O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano III — Novembro de 1860.

(Idioma francês)

DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.

Recebidas ou lidas na Sociedade por vários médiuns.

Um irmão morto à sua irmã viva.

(Médium – Sra. Schmidt.)

Minha irmã, tu pouco me evocas. Isto não me impede de vir ver-te todos os dias. Conheço teus aborrecimentos; tua vida é penosa, bem o sei, mas importa sofrer a sorte nem sempre alegre. Todavia, há por vezes um alívio nas penas. Aquele, por exemplo, que faz o bem à custa da própria felicidade, pode, por si mesmo e pelos outros, afastar o rigor de muitas provas.

Neste mundo é raro ver-se fazer o bem com essa abnegação; certamente é difícil, mas não impossível, e os que têm essa sublime virtude são, em verdade, os eleitos do Senhor. Se nos déssemos bem conta dessa pobre peregrinação na Terra, haveríamos de o compreender. Mas assim não é: Os homens se agarram aos bens, como se devessem ficar sempre em seu exílio. Entretanto, o mais vulgar bom-senso, a mais simples lógica demonstram, diariamente, que aqui não passamos de aves de arribação e os que têm menos penas nas asas são os que chegam mais depressa.

Minha boa irmã, para que serve ao rico todo esse luxo, todo esse supérfluo? Amanhã estará despojado de todos esses vãos ouropéis a fim de descer ao túmulo, para onde nada levará. É verdade que fez uma bela viagem; nada lhe faltou, não sabia mais o que desejar e esgotou as delícias da vida. Também é certo que, em seu delírio, algumas vezes lançou, sorrindo, a esmola nas mãos de seu irmão; mas terá, por isso, retirado algo da boca? Não, porquanto não se privou de um só prazer, de uma única fantasia. Contudo, esse irmão é um filho de Deus, nosso pai comum, a quem tudo pertence. Compreendes, minha irmã, que um bom pai não deserda um de seus filhos para tornar mais rico o outro? Daí por que recompensará o que foi privado de sua parte nesta vida.

Assim, pois, os que se julgam deserdados, abandonados e esquecidos, alcançarão em breve a margem bendita, onde reinam a justiça e a felicidade. Mas infelizes dos que fizeram mau uso dos bens que nosso Pai lhes confiou! Infeliz, também, o homem favorecido com o dom tão precioso da inteligência, se dela abusou! Acredita-me, Maria, quando se crê em Deus nada existe na Terra que se possa invejar, a não ser a graça de praticar suas leis.


Teu Irmão, Wilhelm.


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