O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano II — Outubro de 1859.

(Idioma francês)

Sociedade Espírita no século XVIII.

Ao Senhor Presidente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

Senhor Presidente,

“Não é de 1853, época em que os Espíritos começaram a manifestar-se pelo movimento das mesas e por pancadas, que data o restabelecimento das evocações. No histórico do Espiritismo, que lemos em vossas obras, não mencionais uma Sociedade como a nossa, cuja existência, com grande surpresa minha, foi revelada por Mercier,  †  em seu Tableau de Paris — Google Books, edição de 1788, no capítulo intitulado Spiritualistes, 12º volume. Eis o que ele diz:

“Por que a Teologia, a Filosofia e a História mencionam várias aparições de Espíritos, de gênios ou de demônios? A crença de uma parte da Antiguidade era a de que cada homem tinha dois Espíritos: um bom, que convidava à virtude, e outro mau, que incitava ao mal.

“Uma seita nova acredita no retorno dos Espíritos a este mundo. Ouvi várias pessoas que estavam realmente persuadidas de que há meios para os evocar. Estamos rodeados por um mundo que não percebemos. À nossa volta estão seres dos quais não fazemos a menor ideia; dotados de uma natureza intelectual superior, eles nos veem. Não há vazio no Universo: eis o que asseguram os adeptos da ciência nova.

“Assim, a volta das almas dos mortos, aceita em toda a Antiguidade, de que zombava a nossa filosofia, é hoje aceita por homens que não são nem ignorantes, nem supersticiosos. Todos esses Espíritos, aliás chamados na Escritura os Príncipes do Ar, estão sempre sob as ordens do Senhor da Natureza. Aristóteles diz que os Espíritos aparecem frequentemente aos homens por necessitarem uns dos outros. Não me refiro aqui senão ao que nos dizem os partidários da existência dos gênios.

“Se acreditamos na imortalidade da alma precisamos admitir que essa multidão de Espíritos pode manifestar-se depois da morte. Entre essa imensidade de prodígios de que estão cheios todos os países da Terra, se ocorrer um só, a incredulidade será um contrasenso. Creio, portanto, que não haveria menos temeridade em negar do que em sustentar a verdade das aparições. Estamos num mundo desconhecido.”


Não se poderá acusar Mercier de incredulidade e de ignorância. No extrato que precede vemos que não rejeita a priori as manifestações dos Espíritos, conquanto não tenha tido ocasião de as testemunhar. Entretanto, como homem prudente, adiava seu julgamento até maiores informações. A propósito do já havia dito: “Isto é tão misterioso, tão profundo e tão inacreditável que devemos rir, ou cair de joelhos. Eu não faço nem uma coisa, nem outra: observo e espero.

Seria interessante saber por que essas evocações, retomadas em 1788, foram interrompidas até 1853. Teriam os membros da Sociedade, que delas se ocupavam, perecido durante a Revolução? É lamentável que Mercier não tenha revelado o nome do presidente daquela Sociedade.

Recebei, etc.

Det…

Membro titular da Sociedade.


Observação. – O fato relatado por Mercier tem uma importância capital e um alcance que ninguém poderá desconhecer. Prova, já naquela época, que homens apreciáveis por sua inteligência ocupavam-se seriamente com a ciência espírita. Quanto à causa que levou à extinção dessa Sociedade, é provável que as perturbações que se seguiram tiveram um grande papel em tudo isso; mas não é exato dizer que as evocações foram interrompidas até 1853. É verdade que em torno dessa época as manifestações tiveram um maior desenvolvimento, mas está provado que elas jamais cessaram. Em 1818 tivemos em mãos uma notícia manuscrita sobre a Sociedade dos Teósofos, que existia no começo deste século e que pretendia, através do recolhimento e da prece, entrar em comunicação com os Espíritos; era, provavelmente, a continuação da Sociedade de que nos fala Mercier. Desde o ano 1800 o célebre Abade Faria, de acordo com um cônego seu amigo, antigo missionário no Paraguai, ocupava-se da evocação e obtinha comunicações escritas. Todos os dias ficávamos sabendo que certas pessoas as obtinham em Paris, muito antes que se cogitasse dos Espíritos na América. Mas é preciso dizer também que antes dessa época todos aqueles que possuíam semelhante conhecimento faziam mistério; hoje, que é do domínio público, ele se vulgariza, eis toda a diferença. Se fosse uma quimera não se teria implantado em alguns anos nos cinco continentes; o bom-senso já lhe teria feito justiça, precisamente porque cada um está em condições de ver e de compreender. Certamente ninguém contestará o progresso que essas ideias fazem diariamente, e isso nas camadas mais esclarecidas da sociedade. Ora, uma ideia que demanda o raciocínio, que cresce e se plenifica pela discussão e pelo exame, não tem as características de uma utopia.


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