O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Gratidão e paz — Familiares diversos


Capítulo 17


Paulo Sérgio da Costa


EM APRENDIZADO NA CROSTA TERRESTRE E NO MAIS ALÉM

Vítima de infarto do miocárdio, Paulo Sérgio da Costa, 30 anos, deixou o Plano Físico no amanhecer de 10 de maio de 1981 — Dias das Mães, quando se encontrava hospitalizado no Hospital das Clínicas de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Seu passamento inesperado deixou um enorme vazio e profunda tristeza no seio familiar, pois era muito querido e de gênio alegre e brincalhão.

A sua Primeira Carta mediúnica, recebida em 22 de janeiro de 1983, revela preocupação em desfazer dúvidas que atormentavam a família, com relação ao tratamento médico que não conseguiu evitar o seu desenlace. Mas, na Segunda, um ano depois (18/2/1984), afirmava: “Hoje, a ideia de doença já se me desfez no campo da memória, e estou acordando para novos horizontes.” E, de fato, analisa alguns temas — como a descrença na imortalidade da alma, o amor materno, a necessidade do esforço próprio — com muita propriedade, emitindo conceitos “nascidos da sabedoria do avô Oscar”, também desencarnado.

Na Terceira Carta, relata suas interessantes experiências no campo do aprendizado, tanto no Mais Além, no educandário onde se encontra, como na própria Crosta terrestre, como frequentador das reuniões de uma instituição espírita em Campo Grande.




PRIMEIRA CARTA


1 Querida mamãe Eulinda, abençoe-me.

2 Sinto-me aqui, qual se meu pai Eduardo estivesse em nossa companhia, abençoando-me e estimulando-me a confiar no amanhã, agora mais novo para mim. Venho agradecer a sua persistência em procurar-me, embora reconheça a desvalia de minhas palavras.

3 Tentava, no entanto expressar-lhe algumas noticias, a fim de dizer-lhe que a minha intolerância pelo tratamento soroterápico não me alterou de modo algum.

4 Quando vi papai preocupado com as palavras do Eduardo pelo telefone, é que me conscientizei da situação diferente para a qual caminhava. Lia em seus olhos o receio que a minha dor lhe causava e, por isso, não foi sem inquietações que aceitei o tratamento médico, longe do nosso Eduardo, que embora distante continuava velando por nós.

5 Mãezinha Eulinda, peço ao seu coração querido dizer ao meu pai que não houve nada de irregular em meu caso. Simplesmente aquela dor que me constrangia, e isso, a meu ver, passaria com os calmantes do nosso tempo, e esperei os resultados até que no seu belo Dia das Mães, que eu desejava enfeitar de alegrias mil, foi logo torpedeado por minhas dificuldades com o remédio, em cujas virtudes acreditei sinceramente. Não podemos, porém, culpar o médico amigo que tudo fez para salvar-me.

6 Querida mãezinha Eulinda, não fosse a falta de casa e o seu filhão estaria feliz. A saudade, porém, é mais forte do que o meu tamanho e vou curtindo aqui a vontade de compartilhar de nossas experiências caseiras, ao lado de papai e sob a regência do seu carinho constante.

7 Peço dizer ao papai Eduardo, ainda mesmo que ele não possa acreditar, por enquanto, em minhas notícias, que o vovô Oscar tem me auxiliado muito, e que estou sob a proteção da vovó Paulina e da tia Rosalvina, que se esforçam, com valorosa generosidade, para que eu me sinta aqui em família.

8 Tudo se reconstituirá novamente para nós e não desejo qualquer reclamação contra a medicina, porquanto o nosso médico aí fez tudo o que pôde a fim de me auxiliar.

9 Querida mamãe Eulinda, peço-lhe agradecer, ainda, à nossa irmã D. Maria Edwirges as preces que elevou ao Alto em meu benefício, e peço-lhe auxiliar-me com a sua coragem e com a sua fé em Deus.

10 Muitas lembranças para o Eduardo e família querida, para Alberto e para a nossa querida Aparecida. Vovó Paulina afirma-me que, em breve, voltarei para conversar mais demoradamente consigo, e assim espero.

11 Querida mamãe Eulinda, receba com meu pai e com os meu irmãos, na vida estuante de saudade e carinho que os envolvem, o coração de seu filho, sempre o filho do seu coração,


Paulo Sérgio da Costa


Notas e Identificações

1 - Mamãe Eulinda e pai Eduardo — Casal Eduardo José da Costa e Eulinda Zeolla da Costa, residentes em Campo Grande, MS.

2 - Palavras do Eduardo — Dr. Eduardo Rosalvo da Costa, médico, irmão.

3 - Vovô Oscar — Oscar José da Costa, avô paterno, desencarnado a 05/12/1934, em S. Paulo.

