O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Entre irmãos de outras terras — Autores diversos — F. C. Xavier / Waldo Vieira


5


Vinte assuntos com William James

Considerando os climas culturais específicos da ação espírita nos Estados Unidos e no Brasil, apresentamos, a seguir, as vinte questões que constam de nossa conversação com o Dr. William James, o eminente médico, psicólogo e filósofo norte-americano, desencarnado em 1910, que nos visita o grupo de oração e serviço espiritual nesta noite:


1. Pergunta. n — Caro amigo, achando-nos em Nova Iorque, ao lado de irmãos do Brasil, estimaríamos saber se a pesquisa da verdade, na Terra, continua contando, até agora, com a sua colaboração.

Resposta. — Sim. Geralmente prosseguimos, após a desencarnação, na linha de atividade a que nos empenhamos na experiência física. E se essa atividade revela características edificantes, capazes de dissolver as sombras que acumulamos, no próprio ser, à vista dos erros e débitos em existências passadas, devemos disputar a oportunidade de ampliá-las com todos os recursos ao nosso alcance.


2. — Mantém com o mesmo entusiasmo, de outros tempos, os seus estudos de Espiritismo?

— Indiscutivelmente. Os princípios da Nova Revelação constituem campo de possibilidades infinitas.


3. — Que nos diz hoje do concurso da Ciência nas realizações espíritas?

— Compreendo agora, quanto antes, a necessidade do testemunho científico para que se lavre na Terra a certidão da sobrevivência da alma; entretanto, admito que nós outros, os investigadores do assunto, com naturais exceções, perdemos, algumas vezes, muito tempo, repetindo experimentos, talvez em demasia, no intuito de fugir às consequências morais que o assunto envolve.


4. — Acredita que seria justo limitar a cooperação científica nos círculos doutrinários do Espiritismo?

— Não desejamos dizer que a pesquisa científica seja desnecessária. Propomo-nos a afirmar que o pesquisador não está exonerado do dever de ouvir a própria consciência. Um sábio não é um aparelho gravador de terminologia técnica e sim um espírito com avançados cabedais de conhecimento, chamado pela Orientação Superior ao aperfeiçoamento da vida.


5. — Que opinião formula acerca da Parapsicologia?

— A Parapsicologia, a rigor, remonta às mais antigas eras da Humanidade. A própria Bíblia está repleta de exemplos. No versículo doze do capítulo seis n do Segundo Livro de Reis, vemos o profeta ou médium Eliseu assimilando transmissões telepáticas do rei da Síria, com a precisão dos melhores “sujets” empregados nas experiências de Rhine e outros.


6. — Que julga do apoio espírita aos trabalhos parapsicológicos?

— Entendemos que os espíritas, quando possível, devem cooperar no desenvolvimento da Parapsicologia, a fim de que as pesquisas não venham a cair sob a exclusiva observação de inteligências apaixonadas, procedam elas da Ciência ou da Religião. Esse concurso, porém, a nosso ver, apenas se verificará quando não acarrete prejuízo para os compromissos abraçados pelo obreiro espírita em sua ficha de ação.


7. — Como define a posição do conhecimento espírita no planeta terrestre?

— Na Terra, o equilíbrio da personalidade moral exige o conhecimento espírita limpo e simples, tanto quanto a euforia orgânica da personalidade física reclama suprimento de alimentação saudável e higiênica.


8. — Pode clarear, de maneira mais completa, a sua definição do conhecimento espírita?

— O conhecimento espírita é orientação para a vida essencial e profunda do ser. Claro que a evolução é lei para todas as criaturas, mas o Espiritismo intervém no plano da consciência, ditando normas de comportamento, suscetíveis de traçar caminhos retos à ascensão da alma, sem necessidade de aventuras nos labirintos da ilusão que correspondem a curvas aflitivas de sofrimento.


9. — Admite que o Espiritismo é fator decisivo na condução da vontade?

— De modo perfeito. Sem que o espírito responda aos chamamentos dos princípios evolutivos, atendendo, de livre vontade, às obrigações que a vida lhe atribui, a reencarnação para ele é um círculo de repetições, com proveito muitíssimo reduzido no transcurso dos milênios.


10. — Que nos diz da mediunidade?

— A mediunidade ainda não encontrou na Terra o apreço que, um dia, desfrutará juntamente dos homens, como recurso de acesso da individualidade encarnada às Esferas Superiores.


11. — Acredita que um médium precise receber instruções adequadas?

— Protegemos a mostarda para que se lhe garanta a produção normal. Como edificar a mediunidade e conservá-la dignamente sem recursos de educação?


12. — Os Espíritos mais elevados vencem com facilidade as deficiências mediúnicas?

— Os benfeitores e instrutores desencarnados poderiam realizar obras construtivas da mais alta expressão no mundo; contudo, para isso, necessitam dispor de elemento interpretativo. Onde o conjunto orquestral habilitado a fazer música sem a cooperação de instrumentos?


