O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Lar-oficina, esperança e trabalho — Familiares diversos


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Família Sichetti

“Quem pode dizer que a felicidade constitui uma família, onde sequer se imagina que a desencarnação de um de seus membros possa desestabilizar tanto a vida dos seus constituintes.

“Achávamos antes da desencarnação de nosso filho, que a felicidade não terminaria. Um filho de alegria contagiante, não muito preocupado com os estudos, mas convicto de fazer a felicidade de seus pais, pretendia a formação de Engenharia Mecânica. Para isso, cursava o segundo ano no Colégio Objetivo e, em outra escola, paralelamente, aproveitava aprimorar-se em computação para auxiliar nos seus objetivos.

“De formação cristã católica-romana, nossa família procurava empenhar-se no respeito mútuo e aclimatar-se na ação de servir o próximo.

“Flávia e Cláudia, duas filhas maravilhosas, completavam e hoje, mais do que nunca, completam os nossos momentos de alegria.

“Fernando surpreendia-nos.

“Em completo anonimato, ajudava nas Feiras de Bondade, participava e montava gincanas para angariar fundos às entidades filantrópicas, sem nada nos dizer.

“Ao saber dessa sua qualidade, ficamos mais agradecidos a esse menino-moço, que tanto amor trazia em seu coração.

“Com o acidente, nosso castelo da alegria desmoronou.

“Fernando, nos seus 18 anos de vida sadia, gostava muito de passear, juntar-se aos amigos e aproveitar sua juventude. No dia 20.08.1983, saiu em companhia de Mauro e duas colegas para um passeio na Zona Sul da cidade. Na volta, quando se dirigiam para casa, na Avenida 23 de Maio, aproximadamente às 0:30 horas, com Mauro ao volante, o veículo desgovernou-se projetando uma capotagem. Nesse momento, Fernando, como descreve em sua mensagem, percebeu a gravidade do que estava prestes a acontecer.

“O carro capota e Fernando é atirado à distância, batendo com cabeça em algo muito sólido.

“A caminho do Hospital vem a desencarnar.

“Não obstante, sua preocupação com o amigo Mauro é muito grande. Pede a seu pai que vá ao encontro do rapaz para consolá-lo e eximi-lo de culpa, apagando-lhe as cenas desagradáveis que ele ainda conserva.

“O que fazer?

“Conhecíamos Chico Xavier através dos noticiários que a imprensa sempre divulgou a seu respeito. Caridoso, humilde e apóstolo da Doutrina Espírita.

“A ansiedade tomou conta de nós. Sabíamos que a solução para o nosso desespero era ir ao encontro de Chico Xavier. Dirigimo-nos com o coração cheio de esperanças.

“Ao recebermos a mensagem das mãos do querido médium, uma vida nova nasceu, devolvendo-nos a fé que havíamos perdido. Passamos a compreender que Fernando não partira antes da hora e os esclarecimentos na mensagem trouxeram-nos a paz.

“A você mãe, pai, esposo ou esposa, filhas ou filhos queridos, Deus está conosco.

“Não se perturbem vossos corações.

“O reencontro é dádiva do Pai.

“Com paciência e resignação, aguardemos esse dia.”




ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS DE PESSOAS OU FATOS CONSTANTES NA MENSAGEM ESPIRITUAL


FERNANDO QUERIN SICHETTI: Nascimento: 30 de setembro de 1964 — Desencarnação: 20 de agosto de 1983 — Idade: 18 anos. n

PAIS: Laurentino Roque Sichetti e Luiza Querin Sichetti — Rua Bento Araújo, 149 — Bloco A — Apto. 103, São Paulo, SP.

IRMÃS: Flávia e Cláudia Querin Sichetti.

AVÓ CLOTILDE: Avó materna, desencarnada em 04.05.1979.

AVÔ ANTONIO SICHETTI: Bisavô paterno desencarnado em 28.08.1944.

MAURO: Amigo que dirigia o carro durante o acidente.

AUGUSTO: Augusto Cezar Netto, filho de D. Yolanda Cezar, nosso amigo espiritual.

AVÓ ANTONIA: Avó paterna.



[1] [No livro impresso a foto do autor espiritual está logo abaixo dessa referência biográfica.]
Antecipamos os nomes de pessoas ou fatos, para melhor identificação na leitura da mensagem espiritual.




FERNANDO QUERIN SICHETTI


1 Querida mãezinha Luiza, peço-lhe me abençoe. Neste momento recordo o papai Laurentino, associando a presença dele ao nosso encontro, a fim de rogar-lhe igualmente alegria e coragem na bênção paternal com que sempre me enriqueceu.

