O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano III — Dezembro de 1860.

(Idioma francês)

DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.

Dissertações Espíritas recebidas ou lidas na Sociedade por diversos médiuns.

Alfred de Musset.

(Médium – Srta. Eugénie.)
(Sumário)

1. — Na sessão da Sociedade do dia 23 de novembro, um Espírito comunicou-se espontaneamente, escrevendo o seguinte:

Como desejo, antes de tudo, vos ser agradável, pergunto de que tema quereis que eu trate. Se tiverdes um assunto, perguntai. Enfim, Senhores, sou sempre o vosso dedicado,

Alfred de Musset. n


— Sendo vossa visita imprevista, não temos um assunto preparado. Pedimos, pois, que vos digneis de tratar um à vossa escolha. Seja qual for, ficaremos muito reconhecidos.

— Tendes razão. Sim, porque meu Espírito, em particular, e nós todos, em geral, conhecemos melhor as vossas necessidades e melhor podemos escolher as comunicações, do que faríeis vós mesmos.

“De que vou tratar? Sinto-me assaz embaraçado em meio a tantos assuntos interessantes. Comecemos por falar daqueles que desejam ardentemente ser espíritas, mas que parecem recuar diante do que julgam uma apostasia. Falemos, pois, para os que recuariam ante a ideia de se acharem em contradição com o catolicismo. Ouvi bem, digo catolicismo e não Cristianismo.

Temeis renegar a fé de vossos pais? Erro! Vossos pais, os primeiros, os que fundaram essa religião sublime em sua origem, eram mais espíritas do que vós; pregavam a mesma doutrina que hoje vos ensinam. E quem diz: Espiritismo, como vossa religião, diz: caridade, bondade, esquecimento e perdão das injúrias. Como o catolicismo, ele vos ensina a abnegação de si mesmo. Podeis, pois, consciências timoratas, reuni-los e vir, sem escrúpulo, sentar-vos a esta mesa e conversar com os seres de quem sentis saudade. Como vossos pais, sede caridosos, bons, compassivos, e no fim da estrada tereis todos o mesmo lugar; no fim do caminho, a balança que pesará vossas ações terá os mesmos pesos e a obra o mesmo valor. Vinde sem temor, eu vos peço; vinde, mulheres graciosas, com o coração cheio de ilusões; vinde aqui, e estas serão substituídas por realidades mais belas e mais radiosas; vinde, esposa de coração duro, que sofreis a vossa aridez, aqui está a água que amolece a rocha e estanca a sede; vinde, mulheres amantes, que em toda a vossa vida aspirais à felicidade, que medis a profundidade de vosso coração e desesperais de preenchê-la; vinde, mulher de inteligência ávida, vinde: aqui a ciência corre clara e pura; vinde beber nesta fonte que rejuvenesce. E vós, velhos, que vos curvais, vinde e rireis na face de toda essa juventude que vos desdenha, porque, para vós, se abrem as portas do santuário, para vós o nascimento vai recomeçar e trazer a felicidade de vossos primeiros anos; vinde, e nós vos faremos ver os irmãos que vos estendem os braços e vos esperam; vinde, pois, todos, porque para todos há consolações.

Vede que me presto de boa vontade; disponde de mim e me dareis prazer.”


2. — Aproveitando a boa vontade do Espírito de Alfred de Musset, foram-lhe dirigidas as seguintes perguntas:


Qual será a influência da poesia no Espiritismo?

Resposta. – A poesia é o bálsamo que se aplica sobre as chagas. A poesia foi dada aos homens como o maná celeste,  †  e todos os poetas são médiuns que Deus enviou à Terra para regenerar um pouco o seu povo e não deixar que se embruteçam completamente. Pois o que haverá de mais belo, que mais fale à alma que a poesia?


A pintura, a escultura, a. arquitetura, a poesia foram, sucessivamente, influenciadas pelas ideias pagãs e cristãs. Podeis dizer se, depois das artes pagã e cristã, haverá um dia a arte espírita?

Resposta. – Fazeis uma pergunta que se responde por si mesma: o verme é verme, torna-se bicho da seda, depois borboleta. Que há de mais etéreo, de mais gracioso que uma borboleta? Pois bem! A arte pagã é o verme; a arte cristã o casulo; a arte espírita será a borboleta.


(A respeito vide o artigo anterior sobre a arte pagã, a arte cristã e a arte espírita).


Qual a influência da mulher no século dezenove?


Nota. – Esta pergunta foi feita por um jovem, estranho à Sociedade.


Resposta. – Ah! é o progresso. E é um jovem quem faz a pergunta; magnífico; eu mesmo seria muito amador para não deixar de responder, e estou certo de que todos o desejam também.


A influência da mulher no século dezenove! Acreditais que ela tenha esperado esta época para que continueis a dominá-la, pobres e fracos homens que sois? Se tentastes aviltá-la, foi porque a temíeis; se tentastes abafar a sua inteligência, foi porque receastes a sua influência. Somente em seu coração não pudestes opor barreiras. E como o coração é o presente que Deus lhe deu em particular, continuou senhor e soberano. Mas eis que a mulher também se faz borboleta: ela quer sair de seu casulo; quer reconquistar seus direitos divinos; como aquela, lança-se na atmosfera e dir-se-ia que respira o ar em seu justo valor. Não julgueis que eu as queira transformar em eruditas, letradas, poetisas. Não; mas eu quero, querem aqui, no mundo em que habito, que aquela que deve elevar a Humanidade seja digna de seu papel; que aquela que deve formar os homens comece a se conhecer a si mesma e, para lhes infiltrar desde tenra idade o amor do belo, do grande, do justo, é necessário que ela possua esse amor num grau superior, é preciso que o compreenda. Se o agente educador por excelência for reduzido ao estado de nulidade, a sociedade vacilará. É o que deveis compreender no século dezenove.



[1] [v. Alfred de Musset.]


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