O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Coração e vida — Maria Dolores


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Renúncia maternal

  1 A senhora ofegante agoniza no leito.

  Ministrara-lhe o filho

  Para acalmar-lhe a dor medicação suposta…

  Agora compreendia…

  Era um crime perfeito

  E o coma inesperado

  Atingia-lhe, em cheio, por resposta:


   2 Ali estavam ambos. Noite alta.

  O rapaz não percebe

  Toda a extensão da própria falta.

  Na câmara trancada, ela jaz consciente;

  Não teria suposto o filho amigo e inteligente

  Que ela criara aos mimos,

  Entre risos e beijos,

  Para brilhar nos grandes cimos

  Do campo social,

  Capaz de impor-lhe assim

  Tão doloroso fim

  Na moldura do mal.


   3 Ao derradeiro olhar da vítima que sofre,

  O rapaz abre o cofre

  E retira o dinheiro ali depositado,

  Além da grande soma de contado,

  Ele, o moço infeliz,

  Furta os brilhantes e os rubis,

  Os adereços de ouro, as pedras raras

  E as coleções mais caras

  Que falavam tão alto ao coração materno…

  Vendo que a genitora

  Nele fixa o olhar piedoso e terno

  Ao entregar-se a morte,

  Ele, calmo, efetua o lúgubre transporte

  Do tesouro que passa a usufruir

  Para local

  Que ninguém, mas ninguém da moradia enorme

  Poderá descobrir.


   4 Logo depois, enquanto a casa dorme,

  Ante a mãe morta, agora enrijecida,

  Ele prepara a cena pela qual

  Ela será interpretada

  Na condição de pobre dementada

  E doente suicida.

  Por detalhe final

  Coloca junto dela

  Uma taça de estranho corrosivo,

  Um veneno letal

  Tisnando o guaraná inofensivo.

  Em seguida, abre a porta,

  Conclama servidores,

  Grita clamando a dor que o desconforta,

  Diz que a mãe se fizera

  Lamentável suicida,

  Por sofrer grande tédio em toda a vida…

  Roga estejam presentes

  Autoridades competentes,

  E, após o barulhento funeral,

  Ei-lo rico, afinal,

  Na sede de fazer no mundo o que quiser,

  Sem recordar sequer,

  Que acima das criaturas e das cousas

  Outra vida palpita além das lousas.


   5 Mas, no Além, oh! segredo soberano,

  Aquela mãe liberta,

  Sente falta do filho desumano,

  Reconhece que o ama e nota que o perdoa,

  Imensamente terna e imensamente boa…

  Mostrando o coração por brilhante luzeiro

  Ante as Mansões da Paz, encontra um mensageiro

  Que lhe oferece os Céus por recompensa…

  Ela pode habitar numa estrela suspensa,

  Em sublimes tarefas de eleição,

  Nas quais encontre paz, felicidade,

  Alegria e mais luz ao coração…

  Ela, porém, humilde,

  Disse não esperar

  Poder subir, sozinha, aos sóis do Eterno Lar;

  E porque o mensageiro lhe indagasse

  Sobre o que mais desejaria,

  A explicar-lhe

  Que o mérito alcançado

  Não lhe impunha incerteza ou qualquer empecilho.

  A pobre replicou, timidamente:

  — Creio eu que o Senhor

  Coloca o nosso céu onde está nosso amor!…

  Anjo bom, se Jesus terno e clemente,

  Pode ainda me ouvir, por imensa piedade,

  Quero dizer que não desejo

  Outra felicidade,

  Outro céu e outro brilho,

  Nem qualquer redenção,

  Além da permissão

  De voltar para a Terra e proteger meu filho!…


Maria Dolores


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