O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano X — Março de 1867.

(Idioma francês)

DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.


Respeito devido às crenças passadas.

(Paris,  †  Grupo Delanne, 4 de fevereiro de 1867. – Médium: Sr. Morin.)

A fé cega é o pior de todos os princípios! Crer com fervor num dogma qualquer, quando a sã razão se recusa a aceitá-lo como uma verdade, é fazer ato de nulidade e privar-se voluntariamente do mais belo de todos os dons que nos concedeu o Criador; é renunciar à liberdade de julgar, ao livre-arbítrio que deve presidir a todas as coisas na medida da justiça e da razão.

Geralmente os homens são negligentes e não creem numa religião senão por desencargo de consciência e para não rejeitar inteiramente as boas e doces preces que embalaram a sua juventude e que sua mãe lhes ensinou ao pé do fogo, quando a noite trazia consigo a hora do sono. Mas se esta lembrança por vezes se apresenta ao seu espírito, é, no mais das vezes, com um sentimento de pesar que eles fazem um retorno a esse passado, onde as preocupações da idade madura ainda estavam mergulhadas na noite do futuro.

Sim, todo homem tem saudade desta idade despreocupada e pouquíssimos podem pensar em seus jovens anos!… Mas, que deles resta um instante depois?… – Nada!…

Comecei dizendo que a fé cega era perniciosa; mas nem sempre se deve rejeitar como essencialmente mau tudo quanto parece manchado de abuso, composto de erros e, sobretudo, inventado à vontade, para a glória dos orgulhosos e benefício dos interessados.

Espíritas, deveis saber melhor que ninguém que nada se realiza sem a vontade do Senhor supremo; cabe a vós refletir antes de formular o vosso julgamento. Os homens são vossos irmãos encarnados e é possível que numerosos trabalhos dos tempos antigos sejam obras vossas, realizadas numa existência anterior. Os espíritas devem, antes de tudo, ser lógicos com seu ensino e não atirar pedra às instituições e às crenças de outros tempos, só porque são de outra época. A sociedade atual precisou, para ser o que é, que Deus lhe concedesse, pouco a pouco, a luz e o saber.

Não vos cabe, pois, julgar se os meios empregados por ele eram bons ou maus. Não aceiteis senão o que vos pareça racional e lógico; mas não vos esqueçais de que as coisas velhas tiveram a sua juventude e que o que ensinais hoje se tornará velho por sua vez. Respeito, pois, à velhice! Os velhos são vossos pais, como as coisas velhas foram precursoras das coisas novas. Nada envelhece, e se faltais a esse princípio por tudo o que é venerável, faltais ao vosso dever, mentis à doutrina que professais.

As velhas crenças elaboraram a renovação que começa a realizar-se!… Todas, conquanto não fossem exclusivamente materiais, possuíam uma centelha da verdade. Lamentai os abusos que se introduziram no ensino filosófico, mas perdoai os erros de outra época, se, por vossa vez, quiserdes ser desculpados pelos vossos, ulteriormente. Não deis vossa fé ao que vos parece mau, mas não creiais também que tudo quanto hoje vos é ensinado seja expressão da verdade absoluta. Crede que em cada época Deus alarga os horizontes dos conhecimentos, em razão do desenvolvimento intelectual da Humanidade.


Lacordaire. n



[1] [v. Lacordaire.]


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