4 - Vovó Paulina — Paulina Perez Pipino, bisavó materna, desencarnada a 28/6/1945, em Campo Grande.

5 - Tia Rosalvina — Rosalvina Costa Figueiredo, tia paterna, desencarnada a 29/3/1969, no Rio de Janeiro.

6 - D. Maria Edwirges — Maria Edwirges Borges, amiga da família e Vice-Presidente do Centro Espírita “Discípulos de Jesus”, em Campo Grande. Atualmente é Presidente da Federação Espírita de Mato Grosso do Sul.

7 - Alberto e Aparecida — Arquitetos Alberto Victório da Costa e Maria Aparecida da Costa, irmãos.

8 - Paulo Sérgio da Costa — Nasceu a 18/10/1950, em Campo Grande. Formou-se técnico em contabilidade e era sócio da farmácia de seu pai.




SEGUNDA CARTA


1 Querida mãezinha Eulinda, seu coração palpitou e a sua própria alma viajou, atravessando a distância de Campo Grande até aqui, procurando forças para a superação dos problemas em que todos nos envolvemos, ainda mesmo quando já não usufruímos a roupa terrestre.

2 Compreendo, sim. A sua sede de paz em casa e sua fome de alegria e fé rogam socorro para que essas bênçãos venham ao nosso encontro.
Confiemos na Bondade infinita de Jesus e caminhemos.

3 Hoje, a ideia de doença já se me desfez no campo da memória, e estou acordando para novos horizontes.

4 Também, eu, mamãe querida, quero paz e alegria, mas entendo que preciso desenvolver esforço máximo para conquistá-las. Faço força para que papai Eduardo me aceite a sobrevivência e transforme a saudade em certeza de que todos nos reencontraremos um dia… entretanto, quem pode violar o santuário de um espírito, de modo a lhe alterar os impulsos?

5 Meu pai espera e eu igualmente espero do Pai Todo Misericordioso o apoio necessário à nossa compreensão. Precisamos de uma nova dimensão para o entendimento, mas o desnível prossegue. É natural. A diferença de Plano determina a diferença de vida.

6 Entretanto, o amor é o passaporte para a travessia de todas as limitações, penetrando os domínios da verdade. E esse amor é fonte de fé renovadora em sua alma.

7 Creio que Deus concedeu à mulher as chaves da vida, porque somente alguém com suficiente capacidade para amar e esperar é que poderia zelar pelos interesses das criaturas. 8 O seu coração de mãe, querida mamãe Eulinda, nos cabe a todos, ao papai, aos meus irmãos e a mim, tais quais somos e por este motivo, peço-lhe serenidade e confiança no futuro.

9 Estes princípios que me alimentam presentemente nascem da sabedoria do meu avô Oscar, cujos ensinamentos me asserenaram o espírito, tão logo regressei à vida espiritual. Em companhia dele, peço à sua esperança para se manter fiel à nossa certeza de que o tempo nos doará sempre o melhor, em nome de Deus.

10 O Eduardo, irmão dedicado de sempre, o Alberto e a nossa Aparecida são seus tesouros e esses tesouros a enri­quecem de segurança.

11 Lutas na Terra, tê-las-emos sempre, problemas não nos faltarão. Todos nós, no Mundo Físico e no Mundo Espiritual que lhe segue o padrão vibratório teremos testes de amor e paciência, coragem e abnegação, bondade e perdão, uns à frente dos outros.

12 Não se aflija por desafios à sua capacidade de com­preender e desculpar. Os dias trarão outros dias e cada dia se nos fará mensageiro de lições novas. (…)

13 O seu filho e companheiro reconhecido de sempre,


Paulo Sérgio

Paulo Sérgio da Costa.




TERCEIRA CARTA


1 Querida mãezinha Eulinda, abençoe-me. (…)

2 Parece que, após a desencarnação pouco nos importam os acontecimentos do calendário, mas não é assim. Na Esfera próxima que nos serve de domicílio, 365 dias representam uma soma de muito valor para nosso aprendizado e adiantamento espiritual. (…)

3 Felizmente, mamãe Eulinda, estou na condição do aluno que fez o possível por obter excelentes notas no educandário em que se encontra, para contentamento da família; entretanto, se não obtive as melhores notas, conquistei as notas razoáveis, à custa de suas preces e pensamentos de amor, e com semelhantes aquisições marcharei para a frente.

4 Não posso esquecer quanto devo à nossa irmã e ben­feitora Maria Edwirges, não apenas através das orações com que me recorda entre os seus amigos e tutelados, mas também pelos comentários e seleções evangélicas que, ao lado de outros companheiros, ouvimos dela na instituição que dirige, onde a palavra de nossa irmã não só alcança os irmãos reencarnados, mas também grande número de nós outros, os desencarnados que precisam de novas informações acerca da vida e das obrigações que nos vinculam à vida, porque mãezinha, os prodígios não existem senão nas obras paciente­mente elaboradas através do exemplo, qual ocorre com a nossa amiga, cuja fé nunca se empalidece, ensinando-nos a seguir para o melhor a fazer.

