurado por um cidadão qualquer, portador de doença nervosa, desejoso de tratar-se pela hipnose.

3 O enfermo tê-lo-á visto na exibição a que nos referimos ou dela terá recebido exato noticiário e, por isso mesmo, buscar-lhe-á o concurso, fortemente decidido a aceitar-lhe a orientação.  n

4 O hipnotizador, de imediato adquire conhecimento da atitude simpática do visitante e acolhe-o com manifesto carinho.

5 Toma-lhe a mão, entrando de imediato na aura ou halo de forças do paciente, endereçando-lhe algumas inquirições.

6 Nesse toque direto, inocula-lhe vasta corrente revitalizadora, em lhe falando de bom ânimo e esperança, e o doente se lhe rende, satisfeito, aos apelos silenciosos de relaxamento da tensão que o castiga.

7 O consulente prestará ligeiros informes acerca dos sintomas de que se vê objeto, e o anfitrião, paternal, convidá-lo-á a sentar-se em larga poltrona que lhe faculte mais amplamente o repouso.


2. MECANISMO DO FENÔMENO HIPNÓTICO. — Recorrendo, para exemplo, em nosso estudo, ao conhecido processo de Liébeault, ( † ) o hipnotizador passará à ação franca, colocando-se à frente do enfermo.

2 E, situando de leve a mão esquerda sobre a sua cabeça, manterá dois dedos da mão direita à distância aproximada de vinte a trinta centímetros dos olhos do paciente, de modo a formar com eles um ângulo elevado, compelindo-o a levantar os olhos, em atenção algo laboriosa, para que lhe fixe os dedos por algum tempo.

3 Com esse gesto, o magnetizador estará projetando o seu próprio fluxo energético sobre a epífise do hipnotizado, glândula esta de suma importância em todos os processos medianímicos,  n por favorecer a passividade dos núcleos receptivos do cérebro, 4 provocando, ao mesmo tempo, a atenção ou o circuito fechado no campo magnético do paciente cuja onda mental, projetada para além de sua própria aura, é imediatamente atraída pelas oscilações do magnetizador que, a seu turno, lhe transmite a essência das suas próprias ordens.

5 Libertando as aglutininas mentais do sono, o passivo, na hipnose estimulada, se vê influenciado pela vontade que lhe comanda transitoriamente os sentidos, vontade essa a que, de maneira habitual, adere de “moto-próprio”, quase que alegremente.

6 É então que o hipnotizador, para fixar com mais segurança a sua própria atuação, exclama, em tom grave e calmo: — “Não receie. Segundo o nosso desejo, passará você, em breves instantes, pela mesma transfiguração mental a que se entrega cada noite, transitando da vida ativa para o entorpecimento do sono em que os seus ouvidos escutam sem qualquer esforço e no qual não se sente você disposto a voluntária movimentação. Durma, descanse. Repouse na certeza de que não terá consciência do que ocorra em torno de nós! Despertará você do presente estado, quando me aprouver, perfeitamente aliviado e fortalecido pela supressão do desequilíbrio orgânico.”

7 O doente enlanguesce, satisfeito, acalentado pela sua própria onda mental de confiança, exteriorizada ao impacto do pensamento positivo que o controla, e o hipnotizador reafirma, tocando-lhe as pálpebras de leve:

— “Durma tranquilamente. Tudo está bem. Acordará livre de todo o mal. Acalme-se e espere. Não sofrerá qualquer incômodo. Dentro de alguns minutos, chamá-lo-ei à vigília.”

8 O doente dorme e o magnetizador retira-se por alguns minutos.


3. MECANISMO DA HIPNOTERAPIA. — Enquanto adormecido, a própria onda mental do paciente, em movimento renovador e guardando consigo as sugestões benéficas recebidas, atua sobre as células do veículo fisiopsicossomático, anulando, tanto quanto possível, as inibições funcionais existentes.

2 Como se observa, o agente positivo atua como fator desencadeante da recuperação, que passa a ser efetuada pelo próprio paciente, em todos os casos de hipnoterapia ou reflexoterapia.

3 O hipnotizador, depois de um quarto de hora fá-lo novamente voltar à vigília, e o enfermo, desperto, acusa por vezes grandes melhoras.

4 Naturalmente, agradece ao benfeitor o socorro assimilado; 5 contudo, o magnetizador agiu apenas como recurso de excitação e influência, porque as oscilações mentais em ação restaurativa dos tecidos celulares foram exteriorizadas pelo próprio consulente.


