O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Instruções psicofônicas — Autores diversos


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Mensagem de um sacerdote

Em nossa reunião da noite de 18 de novembro de 1954, os recursos psicofônicos do médium foram ocupados pelo nosso Irmão C. T., n que fora, algum tempo antes, assistido em nossa agremiação.

Nosso amigo C. T., n que não podemos designar senão pelas iniciais, por motivos facilmente compreensíveis, trouxe-nos interessante relato de suas próprias experiências, do qual salientamos o trecho em que se reporta à emoção de que se viu possuído, quando, ao fitar, compungido, um velho crucifixo, escutou a voz de um Amigo Espiritual, acordando-lhe a consciência para a verdadeira compreensão de Jesus; consideramos de indizível beleza semelhante tópico da presente mensagem por referir-se ao Cristo Vivo, fora dos santuários de pedra, servindo incessantemente em favor do mundo.


1 Irmãos.

A experiência dos mais velhos é auxílio para os mais jovens.

2 Quem atravessou o vale da morte pode ajudar aos que ainda transitam nos trilhos obscuros da existência carnal…

A gratidão, por isso, impele-me a trazer-vos algo de mim.

3 Quando de meu primeiro contato convosco, saí vencido, não convencido… Acreditei fôsseis magnetizadores socorrendo um enfermo difícil.

4 E eu despertava de um pesadelo horrível…

Acordava, identificando a mim próprio e, reconhecendo-me o sacerdote categorizado que eu era, n ressurgia, revoltado e impenitente.

5 Debalde benfeitores espirituais estenderam-me os braços.

Em vão, consoladoras vozes se me fizeram ouvir.

6 As ordenações e convencionalismos da Terra jaziam petrificados em minha cabeça-dura.

Fizera da autoridade a minha expressão de força.

7 Usara a mitra com o orgulho do padre invigilante que se eleva nas funções hierárquicas, com o propósito de dominar o pensamento dos próprios irmãos.

E por mais que a piedade me dirigisse cativantes exortações, recalcitrei, desesperado…

8 Não supunha fosse a morte aquele fenômeno de reavivamento.

Minhas impressões do corpo físico mostravam-se intactas e minhas faculdades, intangíveis…

9 Reclamei meus títulos e exigi minha casa e, naturalmente, para se não delongarem através de conversação inútil, companheiros espirituais tomaram-me as mãos.

Num átimo, vi-me à porta selada de meu domicílio, mas, agora, sem ninguém…

10 Decerto, meus caridosos condutores entregavam-me à própria consciência.

Aflito, gritei por meus servidores, contudo, minhas vozes morreram sem eco.

11 A noite avançara…

Desrespeitosa algazarra alcançou-me os ouvidos.

Desafetos gratuitos pronunciavam sarcasticamente o meu nome, em meio da sombra espessa:

— “Abram a porta ao senhor bispo!”

— “Assistência para o dono da casa!…”

 — “Atendam ao visitante ilustre…”

— “Lugar para Sua Eminência!…”

Isso tudo de permeio com irreverentes gargalhadas.

12 Receando o ridículo, busquei a igreja que me era familiar.

Sacerdotes amigos vigiavam em oração.

Contudo, por mais que apelasse para a minha condição de chefe, ninguém me assinalou as súplicas aflitivas.

13 Ajoelhei-me diante das imagens a que rendia culto, no entanto, jamais como naquela hora havia reparado com tanta segurança a frieza dos ídolos que representavam objetos sagrados de minha fé.

Desejava fazer-me sentido, ouvido, tocado…

14 Então, como se um ímã me provocasse, retrocedi apressadamente…

Em passos ligeiros, desci à pequena câmara escura.

Fora atraído por meus próprios restos.

15 Ali descansava, na escuridão silenciosa, o corpo que me servira.

O bafio repelente do túmulo obrigava-me a recuar…

16 Algo, porém, me constrangia a compulsória aproximação.

Toquei as vestes rotas e senti que minhalma se justapunha aos ossos desnudados…

17 Queria reassumir a posição vertical entre os homens.

Mas apenas vermes e mais vermes eram, ali, a única nota de vida.

18 Dominado de terrível pavor, tornei ao altar para as orações mais íntimas… Orações que brotassem de mim, diferentes daquelas que decorara para iludir o tempo.

19 Procurei um velho crucifixo.

Ali, estava a cruz do Senhor.

Não era um ídolo, era um símbolo.

20 Via-me sozinho, desanimado, e orei, compungidamente.

Rememorei os ensinamentos do Mestre Divino, que recolhia as almas desarvoradas e enfermas para restituir-lhes o alento…

21 E uma voz à retaguarda, cuja inflexão de energia e brandura não conseguiria traduzir, exclamou para meu Espírito fatigado:

— Amigo, tua casa na Terra cerrou-se com teus olhos!…

Teus poderes eclesiásticos estão agora reduzidos a um punhado de cinzas…

22 E de todas as atividades sacerdotais que exerceste, permanece tão só esta de agora, — a de tua própria fé ressuscitada na humildade do coração!

23 Cristo não permanece crucificado nos altares de pedra, disputando a reverência daqueles que supõem prestigiar-lhe a memória, a preço de incenso e ouro…

24 Jesus está lá fora! Com as mães que se sentem desamparadas, com os discípulos que sustentam em si mesmos duro combate!…

25 O Senhor caminha ao longo da velha senda que o homem palmilha, há milênios, procurando aqueles que anelam amealhar fraternidade e luz, serviço e renovação…

26 Avança ao encontro das almas fiéis que repartem o tempo entre a lição que educa e o trabalho que santifica…

27 Busca as crianças sem ninho, asilando-as nos braços daqueles que lhe recordam a amorosa exortação…

28 Respira nas fábricas, onde o suor dos humildes pede socorro…

29 Ora nos círculos atormentados da luta redentora, onde corações restaurados no Evangelho intentam a construção de nova estrada para o futuro…

30 Cristo vive lá fora, reconfortando os caluniados e enxugando as lágrimas de quantos se sentem morrer na solidão dos vencidos…

31 O Senhor, ainda e sempre, é o Celeste Peregrino do mundo…

32 Nas noites frias, é o agasalho dos que não receberam a graça do lar…

33 Junto ao fogão sem lume, é o calor que regenera as energias dos que não puderam adquirir uma côdea de pão…

34 Enfermeiro nos hospitais, conchega de encontro ao peito os doentes em abandono…

35 Amigo infatigável dos cegos e dos leprosos, dos cansados e dos tristes, instila-lhes, generoso, a bênção da esperança…

36 O Mestre jamais envergou a túnica da ociosidade que lhe quadraria ao coração como um sudário de morte…

37 Vamos! Vamos em busca do Senhor Ressuscitado!

Procuremos o Cristo, além da cruz, tomando a cruz que nos é própria, a fim de encontrá-lo na grande ressurreição!…

38 Aflito, mas devolvido a mim mesmo, senti frio…

39 Minha igreja estava gelada, mas, ao calor da prece, roguei ao Céu permissão para esposar novo roteiro, sob a luz viva do Evangelho restaurado, na religião do esforço humanitário e social, com o templo guardando a fé por base e a caridade por teto…

40 E abraçando convosco a senda renovada, tento agora avançar para o futuro sublime!…

Que o Senhor nos ampare.


C. T.



[1] Vide nota em anexo.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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