13. — O Espírito, mesmo aquele de hierarquia sublime, depende do médium para expressar-se no campo físico?

— Até que a ciência estabeleça livre e generalizado intercâmbio entre as inteligências encarnadas e desencarnadas, o Espírito domiciliado no Além, para comunicar-se com os homens, depende do médium, como a alma, para corporificar-se na esfera física, depende do refúgio materno.


14. — Seria razoável aproveitar, de imediato, os médiuns de faculdades mais amadurecidas, formando núcleos destacados com o propósito de efetuar mais vivas demonstrações da sobrevivência?

— Não nos é lícito esquecer que os recursos medianímicos são conferidos a todas as criaturas, que os recolhem no nível individual em que se colocam. Burile-se o médium e atrairá Espíritos burilados. Levantar primazias nessa matéria seria formar partidos e fomentar a guerra pela posse de domínios psíquicos.


15. — Sabemos que o médium tem o dever de aperfeiçoar-se, mas, além disso, a seu ver, qual a necessidade fundamental do médium no desenvolvimento das faculdades que lhe dizem respeito?

— Para qualquer médium, o desenvolvimento das energias psíquicas não oferece embaraços maiores; entretanto, porque esse desenvolvimento abre novos horizontes ao círculo da convivência, o maior problema de um médium na Terra, ao que nos parece, é o se conservar fiel às boas companhias do Mundo Espiritual.


16. — Aprecia em graus diferentes a mediunidade de efeitos físicos e a de efeitos intelectuais?

— Toda mediunidade é importante, mas entendemos que os fenômenos físicos, sem o necessário discernimento, não atendem aos requisitos da melhoria do mundo interior. Consideramos, por isso, que a mediunidade de efeitos intelectuais, propiciando acesso a ensinamentos de ordem superior, deve ser largamente cultivada a fim de que a mediunidade de efeitos físicos não distraia a criatura das obrigações morais a que se vincula no tempo de sua corporificação no Plano físico.


17. — No seu modo de ver, qual é o serviço principal da mediunidade nas tarefas espíritas?

— Em nos referindo à atualidade terrestre, cremos que os valores mediúnicos precisam colaborar no esclarecimento dos homens, especialmente no socorro às vítimas da obsessão, hoje contadas aos milhares, em todos os quadrantes do Planeta.


18. — A linguagem articulada é fator de base nas comunicações entre desencarnados de um país, através de médiuns situados em país diferente?

— Sabemos que o pensamento é idioma universal; no entanto, isso é realidade imediata nos domínios da indução ou da telepatia laboriosamente exercitada. Será possível tranquilizar um doente com a simples presença da ideia de paz e otimismo, cura e esperança, mas não conseguimos prodigalizar-lhe avisos imediatos de tratamento sem comunicar-nos com ele através da linguagem que lhe é própria. Por outro lado, ocorrências de xenoglossia podem ser obtidas como se organizam espetáculos de encomenda. É necessário compreender, porém, que, no atual estágio da Humanidade, a barreira das línguas é limitação inevitável, de vez que por enquanto os desencarnados, em maioria esmagadora, comumente prosseguem arraigados ao ambiente doméstico em que viveram. Desse modo, os amigos espirituais ligados aos Estados Unidos, que aspirem a ser ouvidos, sem delonga, no Brasil, devem, de modo geral, estudar Português, e vice-versa. Isso é claro no sistema regular de comunhão linguística, porquanto o progresso ignora o milagre.


19. — Quando acredita venhamos a ter a felicidade do Espiritismo mais amplamente divulgado na Terra?

— Questão de tempo e boa vontade dos homens. Qualquer criatura pode retardar o próprio acesso ao portão da verdade, mas ninguém escapará dele.


20. — Mereceremos de sua experiência algum aviso particular para nós outros, os companheiros desencarnados e encarnados da obra espírita do Brasil?

— Temos aprendido que não surgem construções estáveis ao impulso do improviso. A seara espírita pede plantação de princípios espíritas. E não existe plantação eficiente sem cultivadores dedicados. Ampliemos a área de nosso concurso individual e elevemos o nível de compreensão das nossas responsabilidades para com a obra do Espiritismo. Se fazemos o que pensamos, só dispomos, em verdade, daquilo que fazemos. As leis do Universo são justas. Cada companheiro, cada agrupamento e cada país terão do Espiritismo o que dele fizerem. Cremos seja possível sintetizar diretrizes para nós todos no seguinte programa: sentir em bases de equilíbrio, pensar com elevação, falar construtivamente, estudar sempre e servir mais.


André Luiz



(Nova Iorque, N.I., EUA, 27, julho, 1965.)


[1] No original impresso as questões iniciam-se com um P. e as respostas com um R., sem numeração sequencial; essas abreviaturas foram suprimidas para melhor exequibilidade nas traduções e leituras digitais.


[2] Na 1ª edição consta: “No versículo seis do capítulo segundo do Livro de Reis.”


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir