O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Contos desta e doutra vida — Irmão X


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O anjo, o santo e o pecador

1 O Pecador escutava a orientação de um Santo, que vivia, genuflexo, à porta de templo antigo, quando, junto aos dois, um Anjo surgiu na forma de homem, travando-se breve conversação entre eles.

2 O ANJO. — Amigos, Deus seja louvado!

O SANTO. — Louvado seja Deus!

O PECADOR. — Louvado seja!

3 O ANJO. (Dirigindo-se ao Santo) — Vejo que permaneceis em oração e animo-me a solicitar-vos apoio fraternal.

O SANTO. — Espero o Altíssimo em adoração, dia e noite.

4 O ANJO. — Em nome d’Ele, rogo o socorro de alguém para uma criança que agoniza num lupanar.

O SANTO. — Não posso abeirar-me de lugares impuros…

O PECADOR. — Sou um pobre penitente e posso ajudar-vos, senhor.

5 O ANJO. — Igualmente, agora, desencarnou infortunado homicida, entre as paredes do cárcere… Quem me emprestará mãos amigas para dar-lhe sepulcro?

O SANTO. — Tenho horror aos criminosos…

O PECADOR. — Senhor, disponde de mim.

6 O ANJO. — Infeliz mulher embriagou-se num bar próximo. Precisamos removê-la, antes que a morte prematura lhe arrebate o tesouro da existência.

O SANTO. — Altos princípios não me permitem respirar no clima das prostitutas…

O PECADOR. — Dai vossas ordens, senhor!

7 O ANJO. — Não longe daqui, triste menina, abandonada pelo companheiro a quem se confiou, pretende afogar-se… É imperioso lhe estenda alguém braços fortes para que se recupere, salvando-se-lhe também o pequenino em vias de nascer.

O SANTO. — Não me compete buscar os delinquentes senão para corrigi-los.

O PECADOR. — Determinai, senhor, como devo fazer.

8 O ANJO. — Um irmão nosso, viciado no furto, planeja assaltar, na presente semana, o lar de viúva indefesa… Necessitamos do concurso de quem o dissuada de semelhante propósito, aconselhando-o com amor.

O SANTO. — Como descer ao nível de um ladrão?

O PECADOR. — Ensinai-me como devo falar com ele.

9 Sem vacilar, o Anjo tomou o braço do Pecador prestativo e ambos se afastaram, deixando o Santo em meditação, chumbado ao solo.




10 Enovelaram-se anos e anos na roca do tempo, que tudo alterara. O átrio mostrava-se diferente. O santuário perdera o aspecto primitivo e a morte despojara o Santo de seu corpo macerado por cilício e jejum, mas o crente imaculado aí se mantinha em Espírito, na postura de reverência.

11 Certo dia, sensibilizando mais intensamente as antenas da prece, viu que alguém descia da Altura, a estender-lhe o coração em brando sorriso.

O Santo reconheceu-o.

12 Era o Pecador, nimbado de luz.

— Que fizeste para adquirir tanta glória? perguntou-lhe, assombrado.

O ressurgido, afagando-lhe a cabeça, afirmou simplesmente:

— Caminhei.

Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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