O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Antologia mediúnica do Natal — Autores diversos


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Oração ante a manjedoura

1 Senhor: quando iniciaste o Divino Apostolado, na Manjedoura singela, preocupava-se o Império Romano por um mundo só, em que se garantisse a paz pela centralização administrativa. 2 Augusto, o glorioso imperador, ostentava a coroa do supremo poder humano, cercado de legisladores e filósofos que pugnavam pela unidade política da Terra…

3 No entanto, Senhor, sabias que, além da superfície brilhante das palavras, formavam-se legiões consagradas ao aniquilamento e à morte.

4 Enquanto se erguiam as vozes do Senado, proclamando o direito, a concórdia e a dignidade humana, a Espanha pagava dolorosos tributos de sangue à pacificação; a Germânia  †  experimentava a miséria; a Grécia conhecia incêndios e devastações da conquista; a Panônia  †  chorava os lares destruídos; a Arábia tremia sob o terror; a Armênia  †  pranteava os seus filhos; a África dobrava-se sob atrozes humilhações.

5 Em Roma, os poetas teciam madrigais à beleza e os literatos homenageavam a justiça, mas, nas margens do Danúbio e do Reno, soluçavam crianças e mães desamparadas.

6 Sabemos, hoje, que a atmosfera de júbilo, reinante no mundo de então, representava fruto de tua presença santificante, e reconhecemos que os homens se embriagavam de alegria por fora, continuando, porém, por dentro, os mesmos enigmas de luz e treva, ignorância e conhecimento, impulsividade e razão. 7 Sabias, por tua vez, que eles glorificavam o respeito à dignidade pessoal e matavam-se, uns aos outros, nos circos, sob o aplauso quente da multidão; 8 reverenciavam os deuses nos templos de pedra e partiam, em seguida, integrando expedições dedicadas à rapinagem; 9 declaravam-se livres perante a lei e escravizavam-se, cada vez mais, ao império do egoísmo e da morte.

10 Não consideras, Senhor, que o quadro atual continua quase o mesmo?

11 Desde a Renascença, ouvimos lições de concórdia mundial, ensinamentos alusivos à liberdade, cânticos religiosos exaltando a fraternidade, discursos filosóficos definindo conceitos de solidariedade humana, argumentos científicos em favor da renovação social para um mundo só, onde a existência seja digna de ser vivida, mais elevada, mais feliz.

12 Todavia, enquanto os peritos diplomáticos se reúnem, solenes, mobilizando rotativas e microfones, o espírito de hegemonia domina os povos e o ódio calcina os corações.

13 Entoam-se hosanas à paz nos templos calmos e prepara-se a guerra nas fábricas febris. A discórdia doméstica e coletiva nunca foi tão complexa, agora que a Sociologia é mais pródiga em conceituação de harmonia.

14 Os homens, não contentes com o poder de matar pelo canhão e pela metralhadora, pelo gás e pela fome, descobriram a desintegração atômica, a fim de que não somente os irmãos na espécie sejam exterminados, mas também os animais e as árvores, os ninhos e os vermes, os elementos vitalizantes do ar, da água e do solo… E invocam-te a presença, antes da batalha, abençoam armas em teu nome, declaram-se teus protegidos, acionando maquinarias de arrasamento.

15 Relacionando, porém, estas verdades não desconhecemos que o teu amor infinito prossegue vigilante e que, se nenhum serviço do bem permanece despercebido diante de tua misericórdia, nenhuma interferência do mal se perpetua sem a corrigenda de tua justiça! 16 Acompanhas teu rebanho com a mesma esperança do primeiro dia, e, quando as ovelhas tresmalhadas se precipitam no despenhadeiro, ainda é a tua bondade que intervém, carinhosa, salvando-as da queda fatal. 17 Teu devotamento cresce com as nossas transgressões, e se permites que a ventania do sofrimento nos fustigue o rosto, que os golpes da guerra nos abalem as entranhas do ser, é que, Artista Divino, concedes poder ao martelo da dor, a fim de que, vibrando sobre nós, desfaça a crosta de endurecimento que nos deforma a vida, entregando-nos a temporário infortúnio estabelecido por nós mesmos, como se fôramos pedras valiosas, confiadas ao zelo de um lapidário prudente e benigno!…

18 É por este motivo, Mestre, que, inclinados sobre a recordação de teu Natal, agradecemos a luta benfeitora que nos deste, a experiência que nos permitiste, as bênçãos que renovas sobre a nossa fronte todos os dias!


19 Pastor benevolente e sábio, revela-nos o aprisco do bem!
20 Conheces os caminhos que ignoramos;
21 acendes a tocha da verdade quando as trevas da mentira se espalham em torno;
22 sabes onde se ocultam as armadilhas perigosas das margens;
23 identificas de longe a presença da tempestade;
24 tens o verbo que desperta o estímulo sadio;
25 ensinas onde se localizam os raios do farol que conduz e as chamas do incêndio que destrói;
26 curas nossas chagas sem panaceias de fantasia;
27 repreendes amando;
28 esclareces sem ferir;
29 não desprezas as ovelhas quebrantadas, nem abandonas as que ouviram o convite sedutor dos lobos escondidos na sombra!…


30 Sê abençoado, Senhor, nos séculos dos séculos, pela eternidade de teu amor, pela grandeza de teu trabalho, pela serenidade de tua sublime esperança.

31 E permite que nós, prosternados em espírito, ante a lembrança de tua manjedoura desprotegida, possamos regressar às bases simples e humildes da vida, continuando nosso trabalho redentor, após repetir com o velho Simeão, encanecido nas inquietantes experiências do mundo:
— “Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois já os nossos olhos viram a salvação”. ( † )


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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