O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Augusto vive — Augusto Cezar Netto


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Vivência cristã

1 Prezada Irmã.
A sua carta nos comoveu.
Compreendemos.
A senhora se declara fatigada. Anseia integrar uma equipe fraterna, em que possa desenvolver os seus ideais de bondade, no entanto, está encontrando unicamente motivações a desgostos. Incompreensões e antagonismos. Observações descaridosas que lhe depreciam as melhores intenções. Críticas e fofocas.
E nos solicita:
— “Augusto amigo, como ajustar-se a pessoa ao relacionamento cristão? Não poderá você enviar-me algumas notas ligeiras, em derredor do assunto?”


2 Francamente, a sua confiança nos confunde e, por isso, limito-me a endereçar-lhe a página breve, que consideramos de elevada importância nas relações dos grupos evangélicos, de uns para com os outros.

3 Conta um benfeitor espiritual que, depois da crucificação de Jesus, ei-lo de volta, às vezes, quando menos se esperava, para essa ou aquela visita a determinado seguidor.
O Divino Mestre ressuscitado empenhava-se em acalentar a fé nos discípulos vacilantes e intranquilos.

4 Foi assim que, em certa noite, o apóstolo Tiago, o mais idoso, em orações ao Eterno Amigo, clamou desalentado:
— Senhor, como interpretar a lição do amor que nos ensinaste? Os instrutores antigos foram unânimes em declarar, de geração a geração, que se deve odiar o mal e só vejo o mal em torno de nós. Enquanto estendemos as mãos no socorro aos que sofrem, surgem adversários que nos espancam os braços. Pronunciamos a palavra fraterna no trato com os semelhantes, mas, ao nosso lado, esbravejam aqueles que nos injuriam com expressões cruéis. Das migalhas que nos chegam às mãos, repartimos com os necessitados a maior parte, contudo não são poucos aqueles que nos penetram a moradia, mostrando falsa mendicância, para furtar-nos o apoio que nos envias, através de corações generosos para socorro aos infelizes. Os poucos amigos que colaboram conosco são perseguidos e humilhados. Muitos deles já foram acusados de crimes que não cometeram e espancados ocultamente nas prisões, até que se lhes demonstrassem a inocência… Senhor, que fazer diante de tanto mal? Somos simplesmente um punhado de criaturas indefesas, à frente das legiões de inimigos armados até os dentes!…

5 Entretanto, ainda não terminara as alegações quando estranho rumor se fez ouvir. Doente rebelde, que se recolhera no refúgio dos apóstolos, regressava da rua em graves condições. Largara-se dos compromissos assumidos, excedera-se numa festa e se embriagara com o vinho forte. Chegava tarde e gemendo, em descontrole, esquecia-se do benfeitor a quem devia respeito e bradava:
— Saia daí, santarrão de mentira!

6 E cambaleando:
— Erga-se daí e dê-me o remédio. Cumpra com as suas obrigações e não me venha com pregações encomendadas!…

7 Tiago se mostrava a ponto de irritar-se quando, na penumbra do quarto, viu que alguém escorava o infeliz, evitando-lhe a queda.
Fixou o desconhecido com atenção, até que reconheceu nele a presença do Mestre.

8 Comovido e pasmo, o companheiro indagou:
— Mestre, pois, pois és tu?

9 Jesus estendeu a mão no rumo do infeliz, como a indicar-lhe a tarefa de assistência que lhe cabia fazer e, antes que se lhe ocultasse a visão, disse-lhe apenas:
— Tiago, eu não vim ao mundo para curar os sãos!…

10 O discípulo transformou-se, renovando a própria atitude e eu, querida irmã, dentro de minha pequenez, peço a sua permissão para lhe dizer que, em matéria de assistência cristã, em nosso relacionamento com Jesus e com o próximo, a nossa situação é isto aí.


Augusto Cezar


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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