2 Mamãe, é tão difícil escrever como procuro fazer nesta hora. Sinto-me desambientado e um tanto fora de mim mesmo, porquanto, preciso considerar os corações que se harmonizam nesta sala para favorecer-me. 3 Compreendo que estou entre pessoas amigas e sinceras, mas tenho a ideia de estar realizando uma prova difícil à frente de uma banca examinadora em minhas tarefas estudantis.

4 É preciso dar-lhes minhas notícias, é preciso manifestar os meus agradecimentos.

5 Não sei como me desobrigar desses deveres com as palavras certas, no entanto, escrevo com o meu coração no lápis, colocando o sofrimento de nossa separação acima de qualquer tom festivo, que assinale a reunião de nossos amigos presentes.

6 Perdoe-me se escrevo assim com os meus sentimentos de filho reconhecido, ainda sensibilizado com o acidente que me arrancou violentamente do corpo que considero natural.

7 Quando lhe disse que iria até o barzinho com os amigos, estava muito longe de pensar que me achava em processo de desligamento da família.

8 Achávamo-nos todos contentes e felizes com a união que nos tornava quase que uma só pessoa, pela mesma identificação total uns com os outros.

9 Impossível para mim que tanta alegria pudesse prenunciar uma provação, como a que me afastou de casa e da vida.

10 O nosso carro, de fato, parecia estar com alguma velocidade excedente, mas o Mauro era, aos nossos olhos, um condutor seguro.
Em certo momento, cheguei a observar com a minha alegria de rapaz, que nossa máquina dava sinais de febre alta.
Não se passaram muitos instantes e tive a queda fatal, sendo atirado à distância.

11 A cabeça bateu com tanta força de encontro a um corpo sólido que não tive dúvidas quanto à gravidade do que nos ocorrera.

12 Conquanto quisesse olhar para os amigos e verificar-lhes a situação, um estranho torpor me imobilizou. 13 Quis movimentar os lábios e as mãos, entretanto, não me pareceram aptos a obedecer aos impulsos da vontade e da mente.

14 Eu era eu mesmo, no tumulto que se fazia em torno de mim, no entanto, a força que me ligava às funções do corpo se me figurava cortada.

15 A inércia tomou conta de mim, embora por dentro estivesse mantendo o desejo de me comunicar com o papai Laurentino, para dar-lhe ciência do acontecido.

16 Amigos que não identifiquei me seguravam e me recomendavam despertar-me, mas como responder ao que me solicitavam?
A boca estava imóvel e as mãos surgiam hirtas.

17 Desejei tanto enviar-lhe algum recado, duas poucas palavras que fossem, entretanto, minhas forças me abandonaram rapidamente.

18 Não tive ideia da morte e sim alimentei a suposição de que voltaria à casa para recuperar-me.
Mas tudo foi inútil.

19 Percebi vagamente que me conduziam a um hospital ou para algum consultório médico onde, segundo minhas esperanças, despertaria para reconhecer-me em casa.

20 Reconheci-me no resto de minhas energias e não me enganava. 21 Um sono inexplicável se apossou de mim e não pude fugir daquela intimação ao repouso compulsório.

22 Quando acordei, ignorando o tempo que despendera no contratempo inesperado, vi ao meu lado uma senhora que parecia interessada em me auxiliar. 23 Não pude responder apressadamente às perguntas que ela me fazia, por que não conseguia locomover-me ou falar de pronto, mas percebi que ela me amparava com carinho de mãe e entreguei-me, sem resistência, ao auxílio que suas mãos me estendiam.

24 Foi então que fiquei sabendo que se tratava de minha avó Clotilde a me dispensar proteção.

25 Imagine, mãezinha, a luta a que fui atirado, nas minhas inquietações sobre a vida e a morte. Com poucas frases minha avó me explicou que eu já conhecera muitas experiências, mas me faltava aquela da morte repentina.

26 Lutei muito comigo mesmo para não chorar, mas mesmo assim o pranto me correu do coração para os olhos, ao lembrar-me de que seu carinho e o carinho de meu pai e das queridas irmãs, Flávia e Cláudia, haviam ficado para trás.

27 Minha avó consolou-me com palavras de bondade, semelhantes às suas, porque, segundo as informações dela, se me demorasse no corpo físico seria para viver numa cama, paralítico por muito tempo. 28 Assim, ela e o avô Antonio Sichetti me guardariam convenientemente até que me vissem recuperado.

29 Realmente, eu me restaurei, mas para uma vida diversa em que, no momento, procuro ser a esperança e o bom ânimo para o meu pai abatido.

30 Estou ainda numa tarefa de me reanimar totalmente para ser o novo servidor do bem que preciso ser. Encontro-me nesta fase, embora saiba que estou à frente do aniversário com o seu coração de mãe palpitando de saudades e de alegria.

31 Conforme observo, querida mãezinha, prossigo em condições razoáveis de reajustamento, mas venho pedir-lhe me auxiliar com as suas preces de paz e de amor a fim de que as minhas forças se refaçam.

32 Já fui diversas vezes à nossa casa e noto a tristeza sombreando o rosto do papai Laurentino ao recordar-me. Afinal, eu era o filho em que ele depositava tantas esperanças, mas peço o seu carinho em dizer-lhe que logo que esteja plenamente refeito, permanecerei com ele, colaborando no seu trabalho, no que ele foi sempre o herói de nossa casa.

33 Peço-lhe ainda não chorar tanto ao recordar-me, pois estou vivo e íntegro com todas as minhas forças.

34 Amparem-me com as lembranças de minha alegria, diante da vida e do mundo. É verdade que não consegui ficar aí para ser, ao lado de meu pai, o companheiro que ele desejava ter, entretanto, de outro modo, conseguirei cooperar com ele.

35 Mãezinha, de todas as impressões negativas que ainda trago comigo, uma das mais fortes é a que se refere ao meu desejo de reconfortar o Mauro, amigo que se fez tão diferente do que era. Observo nele a amargura ao lembrar-se de mim, como se tivesse qualquer culpa no acidente havido, quando sempre encontrei nele um amigo sincero e um companheiro fiel.

36 Peço ao papai Laurentino dizer-lhe que acidentes acontecem todos os dias e que devemos aceitar, sem revolta, as ocorrências que surjam contrárias aos nossos desejos. Se o carro adiantou-se um tanto mais, isso decorria das excelentes condições em que deslizávamos despreocupados.

37 Graças a Deus tudo terminou bem, porque a vovó Clotilde me comunicou que poderia ficar parafusado no leito por muito tempo.

38 Não há motivos para lamentações, porque as leis de Deus são justas e se fui eu, na turma, aquele companheiro que deveria partir primeiro ao encontro da Vida Espiritual, isso demonstra claramente que o meu tempo no mundo físico seria muito curto.

39 Papai Laurentino não estará sozinho no trabalho e minhas irmãs não estarão sem o irmão que as acompanharia para distrações.

40 Tudo está certo e devemos lembrar o meu pobre aniversário com alegria. Estamos aqui numa festa de aniversário, em que nosso Amigo Augusto é o companheiro sorridente e feliz por se reconhecer lembrado carinhosamente.

41 Esqueçamos a tristeza da desencarnação, acompanhada com tantos rituais desnecessários. Tive pena das flores tão lindas enfeitando a nossa separação, quando meu avô Antonio me fez reviver toda a sequência do fim do meu corpo…

42 Tudo revi e compartilhei de nossos sofrimentos, mas não precisávamos tanto requinte de lágrimas, com flores viçosas como que a chamar-nos para a vida e não para a ideia da morte. Felizmente, tudo já foi arquivado no tempo e, à nossa frente, descobrimos muito trabalho a fazer por nós e pelos outros.

43 Nossa querida Cláudia e nossa querida Flávia estão aí requisitando nossa atenção. E quanto a mim, estou melhorando para ser útil ao papai e também ao seu generoso coração materno, às meninas, a querida vovó Antonia e a todos os nossos.
Agora vovó Clotilde recomenda que eu termine.

44 Bastaram alguns momentos para que eu a sentisse quase você mesma, querida mãezinha, junto de mim. As saudades são nossas, mas Deus nos fortalecerá para que as transfiguremos em esperanças.

45 Mãe, peço mais uma vez seja dito ao Mauro que eu estou forte e novamente refeito, a esperar que ele se esqueça de qualquer minudência desagradável quanto à nossa corrida natural.

46 Fui o companheiro intimado pelas leis de Deus a viajar para longe, mas isso não quer significar que esse ou aquele amigo teve culpa na transformação a que me submeti.

47 Muitas lembranças aos amigos e às queridas irmãs.
Minha avó Clotilde me recomenda pedir desculpas pela extensão destas notícias, o que faço contando com a tolerância de todos os amigos presentes.

48 E quero acrescentar que notícias longas exprimem saudades e mais saudades.

49 A gente escreve e escreve, ignorando de que maneira mostrar o coração. 50 Ao papai Laurentino, os meus agradecimentos, com muito carinho à vovó e rogo a você, querida mamãe, receber muitos beijos em sua fronte querida do filho que continua a ser sempre seu, sempre o seu


Fernando

Fernando Querin Sichetti


Rubens A. Germinhasi


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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