O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Alvorada Cristã — Neio Lúcio


20

O elogio da abelha

1 Grande mosca verde-azul, mostrando envaidecida as asas douradas pelo sol, penetrou uma sala e encontrou uma abelha humilde a carregar pequena provisão de recursos para o mel.

2 A mosca arrogante aproximou-se e falou, vaidosa:

— Onde surges, todos fogem. Não te sentes indesejável? Teu aguilhão é terrível.

— Sim, — disse a abelha com desapontamento, — creia que sofro muitíssimo quando sou obrigada a interferir. Minha defesa é, quase sempre, também a minha morte.

3 — Mas não podes viver com mais distinção e delicadeza? — Tornou a mosca, — porque ferretoar, a torto e a direito?

— Não, minha amiga, — esclareceu a interlocutora, — não é bem assim. Não sinto prazer em perturbar. Vivo tão somente para o trabalho que Deus me confiou, que representa benefício geral. E, quando alguém me impede a execução do dever, inquieto-me e sofro, perdendo, por vezes, a própria vida.

4 — Creio, porém, que se tivesses diferentes modos… se polisses as asas para que brilhassem à claridade solar, se te vestisses em cores iguais às minhas, talvez não precisasses alarmar a ninguém. Pessoa alguma te recearia a intromissão.

— Ah! não posso despender muito tempo em tal assunto, — alegou a abelha criteriosa. — O serviço não me permite a apresentação exterior muito primorosa, em todas as ocasiões. A produção de mel indispensável ao sustento de nossa colmeia, e necessária a muita gente, não me oferece ensejo a excessivos cuidados comigo mesma.

5 — Repara! — Disse-lhe a mosca, desdenhosa, — tuas patas estão em lastimável estado…

— Encontro-me em serviço, — explicou-se a operária humildemente.

— Não! Não! — Protestou a outra, — isto é monturo e relaxamento.

6 E limpando caprichosamente as asas, a mosca recuou e aquietou-se, qual se estivesse em observação.

Nesse instante, duas senhoras e uma criança penetraram o recinto e, notando a presença da abelha que buscava sair ao encontro de companheiras distantes, uma das matronas gritou, nervosa:

— Cuidado! Cuidado com a abelha! Fere sem piedade!.

7 A pequenina trabalhadora alada dirigiu-se para o campo e a mosca soberba passou a exibir-se, voando despreocupada.

— Que maravilha! — Exclamou uma das senhoras.

— Parece uma joia! — Disse a outra.

8 A mosca preguiçosa planou… planou… e, encaminhando-se para a copa, penetrou o guarda-comida, deitando varejeiras na massa dos pastéis e em pratos diversos que se preparavam para o dia seguinte. Acompanhou a criança, de maneira imperceptível, e pousou-lhe na cabeça, envenenando certa região que se achava ligeiramente ferida.

9 Decorridas algumas horas, sobravam preocupações para toda a família. A encantadora mosca verde-azul deixara imundície, veneno e enfermidade por onde passara.


10 Quantas vezes sucede isto mesmo, em plena vida?

Há criaturas simples, operosas e leais, de trato menos agradável, à primeira vista, que, à maneira da abelha, sofrem sarcasmos e desapontamentos para bem cumprir a obrigação que lhes cabe, em favor de todos; e há muita gente de apresentação deliciosa e brilhante, quanto a mosca, que, depois de seduzir-nos a atenção pela beleza da forma, nos deixa apenas as larvas da calúnia, da intriga, da maldade, da revolta e do desespero no pensamento.


Neio Lúcio


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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