4. OBJETOS E REFLEXOS ESPECÍFICOS. — No segundo dia do tratamento hipnótico, o paciente com mais facilidade se confiará à vontade orientadora que o dirige.

2 Bastar-lhe-á o reencontro com o hipnotizador para entrar no reflexo condicionado, pelo qual começa a automatizar o ato de arrojar de si mesmo as próprias forças mentais, impregnadas das imagens de saúde e coragem que ele mesmo recorporifica no pensamento, recordando os apelos recebidos na véspera.

3 E assim procede o enfermo, no mesmo regime de condicionamento, até que a contemplação de um simples objeto que lhe tenha sido presenteado pelo magnetizador, com o fim de ajudá-lo a liberar-se de qualquer crise, na linha de ocorrências da moléstia nervosa de que se haja curado, será o suficiente para que se entregue à hipnose de recuperação por sua própria conta.

4 Semelhante medida, que explica o suposto poder curativo de certas relíquias materiais ou dos chamados talismãs da magia, pode ser interpretada como reflexo condicionado específico, porquanto sem à presença do hipnotizador, suscetível de imprimir novas modalidades à onda mental de que tratamos, o objeto aludido servirá — muito particularmente nesse caso — como reflexo determinado para o refazimento orgânico, em certo sentido.


5. CIRCUITO MAGNÉTICO E CIRCUITO MEDIÚNICO. — Se o paciente, depois de curado, prossegue submisso ao hipnotizador, sustentando-se entre ambos o intercâmbio seguro, dentro de algum tempo ambos se encontrarão em circuito mediúnico perfeito.

2 A onda mental do magnetizado, reeducada para a extirpação da moléstia anteriormente apresentada, terá atendido ao restabelecimento da região em desequilíbrio, mostrando-se agora, sadia e harmônica para os serviços da troca, na hipótese do continuísmo de contato.

3 Voltando-se diariamente para o magnetizador que, a seu turno, diariamente o influencia, e devidamente ajustada ao cérebro em que se apoia, do ponto de vista da resistência do campo, [a onda mental do magnetizado] passará a refletir a onda mental da vontade a que livremente se submete, absorvendo-lhe as inclinações e os desígnios.

4 Verificam-se aí os mais avançados processos de telementação, inclusive o desdobramento controlado, pelo qual o passivo ausente do corpo físico sob a indução preponderante do hipnotizador, apenas verá e ouvirá de acordo com a orientação particular a que se sujeita.

5 É o estado de permuta magnética aperfeiçoada, em que o passivo, na hipnose ou na vigília, transmite com facilidade as determinações e propósitos do mentor, na esfera das suas possibilidades de expressão.


6. AUTOMAGNETIZAÇÃO. — Ainda há que apreciar uma ocorrência importante.

2 Se o hipnotizador não mais tem contato com o passivo e se o passivo prossegue interessado no progresso de suas conquistas espirituais, este consegue, à custa de esforço, por intermédio da profunda concentração das energias mentais, na lembrança dos fenômenos a que se consagrou junto ao magnetizador, cair em hipnose ou letargia, catalepsia ou sonambulismo — 3 ainda pelo reflexo condicionado igualmente específico — 4 afastando-se do envoltório carnal, em plena consciência para entrar em contato com entidades encarnadas ou desencarnadas de sua condição 5 ou para provocar por si mesmo certa categoria de fenômenos físicos, mediante a aplicação de energia acumulada, 6 com o que se explicam as ocorrências do faquirismo oriental, nas quais a própria vontade do operador parcial ou integralmente separado do corpo somático, exerce determinada ação sobre as células físicas e extrafísicas, estabelecendo acontecimentos inabituais para o mundo rotineiro dos cinco sentidos.


André Luiz



[1] A utilização dos fenômenos hipnóticos serve, neste livro, simplesmente para explicar os mecanismos da mediunidade, e não para induzir os companheiros do Espiritismo a praticá-los em suas tarefas, porquanto o nosso objetivo primordial é o serviço da Doutrina Espírita que devemos tomar por disciplinadora de todos os fenômenos que nos rodeiam, na esfera das ocorrências mediúnicas, a beneficio de nossa própria melhoria moral — (Nota do Autor espiritual.)


[2] Para mais claro entendimento do assunto, indicamos ao leitor a releitura do capítulo 2 do livro “Missionários da Luz”, do mesmo Autor espiritual, recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier. — (Nota da Editora.)


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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