5 Todos aqueles que não se preparam espiritualmente para a grande vida que a todos nos espera, após a desencar­nação, não podem realizar de improviso as condições neces­sárias para ombrear com aqueles aprendizes da vanguarda. Essa tarefa venho efetuando gradativamente, e tenho por is­so, em nossa irmã e benfeitora Maria Edwirges, uma profes­sora a quem devo muito.

6 Se a gente soubesse por aí que a vida prossegue depois da grande mudança, decerto nós todos haveríamos de reservar alguma faixa de tempo, mesmo reduzida, para estudar o que nos pode acontecer; após a transição a que me refiro, e atingiríamos a existência neste meu novo mundo, um tanto mais habilitados ao continuísmo das grandes lições que a todos um dia, nos esperam.

7 Comparo o que digo ao alfabeto e a produção dos escritores, ou o solfejo e as obras dos compositores que entretecem músicas para a elevação da comunidade. Reporto-me ao assunto porque estamos nas esperanças do Ano Novo e reconhecendo realidades do interesse de todos. (…)

8 Do papai Eduardo, tive tantas demonstrações de honradez e trabalho, lealdade e respeito ao próximo que me parece possuir um patamar seguro para construir os meus tempos que virão.

9 Com relação a isso, creio que o papai Eduardo, no íntimo do coração afetuoso e sensível, me percebe a presença em notícias que eu lhe deixo nas mãos carinhosas de mãe; no entanto, mãezinha Eulinda, papai é homem de compromissos positivos, e na exatidão que estima em tudo o que faz, acumula impressões na vida interior, a fim de não proclamar nesse ou naquele campo de fé religiosa sem os elementos comprobatórios do que afirme.

10 Entretanto, isso não impede que na intimidade ele e eu nos entendamos. Ele estuda e medita o que escrevo, em silêncio, e sempre retira as conclusões certas. Muitas vezes, na solidão do quarto ou do campo, ele e eu choramos juntos, porque no coração dos pais e mães cada filho possui um recanto particular.

11 O nosso espírito, mãezinha Eulinda, assemelha-se, de algum modo, a um edifício de condomínio, onde cada morador possui o seu apartamento especial e isso acontece com os pais e os filhos. O lugar de um deles é inalienável.

12 Papai sempre reflete em meu anseio de viver em minha partida compulsória. Ele deseja que eu também estivesse aí na vida física para preencher o espaço que Deus me havia dado em família, e sente a minha ausência do conjunto doméstico. Grande pai e amigo! Deus o engrandecerá nas ideias que ele tem, quaisquer que sejam, porque papai possui bastante força para realizar as mais altas transformações no que chamaríamos de química mental.

13 Do materialismo aparente ele conseguirá improvisar a fé mais pura, porquanto nele a honestidade do filho de Deus prevalece em todas as circunstâncias.

14 Mãezinha Eulinda, agradeço-lhe, com também agradeço à nossa Aparecida a presença carinhosa.

15 O vovô Ferreirinha veio em minha companhia abraçá-la. Temos aqui a nossa família de afinidades reunidas em serviço e preparação espiritual, de modo a sermos úteis aos nossos familiares e amigos queridos que ficaram na vida física, em qualquer emergência. O avô Oscar é nosso companheiro de trabalho e de esperança. 16 A tia Rosa e a tia Joanita são irmãs benfeitoras, igualmente aplicadas ao aperfeiçoamento próprio, ambas dedicam muita estima à vovó Maria e à nossa Erminda, que lhes recebem o constante amor. (…)

17 Todo o imenso carinho, com as muitas saudades de seu filho, sempre seu filho pelo coração,


Paulo Sérgio

Paulo Sérgio da Costa.


Notas e Identificações

9 - Psicografada em 18/01/1986.

10 - “Antes de dirigir-me a Uberaba e receber a Terceira, conversei muito com meu filho, mentalmente, olhando sua foto. Contei-lhe meus sofrimentos e ele, na carta, deu-me todas as respostas.” (Dª Eulinda)

11 - Vovô Ferreirinha — Victório Zeolla, avô materno, desencarnado a 8/2/1972, em Campo Grande.

17 - Tia Rosa — Rosa Zeolla Nogueira, tia materna, desencarnada em Pernambuco.

13 - Tia Joanita — Joanita Pipino Cresci, tia materna, desencarnada a 01/01/1971, no Rio de Janeiro.

14 - Vovó Maria — Maria Zeolla, avó materna, residente em Campo Grande.

15 - Erminda — Erminda Zeolla, tia materna, residente em Campo Grande.


Hércio Marcos C. Arantes


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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