O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Alvorada Cristã — Neio Lúcio


9

O ricaço distraído

1 Existiu um homem devoto que chegou ao Céu e, sendo recebido por um Anjo do Senhor, implorou, enlevado:

— Mensageiro Divino, que devo fazer para vir morar, em definitivo, ao lado de Jesus?

2 — Faze o bem, — informou o Anjo, — e volta mais tarde.

— Posso rogar-te recursos para semelhante missão?

— Pede o que desejas.

— Quero dinheiro, muito dinheiro, para socorrer o meu próximo.

3 O emissário estranhou o pedido e considerou:

— Nem sempre o ouro é o auxiliar mais eficiente para isso.

— Penso, contudo, meu santo amigo, que, sem o ouro, é muito difícil praticar a caridade.

— E não temes as tentações do caminho?

— Não.

4 — Terás o que almejas, — afirmou o mensageiro, — mas não te esqueças de que o tesouro de cada homem permanece onde tem o coração, ( † ) porque toda alma reside onde coloca o pensamento. 5 Tuas possibilidades materiais serão multiplicadas. No entanto, não olvides que as dádivas divinas, quando retidas despropositadamente pelo homem, sem qualquer proveito para os semelhantes, transformam-no em prisioneiro delas. 6 A lei determina sejamos escravos dos excessos a que nos entregarmos.

7 Prometeu o homem exercer a caridade, servir extensamente e retornou ao mundo.

8 Os Anjos da Prosperidade começaram, então, a ajudá-lo.

Multiplicaram-lhe, de início, as peças de roupa e os pratos de alimentação; todavia, o devoto já remediado suplicou mais roupas e mais alimentos. 9 Deram-lhe casa e haveres. Longe, contudo, de praticar o bem, considerava sempre escassos os dons que possuía e rogou mais casas e mais haveres. 10 Trouxeram-lhe rebanhos e chácaras, mas o interessado em subir ao paraíso pela senda da caridade, temendo agora a miséria, implorou mais rebanhos e mais chácaras. 11 Não cedia um quarto, nem dava uma sopa a ninguém, declarando-se sem recursos para auxiliar os necessitados e esperava sempre mais, a fim de distribuir algum pão com eles. No entanto, quanto mais o Céu lhe dava, mais exigia do Céu.

12 De espontâneo e alegre que era, passou a ser desconfiado, carrancudo e arredio.

13 Receando amigos e inimigos, escondia grandes somas em caixa forte, e quando envelheceu, de todo, veio a morte, separando-o da imensa fortuna.

14 Com surpresa, acordou em Espírito, deitado no cofre grande.

15 Objetos preciosos, pedaços de ouro e prata e vastas pilhas de cédulas usadas serviam-lhe de leito. Tinha fome e sede, mas não podia servir-se das moedas; queria a liberdade, porém, as notas de banco pareciam agarrá-lo, à maneira do visco retentor de pássaro cativo.

16 — Santo Anjo! — Gritou, em pranto, — vem! Ajuda-me a partir, em direção à Casa Celestial!…

17 O mensageiro dignou-se baixar até ele e, reparando-lhe o sofrimento, exclamou:

— É muito tarde para súplicas! Estás sufocado pela corrente de facilidades materiais que o Senhor te confiou, porque a fizeste rolar tão somente em torno de ti, sem qualquer benefício para os irmãos de luta e experiência…

18 — E que devo fazer, — implorou o infeliz para retomar a paz e ganhar o paraíso?

19 O Anjo pensou, pensou… e respondeu:

— Espalha com proveito as moedas que ajuntaste inutilmente, desfaze-te da terra vasta que retiveste em vão, entrega à circulação do bem todos os valores que recebeste do Tesouro Divino e que amontoaste em derredor de teus pés, atendendo ao egoísmo, à vaidade, à avareza e à ambição destrutiva e, depois disso, vem a mim para retomarmos o entendimento efetuado há sessenta anos…

20 Reconhecendo, porém, o homem que já não dispunha de um corpo de carne para semelhante serviço, começou a gritar e blasfemar, como se o inferno estivesse morando em sua própria consciência.


Neio Lúcio


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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