O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano IV — Novembro de 1861.

(Idioma francês)

Poesias do momento.

Ditadas pelo Sr. Dombre (de Marmande), vindo a Bordeaux  †  para esta solenidade.
(Sumário)

1. OS CAMPONESES E O CARVALHO.


FÁBULA.
Ao Sr. Allan Kardec.

Os abusos têm campeões ocultos mais perigosos que os adversários declarados, e a prova disto é a dificuldade que se tem de os arrancar. Allan Kardec (O que é o Espiritismo).


Um dia honestos camponeses

De pé ante um carvalho enorme, fronde imensa,

O mensuravam muitas vezes.

- É em vão, um deles diz, que tal semente intensa

Germine em sulcos tais virados e adubados.

Não cresce nada; adubo e seiva consumados

São pela ramaria, essa espessa folhagem.

Fazer gostos assim é bem triste bobagem.

Esta árvore deixar que torne pobre o chão,

Que nos consuma o suor e esterilize o grão.

Irmãos, se me quiserdes crer

Nós livraremos nosso campo

Da incômoda presença… e isso… num tranco!

À obra! Gritam com prazer.

Estavam todos muito ardentes;

Uma corda é amarrada em cima no carvalho,

Formando uma cadeia em forte galho

Cujos anéis uniam-se potentes.

A folhagem treme e farfalha,

Mas é tudo… Eles vão se agitar, se estafar

A fim da tortuosa e robusta ramalha,

Que enfim não se deixa abalar.

Alguém sensato da região,

Um bom velho lhes diz ao passar: Meus meninos,

A vossa messe é perdida, então,

Dos ramos em proveito e desses grãos franzinos,

Destruí-os… é bom… Posso entender;

Mas a árvore abater coisa fácil não é;

Para dobrar tal carvalhaço

Em força é fraco o vosso braço;

A idade enrija o corpo e não se faz render.

Fazei menos ruidoso o assalto e mais terrível

A esse colosso vigoroso;

Séculos já se vão por seu cascão nodoso;

Empregai dias a miná-lo, isso é possível.

Descobri-lhe a raiz, sugadora, felina

E levareis a morte ao ramalhal confuso.

Não podendo de um golpe extinguir um abuso

Busca em seu fundamento a oportuna ruína.


C. Dombre.


2. O OURIÇO, O COELHO E A PÊGA.


FÁBULA.
Aos membros da Sociedade Espírita de Bordeaux.

A caridade, meus amigos, é feita de muitas maneiras: podeis fazer a caridade por pensamentos, palavras e obras… (O Espírito protetor da Sociedade Espírita de Lyon — Revista Espírita de outubro de 1861).


Um pobre ouriço ao ser posto fora da toca,

Rolava pelo campo em meio aos espinheiros,

De algum petiz aos golpes mais certeiros,

Que em sangue o abandona e quase que o sufoca.

Ele eriça, tremendo, a armadura espinhenta,

Espicha-se, lançando em volta oculto olhar,

E sem perigo já, lamenta

Numa voz débil, a chorar:

Para onde vou?… Fugir?… Voltar ao velho abrigo

Acima está do meu querer.

Já nem posso prever qual o perigo

Pior que me ameaça… É forçoso morrer?…

Preciso de um refúgio e um pouco de repouso

Para sarar minhas feridas;

Mas, aonde achar quaisquer guaridas?

Quem de meus males é piedoso?

Num coelho que habitava entre lascas de rocha

E para quem a caridade,

Não sendo um termo vão, sensível desabrocha

E lhe diz – Meu amigo, aceitai a metade

De meu modesto abrigo; estou bem nesse asilo,

Nele estareis seguro; é difícil, já vi,

De achar o vosso rastro, com maldade.

Podeis aqui estar tranquilo:

Atenção junto a mim sempre tereis, ali.

Ante essa oferta tão graciosa,

O ouriço segue a passo lento,

Quando uma pega obsequiosa,

Faz um sinal ao coelho: – Esperai um momento,

Eu peço… uma palavra… é um breve caso…

E depois ao ouriço: – É um pequeno segredo…

Perdoai-me, quando nada pelo atraso!

E o bom coelho, todo quedo,

- As orelhas a erguer pede a ela fale baixo.

Como! Levardes vós a casa uma tal gente!…

Sede prudente mais no trato com os de baixo!

Nunca eu faria tal tolice tão patente!

Eu… Mas não receais de vos arrepender?

Uma vez com saúde e forças redobradas,

Quem sabe sejais vós o primeiro a sofrer

Com o seu mau coração e as farpas aceradas;

E a que meios, então, tereis a recorrer?

O coelho respondeu: – Nenhuma inquietação

Não nos deve afastar de impulsos benfeitores;

Vale bem mais expor-se a uma ingratidão,

Do que faltar aos sofredores!


C. Dombre.


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