O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O que é o Espiritismo.

(Primeira versão.)
(Idioma francês)

Capítulo primeiro.


PEQUENA CONFERÊNCIA ESPÍRITA.


SEGUNDO DIÁLOGO. — O CÉTICO.
(Sumário)


Meios de comunicação.


18. O Visitante. — Falastes dos meios de comunicação; poderíeis dar-me uma ideia disso? É difícil compreender como esses seres invisíveis podem conversar conosco.


A. K. — Com muito prazer. Vou fazê-lo, contudo, de forma resumida, porque isto exigiria prolongado desenvolvimento, que encontrareis minuciosamente em O Livro dos Médiuns. Mas o pouco que eu vos disser bastará para facilitar-vos a compreensão do mecanismo e servirá, sobretudo, para vos dar uma ideia de algumas das experiências a que podereis assistir antes de começar a vossa iniciação.

A existência desse envoltório semimaterial, ou perispírito, já é uma chave para a explicação de muitas coisas e mostra a possibilidade de certos fenômenos. Quanto aos meios, são muito variados e dependem tanto da natureza, mais ou menos depurada dos Espíritos, quanto das disposições peculiares às pessoas que lhes servem de intermediárias. O mais wlgar, o que se pode chamar universal, consiste na intuição, isto é, nas ideias e pensamentos que eles nos sugerem; trata-se, porém, de um meio pouco apreciável, na generalidade dos casos; existem outros mais materiais.

Certos Espíritos se comunicam por pancadas, respondendo por sim ou por não, ou designando as letras que devem formar as palavras. As pancadas podem ser obtidas pelo movimento de oscilação de um objeto, de uma mesa, por exemplo, que bate com o pé. Muitas vezes elas são ouvidas na própria substância dos corpos, sem que estes se movimentem. Esse modo primitivo é demorado e dificilmente se presta a comunicações de certo desenvolvimento; foi substituído pela escrita, a qual é obtida de diferentes maneiras.

Serviu-se no começo, e algumas vezes ainda se serve, de um objeto móvel, como uma prancheta, uma cestinha, uma caixa, ao qual se adapta um lápis, cuja ponta pousa sobre o papel. A natureza e a substância do objeto são indiferentes. O médium coloca as mãos sobre esse objeto, ao qual transmite a influência que recebe do Espírito, e o lápis traça as letras. O objeto assim empregado não é, propriamente falando, mais que um apêndice da mão, uma espécie de porta-lápis. Contudo, logo se reconheceu a inutilidade desse intermediário, que não passa de uma complicação do processo da escrita, e cujo único mérito está em demonstrar, de modo mais palpável, a independência do médium. Este último pode escrever, segurando ele mesmo o lápis.

Os Espíritos manifestam-se ainda e podem transmitir seus pensamentos por meio de sons articulados, que vibram no ar e são ouvidos; pela voz do médium, pela vista, por desenhos, pela música e por outros meios que um estudo completo torna conhecidos. Os médiuns possuem, para esses diferentes modos de comunicação, aptidões especiais que dependem de seu organismo. Assim, temos médiuns de efeitos físicos, isto é, aptos para produzir fenômenos materiais, como pancadas, movimentos de corpos, etc.; médiuns audientes, falantes, videntes, desenhistas, músicos, escreventes. Esta última faculdade é a mais comum, a que melhor se desenvolve pelo exercício e também a mais preciosa, por ser a que permite comunicações mais extensas e mais rápidas.

O médium escrevente apresenta numerosas variedades, das quais duas são muito distintas. Para compreendê-las, é necessário saber-se o modo pelo qual se opera o fenômeno. O Espírito atua algumas vezes diretamente sobre a mão do médium, à qual dá um impulso totalmente independente da vontade deste, e sem que ele tenha consciência do que escreve: é o médium escrevente mecânico. Outras vezes, atuando sobre o cérebro do médium, seu pensamento se comunica com o deste que, então, embora escrevendo de modo involuntário, tem consciência mais ou menos nítida do que obtém: é o médium intuitivo; seu papel é exatamente o de um intérprete, que transmite um pensamento que não é o seu e que, apesar disso, ele deve compreender. Ainda que, neste caso, o pensamento do Espírito e o do médium se confundam algumas vezes, a experiência ensina a distingui-los facilmente. Obtém-se comunicações igualmente boas por esses dois gêneros de médiuns; a vantagem dos que são mecânicos é proveitosa principalmente para as pessoas que ainda não estão convencidas. Acresce notar que a qualidade essencial de um médium está muito mais na natureza dos Espíritos que o assistem e nas comunicações que ele recebe, do que nos meios de execução.


19. O Visitante. — O processo parece-me dos mais simples. Eu mesmo poderia experimentá-lo?


A. K. — Perfeitamente. E digo mais: se possuirdes a faculdade mediúnica, tereis o melhor meio de vos convencer, porque não podeis duvidar da vossa boa-fé. Aconselho-vos, contudo, a não tentar ensaio algum antes de acurado estudo. As comunicações do além-túmulo são cercadas de mais dificuldades do que se pensa; elas não estão isentas de inconvenientes e, mesmo, de perigos, para os que não têm a necessária experiência. É o mesmo que aconteceria àquele que, sem saber química, tentasse fazer manipulações químicas. Correria o risco de queimar os dedos.


20. O Visitante. — Haverá algum sinal pelo qual se possa reconhecer a posse dessa aptidão?


A. K. — Até agora não se conhece nenhum diagnóstico para a mediunidade; todos os que julgamos descobrir são destituídos de valor; experimentar é o único meio de saber se a faculdade existe. Além disso, os médiuns são muito numerosos e, quando nós próprios não o sejamos, é raríssimo não se encontrar um deles em algum membro da nossa família, ou nas pessoas que nos cercam. O sexo, a idade e o temperamento são indiferentes; eles aparecem entre os homens e mulheres, entre crianças, velhos, doentes e pessoas sadias.

Se a mediunidade se traduzisse por um sinal exterior qualquer, isto implicaria a permanência da faculdade, ao passo que ela é essencialmente móvel e fugidia. Sua causa física está na assimilação, mais ou menos fácil, dos fluidos perispiríticos do encarnado e do Espírito desencarnado; sua causa moral está na vontade do Espírito que se comunica, quando isto lhe apraz, e não na nossa vontade, donde resulta: 1º que nem todos os Espíritos podem comunicar-se indiferentemente por todos os médiuns; 2º que todo médium pode perder ou ver interrompida a sua faculdade, e isto quando ele menos espera.

Como vedes, senhor, bastam estas poucas palavras para mostrar que há nisso todo um estudo sério a fazer-se, a fim de que alguém possa inteirar-se das variações que esse fenômeno apresenta. Seria, pois, um erro crer que todo Espírito possa vir responder ao chamado que lhe é feito, e se comunicar pelo primeiro médium que apareça. Para que um Espírito se comunique, é preciso: 1º que lhe convenha fazê-lo; 2º que sua posição ou suas ocupações lho permitam; 3º que encontre no médium um instrumento apropriado à sua natureza.

Em princípio, podemos comunicar-nos com os Espíritos de todas as categorias, com os nossos parentes e amigos, com os mais elevados como com os mais vulgares; porém, independentemente das condições individuais de possibilidade, eles vem mais ou menos de boa vontade segundo as circunstâncias e, sobretudo, segundo a sua simpatia pelas pessoas que os chamam, e não pelo pedido do primeiro que tenha a pretensão de evocá-los por mero sentimento de curiosidade; se, quando na Terra, eles não se incomodavam com tais criaturas, também não se incomodarão depois da morte.

Os Espíritos sérios só comparecem às reuniões sérias, às quais são chamados com recolhimento e por motivos sérios; não se prestam a responder perguntas de curiosidade, de prova, ou com um fim fútil, nem também à experiência alguma.

Os Espíritos levianos vão a toda parte; calam-se, porém, nas reuniões sérias e se conservam afastados para escutar, como fariam estudantes numa assembleia de pessoas cultas. Nas reuniões frívolas eles se divertem, zombam dos assistentes e respondem a tudo sem se importarem com a verdade.

Os Espíritos ditos batedores e, geralmente, todos os que produzem manifestações físicas, são de ordem inferior, sem por isso serem essencialmente maus; possuem uma aptidão, de alguma sorte especial, para os efeitos materiais. Os Espíritos superiores não se ocupam com essas coisas, assim como os sábios da Terra não se entregam a exercícios de força muscular; quando aqueles precisam que tais efeitos se deem, lançam mão de Espíritos atrasados, como nós nos servimos de trabalhadores sem qualificação intelectual para os serviços pesados.


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